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Com homenagem a Marielle, Mangueira é campeã do carnaval do Rio


 

Pelo desfile, a escola ganhou também o prêmio Estandarte de Ouro de melhor escola do Grupo Especial

  • Da Redação

Publicado em 06/03/2019 às 18:10:29
Atualizado em 19/04/2023 às 13:00:07
. Crédito: Foto: AFP

A Mangueira é campeã do desfile do Carnaval do Rio de Janeiro, chegando ao ponto mais alto da folia carioca pela 20ª vez. No seu desfile, a escola recontou a história do Brasil usando os heróis da resistência, negros e índios. Houve ainda uma homenagem à vereadora Marielle Franco, assassinada há quase 1 ano no Rio de Janeiro. Pelo desfile, a escola ganhou também o prêmio Estandarte de Ouro de melhor escola do Grupo Especial. O enredo vencedor é do carnavalesco Leandro Vieira.

As escolas foram avaliadas quanto a bateria, samba-enredo, harmonia, evolução, enredo, mestre-sala e porta-bandeira, alegorias e adereços, fantasias e comissão de frente. 

A Mangueira obteve a pontuação máxima em todos os quesitos. (Foto: AFP) Desfile “Um enredo completamente emocionante. A Mangueira tem essa responsabilidade”, disse a cantora Alcione ao analisar o enredo “História para ninar gente grande”, criado pelo carnavalesco Leandro Vieira. No enredo, Alcione representou Dandara, a mulher de Zumbi dos Palmares. “Foi uma honra representar Dandara, uma líder das pessoas escravizadas”, afirmou.

A intenção do enredo foi mostrar a participação de líderes populares que influenciaram a história do Brasil e não têm suas realizações contadas nos livros. Neles, personagens negros, índios, com destaque também para mulheres como a vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), Maria Felipa Oliveira, que liderou a resistência aos portugueses na Bahia e Luiza Mahin, líder do levante dos Malês, de pessoas escravizadas.

Emoções A cantora Leci Brandão, que é mangueirense, disse ter sido tomada por um misto de sentimentos durante o desfile, pois foi homenageada e citada na letra do samba-enredo. “A gente entra para a ala dos compositores nos anos de 1970 e, em 2018, ter o nome no samba é pra gente chorar, uma emoção muito grande mesmo, principalmente porque vim representando Luiza Mahin”, afirmou a artista. (Foto: AFP) Mônica Benício, viúva da vereadora Marielle Franco, morta em março do ano passado, disse que foi um enredo urgente e atual. “Fala de representatividade, de resistência, e a Marielle sendo homenageada, ter ela hoje como símbolo de esperança é, sobretudo, uma emoção muito grande”, disse.Para a jornalista Hildegard Angel, que passou na avenida no alto da alegoria a História que a História não conta, o desfile também foi uma emoção forte. O irmão dela Stuart Angel desapareceu em 1971, quando atuava na militância política. “Enorme, enorme. Além da expectativa”, reagiu a jornalista.

Ao fim do desfile, Leandro Vieira  afirmou estar com sentimento de dever cumprido. “Com certeza, não sei se bem, mas cumprido. Mexeu com o público e eu me diverti pra caramba”, disse.

O samba: História pra Ninar Gente Grande]

Mangueira, tira a poeira dos porões Ô, abre alas pros teus heróis de barracões Dos Brasis que se faz um país de Lecis, jamelões São verde e rosa, as multidões

Mangueira, tira a poeira dos porões Ô, abre alas pros teus heróis de barracões Dos Brasis que se faz um país de Lecis, jamelões São verde e rosa, as multidões

Brasil, meu nego Deixa eu te contar A história que a história não conta O avesso do mesmo lugar Na luta é que a gente se encontra

Brasil, meu dengo A Mangueira chegou Com versos que o livro apagou Desde 1500 tem mais invasão do que descobrimento Tem sangue retinto pisado Atrás do herói emoldurado Mulheres, tamoios, mulatos Eu quero um país que não está no retrato

Brasil, o teu nome é Dandara E a tua cara é de cariri Não veio do céu Nem das mãos de Isabel A liberdade é um dragão no mar de Aracati

Salve os caboclos de julho Quem foi de aço nos anos de chumbo Brasil, chegou a vez De ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês