Com humor, Pais de Primeira mostra inseguranças e desafios da maternidade

Série vai mostrar como os papeis do pai e da mãe do século XXI são diferentes dos de gerações passadas

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  • Naiana Ribeiro

Publicado em 25 de novembro de 2018 às 06:28

- Atualizado há um ano

. Crédito: Estevam Avellar/TV Globo
Pedro (George Sauma) e Tais (Renata Gaspar) por Paulo Belote/TV Globo

Jovens e descolados, Taís Siqueira (Renata Gaspar) e Pedro Zanini (George Sauma) estão juntos há seis anos. Ela é administradora e trabalha em uma incubadora de startups, onde busca investimentos para ideias tecnológicas criativas. Já ele é de humanas e músico, trabalha em uma produtora de jingles publicitários e decide montar uma banda com seu melhor amigo. Mas tudo muda mesmo com os dois tracinhos do exame de gravidez. A descoberta de que serão pais é o começo de uma jornada cheia de transformações.

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“Com humor, fazemos uma reflexão sobre as dificuldades que surgem quando um bebê chega a uma família. Ninguém aprende a criar um filho antes de ser pai e mãe. Não adianta ler, não adianta ver, é a relação com o bebê que gera os pais”, explica o diretor artístico Luiz Henrique Rios, sobre a série dominical que estreia neste domingo (25) na Globo/TV Bahia. Luiz Henrique Rios (Foto: Estevam Avellar/TV Globo) Com seis episódios, Pais de Primeira contempla as famílias brasileiras - ou seja, muita gente vai se enxergar na TV. “Quase todo mundo que vive na nossa humanidade passa por esse tipo de conflito ou vivência que é virar uma chave e assumir o papel de pai e mãe. Taís e Pedro já falavam em engravidar há algum tempo. Mas é uma surpresa para o Pedro, porque aconteceu do nada”, pontua a atriz Renata Gaspar, 32 anos, em entrevista ao CORREIO.  Pedro e Taís protagonizam a série (Foto: Estevam Avellar/TV Globo) Para ela, o telespectador também vai identificar-se com esse universo atual, em que os papeis do pai e da mãe do século XXI são diferentes dos de gerações passadas. “A mãe não fica somente cuidando do filho enquanto o pai sai para trabalhar. As mães têm suas carreiras, o que ainda gera certa culpa. Na época dos meus pais, isso estava em ebulição. A minha geração está um pouco mais familiarizada com esse novo quadro”, conta Renata. 

Embora seja uma mulher para frente, feminista e moderna, a protagonista também vai se questionar a todo momento sobre esses papeis de gênero do passado que considera ultrapassados. “Taís brincou muito de boneca e foi treinada para ser mãe. Tem muito resquício dessa época em que a mulher tinha essas funções sozinha em sua educação. Ela vive na nossa sociedade, em que são evidentes as desigualdades entre homens e mulheres, e quer se desprender disso, ocupando seu espaço”, explica a atriz.  Taís (Renata Gaspar), Pedro (George Sauma) e a médica (Carine Klimeck) (Foto: Globo/Estevam Avellar) Renata destaca que, apesar das discussões envolvendo familiares, das cobranças sociais e do cansaço, Taís e Pedro terão uma parceria ainda mais forte com chegada da filha Lia. A série, então, também mostrará como o casal vai dividir as atividades e cuidar da mesma coisa juntos. “A maternidade, que sempre foi tratada como algo muito imaculada, que não tem problema nenhum – com mitos do tipo que a mulher nasceu para ser mãe - será mostrada com mais realidade. Vamos retratar bastante as tais sensações que quase não podem ser ditas como raiva, culpa...”, revela. 

O humor do programa é bem sutil, diz Renata, mas a sitcom também diz como as coisas são de fato, o que deve chegar como um grande alívio para os pais de primeira viagem: “Não é fácil passar por uma maternidade. A série expõe essas questões de uma forma bem-humorada, mas também deixa tudo muito exposto do jeito que é de verdade”. Taís (Renata Gaspar), após o nascimento de Lia (Foto: Globo/Estevam Avellar) Taís, por exemplo, passará por vários momentos de desconstrução. Se antes ela era decidida e bem resolvida, agora dará espaço à intuição e abrirá mão de um pouco da sua vaidade para optar por soluções mais práticas, o que refletirá em sua caracterização. “Fica nítido também que ela tem essa necessidade do conforto, da roupa que possibilita a amamentação”, comenta a figurinista Tatiana Rodrigues. “Ela vai se sentir inútil, porque ela colocava sua utilidade em seu trabalho, mas também vai prestar atenção nas coisas simples. A presença de um bebê faz isso”, completa Renata.

