Com Ford fechada, caminhoneiros aguardam há três dias para entregar materiais

Montadora declarou que questão será resolvida com fornecedores dos materiais

O anúncio do encerramento das atividades da Ford no Brasil continua trazendo problemas para trabalhadores que prestavam serviço para a empresa. Dessa vez, quem sofre com a situação são os transportadores de matéria prima para empresa. Isso porque cerca de 70 caminhoneiros estão em Camaçari, na frente da fábrica da montadora, há três dias aguardando para realizarem a descarga de materiais no local. De acordo com informações dos trabalhadores que estão na frente da fábrica, a perspectiva é que, ao longo dos próximos dias, mais caminhoneiros cheguem ao local. O número vem crescendo desde o fechamento da montadora. 

Por meio de nota, a Ford afirmou que já trabalha para informar aos parceiros que são responsáveis pelas mercadorias nos caminhões que todos os veículos devem retornar para o local em que foram carregados e que a situação será resolvida diretamente com os fornecedores individualmente pela montadora. 70 caminhoneiros estão em Camaçari, na frente da fábrica da montadora (Foto: Reprodução/G1) Caminhoneiros revoltados

Ao G1, os caminhoneiros relataram os problemas que estão enfrentando ao permanecer na porta da Ford por três dias. Um deles, que não quis se identificar, afirmou que os funcionários da montadora chegaram a dizer que eles conseguiriam descarregar no local. "Desde segunda está tudo fechado, nada funciona. Falaram que a gente ia conseguir descarregar ontem (13), e agora já mudou para segunda. A comida está acabando, e a gente está doido para ir embora", relatou.

Ainda ao G1, o trabalhador, que mora em Minas Gerais disse que jamais ficou tanto tempo fora em viagem. "Minha mulher ligou para saber como estou, e minha filha está chorando com saudade. Eu nunca demorei tanto tempo assim. Geralmente esse serviço é rápido. A gente chega, descarrega e vai embora", disse.

Ford encerra atividades

Após 20 anos, o Complexo Industrial Ford Nordeste, em Camaçari, encerrou ontem as suas atividades. A montadora norte-americana anunciou que vai deixar de produzir veículos no Brasil. Na planta industrial baiana, que fabricava o KA e o Ecosport, e em Taubaté (SP), onde eram feitos motores e transmissões, a interrupção das atividades já aconteceu. Até o final deste ano, a Ford pretende encerrar a operação da Troller, em Horizonte (CE). 

A empresa prevê despesas decorrentes da decisão na ordem de US$ 4,1 bilhões. Aproximadamente US$ 1,6 bilhão será relacionado ao impacto contábil atribuído à baixa de créditos fiscais, depreciação e amortização de ativos fixos. Nesta conta, entram incentivos fiscais concedidos pelo governo da Bahia. Os valores remanescentes de aproximadamente US$ 2,5 bilhões impactarão diretamente o caixa e estão, em sua maioria, relacionados a compensações, rescisões, acordos e outros pagamentos.

A estimativa do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari é a de que a decisão custe os empregos de 12 mil trabalhadores diretos – 5 mil da Ford e outros 7 mil de empresas que forneciam matérias-primas para a montadora, chamadas de sistemistas. O diretor do sindicato, Júlio Bonfim, acrescenta que a medida compromete outros 60 mil empregos indiretos.