Com aula de Paloma Amado, Projeto Axé realiza formação anual

No evento, foi lida carta inédita de Jorge Amado sobre Capitães da Areia

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  • Daniel Aloísio

Publicado em 3 de março de 2020 às 20:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

Desejando os desejos das crianças. Esse é o tema da Grande Formação Anual do Projeto Axé, que acontece até essa sexta-feira (6), para os colaboradores da ONG, no hotel PortoBello, em Ondina. Em 2020, o projeto completa 30 anos de existência. Criado em junho de 1990, a ONG é conhecida por colocar em prática a pedagogia do desejo na formação de diversos jovens soteropolitanos “que ninguém quer cuidar”, como definiu o fundador Cesare De Florio.  

Ele conversou com o CORREIO na presença da escritora Paloma Amado, que alguns minutos depois ministrou uma formação para os funcionários do Projeto Axé sobre o desejo na literatura de Jorge Amado, o pai de Paloma. Ela ficou emocionada quando Cesare afirmou que o escritor baiano é uma inspiração do projeto. 

“O livro Capitães da Areia mostra os nossos meninos, que todos os dias saem molhados do mar e batem na porta do Axé”, disse Cesare. Na sua aula, Paloma voltou a falar sobre o livro. “Os personagens refletem o desejo que o ser humano tem de ser alguém”, argumentou.  

Paloma também divulgou duas cartas inéditas sobre o livro Capitães da Areia, que encontrou no acervo de Jorge Amado. “Até hoje eu não tinha encontrado esse material. Achei procurando informações sobre o livro", explicou. As duas cartas são datadas de 1975 e correspondem a uma troca de mensagens entre alunos do Colégio paulista, de ensino alemão, Visconde de Porto Seguro com o escritor.  

Com a tarefa de comparar a tradução alemã do livro com a versão original, os alunos enviaram uma carta para Jorge Amado questionando alguns pontos da obra. Em sua resposta, o escritor baiano revelou que o personagem Pedro Bala, descrito como líder do grupo, foi demasiadamente idealizado. “Ele não existiu, ao contrário de Sem-Perna, que eu vi pular do Elevador Lacerda”, disse, na carta. No livro, Sem-Perna foi um jovem manco, que se tornou amargo após ser pego pela polícia. O menino se suicida justamente para evitar ser pego novamente pelos policiais.   Paloma Amado é filha do escritor baiano Jorge Amado (Foto: Marina Silva/CORREIO) Arte Educação

Os Capitães da Areia moravam na rua. Já Luciana Xavier não precisou passar por isso. Hoje, com 36 anos, gerente de uma das unidades do projeto, a do Pelourinho - a outra fica na Baixa dos Sapateiros -, ela lembra do período que conheceu o Projeto Axé.  

“Eu comecei com 13 anos. Cheguei através do Educação de Rua, num período que os conflitos familiares me afetaram grandemente. Quase saí de casa, mas graças ao projeto e educadores, soube que o melhor caminho era continuar na família e superar os problemas”, afirmou. 

Depois de cursar o ensino médio, Luciana recebeu o convite para estudar moda na Itália. Ela se formou em designer de moda e se tornou arte educadora do projeto.   Luciana Xavier foi acolhida no Projeto Axé e hoje trabalha na ONG (Foto: Marina Silva/CORREIO) Além das duas sedes, onde é realizado aulas de capoeira, teatro, dança e percussão para atender 400 jovens, o projeto mantém o Axé Buzu, que anda nas ruas de Salvador disseminando a arte.  

“São 83 pessoas que prestam serviço. Nós somos compromissados com a formação deles. Acho que isso é um direito do profissional e por isso realizamos esse evento”, explica Cesare De Florio.  

Até sexta-feira (6), serão realizadas palestras, oficinas e apresentações artísticas no Hotel PortoBello, em Ondina. Haverá atividades de música, dança, capoeira, artes visuais e apoio familiar. O evento é uma espécie de “abertura do ano” para as missões institucionais da ONG e é voltado para o público de educadores, gestores e alunos do projeto que, neste tempo, formou mais de 29 mil crianças e adolescentes.   Cesare De Florio é fundador do Projeto Axé (Foto: Marina Silva/CORREIO) Parceria 

No final de 2019, a Prefeitura de Salvador firmou um convênio de R$ 200 mil com o Projeto Axé, através da Secretaria de Políticas para Mulheres, Infância e Juventude (SPMJ), para custear as atividades da ONG, como contratação de profissionais e compra de comida. Os recursos vieram do Fundo Municipal dos Direitos das Crianças e Adolescentes (FMDCA). 

*Com orientação da editora Ana Cristina Pereira