Ao mesmo tempo, quando Lia nasce, bate um desespero em Taís, que tem medo de não conseguir criar vínculo com a filha. Isso porque sua própria mãe, Silvia (Heloisa Perissé), se dedicava mais à vida social do que à maternidade. “Silvia assume que foi mãe cedo demais e não se sente culpada. Ama as filhas do jeito que pode amar”, explica Heloisa. Seu ex-marido é Luis Fernando (Nelson Freitas), que desde que se se separou de Silvia, passou a ter uma namorada por semana, sempre bem mais jovens. “O Luis Fernando está vivendo algo como a crise da meia idade. Quer se sentir mais potente, mais garotão. Passa a se vestir diferente, namora uma moça mais jovem... E tudo isso vai criar uma espécie de desconforto com a família”, diz Nelson Freitas. Luis Augusto (Nelson Freitas) e Silvia (Heloisa Perisse) (Foto: João Cotta/TV Globo) Pedro, por sua vez, é sensível e avoado. Mas decide quer ser o melhor pai do mundo e recorre a vários livros para ficar por dentro de todas as técnicas e estar 100% preparado para quando a filha nascer. Mas vai logo perceber que a realidade é bem mais complexa e menos controlável. “Foi muito interessante o fato de não termos filho na vida real. Porque se tivéssemos, já chegaríamos com experiência e bagagem. Nos deixamos levar e estávamos realmente vivendo aquilo pela primeira vez”, revela George, 29, que interpreta seu primeiro protagonista na TV. Pedro (George Sauma) (Foto: Globo/Estevam Avellar) O casal - que vive em um apartamento de dois quartos e cozinha integrada com a sala, no bairro da Glória, zona sul do Rio de Janeiro – também vai buscar se desprender de padrões de gênero na criação de Lia. Eles vão transformar o antigo escritório, que estava abarrotado de coisas, para um quarto bastante descolado. Mas vão ter que lidar ainda com a obsessão dos avós Rosa (Marisa Orth) e Augusto (Daniel Dantas), pais de Pedro, que querem opinar em tudo sobre a criança. Augusto (Daniel Dantas) e Rosa (Marisa Orth) (Foto: João Cotta/TV Globo) “A Rosa faz coisas loucas e absurdas com o objetivo de participar do dia a dia da neta. Mas quando ela é pega, fica com muita vergonha, constrangida mesmo. Ela não se orgulha das coisas que faz, mas é capaz de qualquer coisa para ficar perto de Lia”, comenta Marisa Orth sobre sua personagem. O amor de Rosa pelo bebê que ainda nem conhece é tão grande, que ela resolve fazer uma tatuagem com o nome da neta antes mesmo de ela nascer. Mas ao chegar na maternidade, qual não é a sua surpresa ao perceber que os planos podem ter mudado. Rosa (Marisa Orth) e Augusto (Daniel Dantas) no estúdio de tatuagem, onde Rosa tatua o nome da neta (Foto: Globo/Estevam Avellar)   Daniel Dantas, que interpreta Augusto, acredita que seu personagem não apenas entra na onda da esposa, mas se beneficia disso. “Ele é vidrado na neta, então acaba sendo conivente e cúmplice das loucuras de Rosa”, diz o ator, que ainda não é avô. “Eu tenho vontade de ser avô, fico pressionando meu filho, mas não rolou ainda. Vivendo esse personagem, consegui visualizar um pouco como é isso. Você não tem toda a responsabilidade que vem com o papel de pai, pode apenas curtir o bebê, que é algo que nos deixa ainda mais encantado”.

