Com 38% de renovação, perfil da Assembleia muda

Escolaridade diminui e aumenta o número dos que se declaram negros

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  • Luan Santos

Publicado em 1 de dezembro de 2018 às 06:14

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

A renovação de 38% na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) reduziu o nível de  escolaridade entre os deputados estaduais eleitos para o próximo quadriênio e triplicou a bancada negra na Casa. Em 2014, dos 63 parlamentares  vitoriosos nas urnas, 43 tinham concluído algum curso de nível superior,  equivalente a 68% do total. Este ano, o número caiu para 38, o que corresponde a 60% das cadeiras do Legislativo. 

Por outro lado, o número de deputados que se autodeclaram pretos subiu de dois eleitos em 2014 para sete em outubro passado. A queda no nível de escolaridade foi impulsionada pelos parlamentares  novos. Dos 24 eleitos em primeiro mandato no Parlamento baiano, 13 têm ensino superior completo – correspondente a 54% do total. 

O levantamento feito pelo CORREIO traça um perfil da 19ª legislatura do Parlamento baiano. Já entre os 39 veteranos que conseguiram a reeleição em outubro, 25 têm o superior  completo (64,1% do total). Por outro lado, os novatos foram os responsáveis por triplicar a bancada preta no Legislativo. Dos sete que se autodeclaram pretos, cinco vão para o primeiro mandato.  Também cresceu a bancada feminina, que saltou de sete para dez integrantes. 

Evangélicos  A bancada evangélica, por sua vez, perdeu cadeiras.  Na legislatura passada eram sete representantes ligados a  instituições religiosas. Agora são cinco. Da  passada, dois permanecem: José de Arimateia (PRB), ligado à Igreja  Universal, e Samuel Júnior (PDT), representante da Assembleia de Deus.  Sidelvan Nóbrega (PSC) e Carlos Ubaldino (PSD) não conseguiram a reeleição, enquanto Pastor Sargento  Isidório (Avante) foi eleito deputado federal. Heber Santana (PSC) e Manassés (PSD) tentaram chegar à Câmara dos deputados, mas não foram eleitos. A partir deste ano, chegam à Assembleia Jurailton Santos (PRB), também ligado à Universal, João Isidório (Avante), que substitui o pai Isidório, e Pastor Tom (Patriota), ligado à Igreja Quadrangular. 

A dança das cadeiras no Parlamento baiano também provocou a redução da média de idade da Casa. A legislatura iniciada em 2015 e finalizada agora tem média de 50,9 anos (levando em conta a idade dos parlamentares quando foram eleitos), enquanto a nova composição da Assembleia terá 48,5 anos. 

Um dos principais responsáveis pela queda é Rogério Andrade Filho (PSD), eleito aos 21 anos de idade. Ele é filho do prefeito de Santo Antônio de Jesus, Rogério Andrade (PSD), que era deputado estadual até 2016, quando foi eleito prefeito. 

Os outros dois mais jovens depois de Rogerinho também tiveram as bênçãos dos pais: Laerte (PSC), vereador de Monte Santo e filho do prefeito da cidade, Vando (PSC), e João Isidório (Avante), é filho do deputado federal eleito Pastor Sargento Isidório (Avante) e foi o mais votado na corrida pela Alba. Ambos têm 26 anos. 

Colaborou para a queda da média de idade a não reeleição de Reinaldo Braga (PR), que tem 78 anos e nove mandatos de deputado estadual consecutivos. Jurandy Oliveira (PRP), 81 anos, vai ocupar o posto de mais velho entre os eleitos. 

Educação, saúde, segurança pública e políticas para agricultura e são os  principais  temas que devem marcar os debates na Alba a  partir de 2019.  Dentre estas temáticas, a educação se sobressai, sendo prioridade de 24 dos 63  parlamentares baianos, o que equivale a 38% do total. 

Em seguida, estão saúde e  agricultura, que são consideradas bandeiras principais de 17 e 16 deputados, respectivamente, enquanto a segurança é citada como prioritária por 11 deles. As respostas foram dadas pelos próprios deputados, suas assessorias, ou com base nas propostas defendidas por eles durante a campanha deste ano.  Foram 46 bandeiras diferentes consideradas no levantamento, sendo que algumas delas são defendidas apenas por um ou dois integrantes do legislativo baiano. 

Também aparecem entre as principais bandeiras a defesa de políticas para juventude e mulheres, com nove parlamentares cada, e, com sete, a defesa da família, uma das principais pautas do presidente Jair Bolsonaro (PSL). 

Outros deputados dizem que, para além de bandeiras específicas, defende interesses de determinadas regiões. É o caso de Zé Cocá (PP), ex-prefeito de Lafaiete Coutinho. Ele diz que sua bandeira são os interesses das regiões do Vale do Jiquiriçá e Médio Rio de Contas.

Mudanças refletem a sociedade baiana Ao contrário do que pode indicar um primeiro olhar sobre o perfil dos deputados que compõem a próxima legislatura estadual, o  cientista político Joviniano Neto acredita que a queda no perfil da  escolaridade do Parlamento não é necessariamente algo negativo. 

“A  característica principal do política é ser capaz de representar, de  sentir os  anseios, as demandas, e ser o instrumento das pessoas que representam.  Isso não depende de instrução”, defende o especialista. 

Nesse sentido, o cientista político acredita que a Assembleia se tornou até mais representativa da  população baiana, cuja maioria não tem ensino superior.  Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),  apenas 6,7% dos baianos possuem diploma de terceiro grau. 

“Este dado mostra que a Assembleia trouxe pessoas com nível de educação menor, que teoricamente seriam mais pobres. No fundo, o Legislativo fica  mais representativo. Mostra que existem outros canais de ascensão à classe  política, como a ligação com igrejas evangélicas, a atuação a nível local, nas  cidades e regiões, ou até ligadas a movimentos sociais”, explica. 

Para ele, é uma visão elitista pensar a representação política diretamente  relacionada ao maior nível de escolaridade. “Por isso criticamos aquelas  visões elitistas, que criticam a própria democracia. Cada pessoa vale um  voto, cada pessoa é capaz de decidir seu interesse. Mais uma vez, isso não  depende de instrução”, pondera. 

Mesmo com o crescimento das bancadas negra e feminina, ainda há um  abismo na representação política na Assembleia, predominantemente branca  e masculina. Por outro lado, a população baiana é composta por negros e  mulheres. Joviniano é enfático e ressalta o caráter histórico do predomínio do poder na  política entre homens. “A representação política é uma representação do  poder na sociedade. Não existe vácuo em política. As pessoas não cedem  espaço de graça”, afirma. 

Lista de eleitos trouxe surpresas Entre os 24 novos deputados estaduais, pelo menos oito foram considerados surpresas na lista de eleitos para a nova legislatura. Um deles é Niltinho (PP), empresário e ex-secretário de Governo de Madre de Deus, mais votado do partido dele em Salvador e região metropolitana, desbancando nomes tradicionais do partido, como Luiz Augusto, que não renovou o mandato. 

Ainda integra a lista o também empresário Dal (PCdoB), que atua no Recôncavo baiano e já disputou a prefeitura de Amargosa. Novato no PCdoB, foi o mais votado entre os cinco comunistas eleitos. 

Vem do PP outro eleito de maneira surpreendente: Zé Cocá, ex-prefeito de Lafaiete Coutinho. No partido, ele ficou à frente de dois deputados já com mandato (Robinho e Aderbal Caldas) e, de quebra, desbancou na região de Jequié o ex-prefeito da cidade Roberto Britto (PP), que deixou a Câmara dos Deputados e tentava uma cadeira na Alba. 

Do Oeste baiano, Tum (PSC) é irmão do prefeito de Casa Nova, Wilker Torres (PSB) . Desconhecido antes da eleição, era assessor do deputado federal Bebeto Galvão (PSB), eleito suplente do senador Jaques Wagner (PT). 

No PSL, a expectativa era que o impulsionamento provocado pelo presidente Jair Bolsonaro levasse um deputado à Assembleia. O favorito era Capitão Alden, que acabou eleito. Contudo, a coligação levou mais dois: Talita Oliveira (PSL) e Junior Muniz (PHS), que entrou na lista de eleitos no final da apuração. Outra surpresa foi Pastor Tom (Patriota). Vereador em Feira de Santana, ele foi o terceiro menos votado e conseguiu a eleição com os votos da Igreja Quadrangular.