Com Carnaval indefinido, vendas de abadás está abaixo de 10%

Maioria dos blocos e camarotes nem iniciou vendas; empresários aguardam posicionamento da prefeitura

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  • Marcela Vilar

Publicado em 22 de outubro de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arquivo CORREIO

Assim que acaba o Carnaval, já  é costume dos blocos e camarotes de Salvador começarem as vendas para o ano seguinte. Este ano, o cenário é bem diferente por conta da pandemia do novo coronavírus: agências venderam menos de 10% dos abadás para o Carnaval de 2021, uma festa que ainda não tem data para acontecer. A grande maioria dos blocos, na verdade, nem abriu para comercialização. 

Em meio à indefinição, empresas flexibilizaram a política de vendas para o folião já que tinha adquirido o abadá. Ele pode ficar com um  crédito para 2022 ou para uma nova data que surja no próximo ano (se houver adiamento), ou ter a devolução integral do dinheiro se a festa for cancelada. O potiguar Diogo Bezerra, 27, preferiu deixar como crédito para 2022. Ele já tinha comprado três abadás  antes da pandemia se agravar. São sete anos que Diogo passa o Carnaval em Salvador: “Essa situação pegou todo mundo de surpresa, já tinha comprado três dias. Em 2021 não vai dar para todo mundo ter a vacina, mas estamos programando 2022”.

 O soteropolitano Rodrigo Estrela também não acredita em Carnaval sem vacina. Desde 2012, marca presença todos os anos, e, na edição do ano passado, conheceu a noiva, Ana Beatriz. “Acho muito perigoso um Carnaval com a estrutura do de Salvador ser realizado sem uma vacina”, avalia Rodrigo, que é professor universitário. Ele não acha boa ideia a festa ser adiada para o segundo semestre. “Carnaval tem que ser no verão, nas férias” Diogo Bezerra ja tinha garantido três dias de bloco para o carnaval de Salvador de 2021. Na foto acima, ele curte uma das edições da festa com os amigos. Crédito: Acervo pessoal Cancelamentos  e vendas em baixa

O bloco Me Abraça já anunciou que não comparecerá ao desfile se for em fevereiro. “Existe a pandemia e a gente tem que ser responsável”, explica o diretor Ricardo Lelys. Um dos mais tradicionais da capital baiana, o Afoxé Filhos de Gandhy manteve as vendas, mas não lucrou nem 10% do que costuma. Segundo o presidente da entidade, Gilsoney de Oliveira, a agremiação vai esperar um posicionamento da prefeitura: “A gente não suspendeu porque existe a possibilidade de acontecer no segundo semestre de 2021”.

 No caso dos camarotes, somente o Premier e o Salvador lançaram vendas para 2021. Um dos sócios do camarote Nana, o empresário Fred Boat, lamenta o prejuízo do segmento e entende a vacina como necessária para a realização do Carnaval: “Não me comprometi com despesas, mas também não tenho receita. Em outubro, todos os camarotes já têm tudo contratado e boa parte delas paga, com 30 a 40% dos abadás já vendidos”.

 O diretor da Central do Carnaval, Joaquim Nery, diz que, a partir do momento que surgiu a pandemia, suspendeu a divulgação das vendas no site, mas o comércio continuou porque havia demanda: “As pessoas não entendiam que não teria Carnaval em fevereiro”. Nery  acredita que comemorações espontâneas surjam em alguns bairros em fevereiro: “Tenho a impressão que vai existir um carnaval informal, que não vai ter como controlar”. 

Sócio-diretor do Folia Bahia, Rodrigo Magalhães diz que as vendas no site inciaram em abril, mas nem 10 unidades chegaram a ser vendidas: “O mercado de venda de abadás para 2021 está praticamente parado. Vai começar a movimentar depois da definição da data, pois existe a possibilidade de um adiamento”.

 No site Quero Abadá, a situação é parecida. “Os blocos, camarotes, o empresariado e os foliões estão aguardando uma definição do poder público e isso tem impactado diretamente nas vendas. Temos pouquíssimos abadás  vendidos em relação ao ano passado”, relata o diretor Vitor Hugo. Segundo ele, houve queda de 70% na movimentação.  Na foto, o soteropolitano Rodrigo Estrela curte o carnaval com a noiva e não gosta da ideia do carnaval de 2021 ser no segundo semestre. Crédito: Acervo pessoal. Sem data definida

Segundo o presidente da Empresa Salvador Turismo (Saltur), Isaac Edington, a definição sobre o Carnaval deve ser feita em novembro: “O prefeito ainda não formalizou o cancelamento, mas tudo aponta que dificilmente será em fevereiro, porque não há indicativo que uma vacinação em massa seja feita até lá. A tendência é o adiamento para uma nova data no segundo semestre, mas tudo depende das condições sanitárias”.

 O presidente do Conselho Municipal do Carnaval e Outras Festas Populares (Comcar), Pedro Costa, disse que se o Carnaval for realizado sem vacina, corre risco de a Bahia sofrer uma segunda onda da infecção da covid-19, como está havendo agora na Europa. “Não dá para fazer uma festa e botar um milhão de pessoas na rua sem esperar a vacina”,disse. 

A Superintendência de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) orienta os consumidores de bloco ou camarote a terem atenção ao contrato da compra e aos avisos das entidades carnavalescas. Segundo o órgão, valem os efeitos da Lei nº 14.046, de 24 de agosto de 2020, que dispôs sobre o adiamento e o cancelamento de serviços, de reservas e de eventos dos setores de turismo e de cultura em razão do estado de calamidade pública reconhecido. Além disso, a orientação é para a conciliação das partes, para  que não haja maior oneração ao consumidor.

Blocos que iniciaram vendas Largadinho Eva Vumbora Nana Camaleão Filhos de Gandhy

Camarotes que iniciaram vendas Camarote Salvador Camarote Premier

Blocos que não iniciaram vendas Coruja Timbalada Fissura Praieiro Me Abraça Crocodilo Cheiro de Amor Pinguço Inter Vumbora day Voa Voa DD no comando Sollares

*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro