Colorido ecológico ocupa o Largo da Mariquita no Rio Vermelho

Feitas com materiais recolhidos do mar de Salvador, obras de André Fernandes podem ser vistas até dia 9

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  • Laura Fernades

Publicado em 1 de junho de 2019 às 22:40

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO
. por Marina Silva/CORREIO

Puxando a mãe pelo braço, o pequeno Ícaro, 2 anos, apontava para frente encantado: “Elefante! Gato! Borboleta!”. O motivo do espanto do garotinho eram as esculturas coloridas que apareceram no Largo da Mariquita, no Rio Vermelho, onde costuma passear com a família todo fim de semana. Feitas com material reciclável encontrado no mar pelo artista plástico André Fernandes, as obras celebram o Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho, e podem ser vistas gratuitamente até próximo domingo.

Sob o olhar atento e orgulhoso da mãe, Ícaro chegava bem perto das esculturas que tinham entre um e oito metros e  80% feitas de resíduos plásticos, além de fios de telefone e madeira. “Ele já sabe colocar as coisas dele no lixo, porque lá em casa a gente separa latinhas, garrafas... Se todo mundo pensasse assim, a natureza seria mais feliz”, refletiu a nutricionista paraibana Josielma Gomes, 32 anos, que mora em Salvador há dois anos com o marido e os filhos.   (Foto: Marina Silva/CORREIO) Ao descobrir que quase toda a matéria-prima das 30 obras expostas foi recolhida entre a orla da Pituba e de Ondina, Josielma não escondeu o espanto. “Não acredito... Ele tirou tudo isso do mar? Jesus!”, disse, enquanto observava a tela com a imagem de Irmã Dulce feita com três mil tampinhas de garrafa pet e o cachorro todo elaborado com vasilhas de óleo de motor de carro e tampas de ventilador.

“O ser humano só quer culpar os órgãos públicos por não cuidar do meio ambiente, mas não olha para si, não ensina os próprios filhos. Culpar os outros é fácil, mas será que somos capazes de assumir nossos erros?”, questionou Josielma, ao ser provocada pelas obras de André Fernandes. Pois era justamente esse o objetivo do artista que também é idealizador do projeto Praia Limpa, em 2011, com o qual já extraiu 100 mil tampinhas de garrafa para fazer uma bandeira do Brasil. (Foto: Marina Silva/CORREIO) Impactado ao ver um golfinho morrer engasgado com uma tampinha de pet, André resolveu criar alternativas para o lixo plástico que demora até 200 anos para se decompor. “São 8 milhões de toneladas jogadas no mar todo dia. É impressionante”, justifica o artista que tem 20 anos de carreira e estima ter encontrado mais de 13 milhões de tampinhas nesse período. Por isso, a ideia da exposição é “causar impacto e conscientizar que o material plástico está acabando com o mundo”, defende.

Quem passar pelo Largo da Mariquita até domingo que vem, portanto, vai se deparar com figuras como dinossauro, tartaruga, cachorro, gato e borboleta, todas coloridas com a cor natural dos materiais encontrados. Depois disso, o destino delas é diverso: algumas já foram vendidas, outras serão doadas para instituições carentes, hábito de André que já virou tradição.

De uma forma ou de outra, o vendedor Lucas Falcão, 18, garantiu o registro de todas em seu celular. Passeando de bicicleta, o rapaz fotografou cada uma e jogou no grupo de WhatsApp que tem com vizinhos do Nordeste de Amaralina. “Lá no bairro somos discriminados por causa da violência, então é muito bom divulgar esse lado artístico. Além disso, não é todo dia que a gente vê um dinossauro no Rio Vermelho, né?”, justifica sorrindo. (Foto: Marina Silva/CORREIO) [[galeria]]