Relação com a irmã Taís não tem dúvidas para quem ligar quando desconfia que está grávida: sua irmã Patrícia (Monique Alfradique), sua principal referência quando o assunto é maternidade. Com o exame de gravidez em uma mão e o celular na outra, Taís recebe as instruções da irmã sobre a leitura do resultado. Logo após ver os dois tracinhos que indicam positivo, é para ela novamente que conta a notícia em primeira mão. Patrícia (Monique Alfradique) (Foto: João Cotta/TV Globo) Patrícia é do tipo mãe perfeita, daquelas que dá uma pontinha de inveja ao olhar. Mãe de duas crianças, consegue estar sempre impecável. Trabalha fora, mantém o corpo em forma com uma rotina de exercícios físicos e é uma mãe presente. Sabe tudo sobre maternidade e tem sempre na mão as melhores dicas e indicações profissionais. Ainda por cima, é casada com Fred (Rodrigo Ferrarini), rapaz bonito, atlético, que trabalha na bolsa de valores e consegue ser um pai participativo.

“Eu brinco que toda mãe de primeira viagem tem que ter uma Patrícia ao seu lado. Ela é prática, não vê problema em nada. Vê alguma questão e resolve. É claro que tem uma comparação inevitável entre as duas. Elas são irmãs, mas são muito diferentes. A Patricia tem um lado parecido com a mãe, que é vaidosa, cuida do corpo, da beleza. A Taís é mais de ir vivendo a vida, sem muitas preocupações”, conta Monique Alfradique.

Taís e Pedro se beneficiam de toda a ajuda que Fred e Patrícia oferecem, mas acabam, de certa forma, se sentindo péssimos ao lado dos dois, que estão sempre preparados para toda e qualquer situação. “Mas da mesma forma que Taís gostaria de ter o jogo de cintura da irmã, a Patrícia também gostaria de se divertir como Taís, de não se preocupar tanto com detalhes, de viver mais a vida”, complementa Monique.

Escrita por Antonio Prata, Chico Mattoso, Thiago Dottori, Bruna Paixão e Tati Bernardi, Pais de Primeira tem a redação final de Antonio Prata.

Domingos, às 12h50, na Globo/TV Bahia

Conheça os personagens da série

Pedro Zanini (George Sauma) – Sonhava em ser músico e hoje trabalha em uma pequena produtora fazendo jingles publicitários. É metódico e pensará ser capaz delidar bem com a paternidade lendo todos os livros e vendo todos os tutoriais. Mas vai perceber logo que a realidade é bem mais complexa e menos controlável.  Taís Siqueira (Renata Gaspar) – Formada em administração, trabalha numa incubadora de startups. Não é a mãe perfeita, tem uma relação difícil com a própria mãe e vai sofrer para descobrir que tipo de mãe ela própria é. Taís é pragmática, bem mais pé no chão do que o Pedro, a quem vai trazer à terra com bastante sarcasmo.  Driguêra (Alejandro Claveaux) – Amigo de Pedro desde os tempos de escola, quando tinham uma banda juntos. É bem diferente dele, um galã em decadência, mas que nãodeixará de inspirar certa inveja em Pedro quando as amarras do casamento e da paternidade apertarem demais o seu cangote. Driguera (Alejandro Claveaux) (Foto: Victor Pollak/TV Globo) Patrícia (Monique Alfradique) – Irmã mais velha de Taís. Típica mãe perfeita, quedesperta certa inveja. Bonita, bem cuidada, profissional competente e mãe presente deduas crianças. Sabe tudo sobre maternidade, mete o bedelho na gravidez e no jeito decriar os filhos das outras.  Fred (Rodrigo Ferrarini) – Marido da Patrícia. Trabalha no mercado financeiro, é rico, um exemplo de pai e de marido.  Sílvia (Heloisa Perissé) – Mãe da Taís e Patrícia. Foi mãe jovem e se dedicou mais à vida social do que à maternidade em si. Não passou pelo recall do politicamente correto.  Luis Fernando (Nelson Freitas) – Pai de Taís e Patrícia, ex-marido de Silvia. Conforme o tempo passa, namora mulheres cada vez mais novas. Mas no final desta temporada vai descobrir que não é feliz assim e vai tentar [spoiler alert!]....  Augusto (Daniel Dantas) – Pai do Pedro, é vidrado em tecnologia. Tenta controlar os impulsos da esposa, Rosa (Marisa Orth), mas acaba cedendo e se envolvendo nas confusões dela para ficar perto da neta.  Rosa (Marisa Orth) – Mãe do Pedro. Mulher forte, mãe profissional e avó ultracoruja. Estará bastante presente para ajudar o casal – e meter seu bedelho na forma como eles criam a filha.