Coletânea destaca a usina criativa, política e humana de Marcio Meirelles

Lançamento do livro faz parte do 33° Festival de Livros e Autores da UFBA

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  • Laura Fernades

Publicado em 11 de maio de 2021 às 05:00

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: Foto: Ananda Brasileiro/Divulgação
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São mais de 100 espetáculos em 45 anos de história. Uma produção inquieta, questionadora, incessante. Marcio Meirelles “nunca dá uma pausa, nunca deixa o teatro, ele se confunde com o teatro” afirma o professor da Escola de Teatro da UFBA, Paulo Henrique Alcântara, que organiza o livro Poéticas de Marcio Meirelles (Edufba | 246 páginas | R$ 35) junto com o professor e jornalista Marcos Uzel.

Lançamento que faz parte do 33° Festival de Livros e Autores da UFBA, a coletânea reúne artigos sobre a produção artística de um dos diretores mais importantes do teatro baiano e brasileiro. Nome que criou o Bando de Teatro Olodum e foi responsável pela retomada do Teatro Vila Velha nos anos 1990, Marcio é retratado como um “homem de teatro inquieto, criativamente compulsivo, apaixonado e indignado”, nas palavras de Uzel.

É também descrito como um “criador em constante ebulição”, na opinião de Paulo. “Marcio não cessa de criar. É um encenador que está interligado ao teatro o tempo todo. É desses artistas que se confundem com a própria arte. Não é alguém que faz algo para o teatro, ele é o próprio teatro tal a intensidade, a produtividade, a constância, a alta voltagem com que se dedica ao teatro baiano”, enaltece.

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O leitor vai encontrar, no livro que tem prefácio de Luiz Marfuz, 15 espetáculos dos mais de 100 que compõem a trajetória de Marcio, “pois seria impossível abraçar o universo criativo desse diretor, autor, cenógrafo e figurinista num só livro”, explica Uzel. Marcos importantes de sua carreira são destacados nos artigos escritos por pesquisadores, professores, jornalistas e artistas, como Cleise Mendes, Hebe Alves, George Mascarenhas e Meran Vargens.

Diversidade Entre eles, estão o trabalho com o teatro experimental do grupo baiano Avelãz Y Avestruz, com o teatro negro do Bando de Teatro Olodum e com a Companhia dos Comuns (RJ), ao lado de Hilton Cobra. A diversidade de dramaturgos que Marcio encena também está lá: dos clássicos, como Samuel Beckett (1906-1989) e William Shakespeare (1564-1616), aos autores baianos de gerações mais novas, como Aldri Anunciação.

“Outro aspecto importante da poética de Marcio é que ele trabalha sempre com grandes elencos, grandes atores e grandes atrizes”, destaca Paulo, ao citar nomes como Vera Holtz e Antonio Pitanga. A grandiosidade do encenador, na opinião do professor, se resume em dois pontos: a plasticidade de encenações de grande porte e o “olhar atento, sensível, preocupado com questões políticas e sociais relevantes do seu tempo”. O professor Paulo Henrique Alcântara é um dos organizadores do livro (Foto: Guilherme Alcântara/Divulgação) Nesse ponto, o artigo do ator e jornalista Edu Coutinho, 29, propõe uma reflexão interessante. Edu traça uma relação entre o trabalho de Marcio e o do encenador e dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898-1956). “São dois artistas que, embora separados por grandes distâncias – geográfica e temporal – têm muitos pontos de conexão. Fazem um teatro político, um teatro que diverte, mas que faz refletir, faz pensar”, explica Edu.

Com o olhar de quem foi dirigido por Marcio no espetáculo Jango: Uma Tragedya (2014) e na peça Do Outro Lado do Mar, que estreia dia 30, Edu realça a condução de Marcio por uma atuação mais limpa, menos psicológica e que ajuda o público a acompanhar o espetáculo mais atento às questões sociais que o texto traz. Essa conexão direta é um dos pontos fortes do diretor, reforça.“Além de grande encenador, com talento especial para os aspectos visuais de suas obras, como figurinos, cenário, espaço, luz, Marcio é também um diretor de atores muito sensível. Ele sabe apontar caminhos para que o ator trabalhe fora do óbvio, do automático, para que o ator conte bem uma história, estabeleça uma comunicação direta com o público”, elogia Edu Coutinho.Teatro como espaço de debate social Assistente de direção de Marcio em Embarque Imediato (2019), peça de Aldri Anunciação com Antonio e Rocco Pitanga, Edu enaltece ainda sua capacidade de criar uma encenação “que coloca o teatro nesse lugar de debate, essa arena social, esse espaço de discussão, de reflexão”, o que “Brecht fazia há muito tempo”, compara.

Uzel acrescenta que “a paixão e a indignação são combustíveis potentes para que o teatro de Marcio Meirelles se reinvente a cada espetáculo, preservando sua forte veia política e profundamente interessada no ser humano”. O racismo, a intolerância religiosa, a violência urbana e as mazelas sociais são temas presentes em seus espetáculos, assim como o ser humano, o tempo, a finitude, o respeito aos mais velhos e o amor.

“Esse diálogo é fundamental para que o teatro assuma o seu lugar de comunhão, de reflexão, de pensamento crítico, de intervir para aguçar sensibilidades, mobilizar, provocar, enfim. Marcio é um ser político. O teatro dele é a força motriz que revela esse ser político que ele é”, conclui Uzel. “Ele não fecha os olhos para seu tempo. Não é um teatro fechado em si mesmo, mas que amplifica os gritos, os clamores, a voz das ruas”, acrescenta Paulo. O professor e jornalista Marcos Uzel também assina a organização do livro sobre Marcio Meirelles  (Foto: Graça Pereira/Divulgação Serviço Onde comprar: Neste mês de lançamento, o livro estará com 30% de desconto, custando R$ 35. A solicitação de compra pode ser feita pelo WhatsApp de vendas da Edufba (71-99732-6726) ou através do e-mail ([email protected].) O livro estará disponível também na plataforma da Amazon e na Estante Virtual.