Com queda do dólar, Oeste da Bahia busca negociar 270 toneladas de soja

Produtores reduziram valor da saca e tentam garantir vendas para 2019

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 16 de outubro de 2018 às 04:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Alberto Coutinho/GOVBA

As recentes quedas no preço do dólar comercial, que nesta segunda-feira (15) fechou cotado a R$ 3,734 (redução de 1,18%), deram novas esperanças aos produtores de soja do Oeste da Bahia de negociar ainda neste final de ano o excedente da produção.

Segundo a Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), ao menos 270 toneladas – o equivalente a 5% da safra recorde deste ano, de 5,4 milhões de toneladas – ainda estão estocadas em silos, nas lavouras.

Com a queda do dólar, os produtores reduziram também o valor da saca de 60 quilos da soja: há um mês, ele custava R$ 70 e nesta segunda-feira era vendida por R$ 68. Para a safra que vem, a perspectiva é que ela seja vendida por R$ 60 a saca.

Presidente da Aiba e produtor de algodão no Oeste, Celestino Zanella disse que a negociação para exportar o excedente depende muito das tradings – empresas exportadoras. “Elas não querem assumir compromisso para o ano que vem”, falou.“Isso está ocorrendo por causa da tabela do frete, que ainda nos afeta. O momento econômico e político que o país vive também não colabora para que as negociações andem como devem ser. Acredito que haverá melhor cenário com a definição das eleições, daqui duas semana”, declarou.Outros fatores O Ministério da Agricultura informou que até setembro deste ano a Bahia exportou 3,37 milhões de toneladas do complexo soja (grão, farelo e óleo), vendido por 1,307 bilhões de dólares. A maior parte da produção vai para a Ásia, sobretudo a China.

E não só a alta do dólar – resultado da guerra comercial entre Estados Unidos e China e da indefinição do cenário político e econômico no Brasil – gerou dificuldades para negociar a soja baiana.

Houve ainda o problema da greve dos caminhoneiros, com impactos no tabelamento do frete, gerando incertezas para negociar o grão, que na safra deste ano veio com excedente de mais um milhão de toneladas e ainda não tinha comprador.

Entre julho e agosto, parte da soja ficou estocada nas fazendas ou parada nos caminhões nas portas das tradings, as quais também realizam o beneficiamento da soja, transformando-a em farelo ou óleo.

A demora para descarregar a soja nas tradings chegou a três dias.“Agora, já normalizou e estamos iniciando o plantio da soja da área irrigada e negociando a safra do ano que vem”, disse o assessor de agronegócios da Aiba Luiz Stalk.A soja do Oeste é exportada por meio do porto de Salvador e Cotegipe – são quase mil km de distância que os caminhões percorrem, a maior parte pela BR-242, sendo o trecho mais problemático o da região do Morro do Pai Inácio, na Chapada Diamantina.

Esse trecho, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), é marcado por ladeiras e a quase ausência de acostamento, um empecilho ao fluxo do trânsito. Por isso, produtores do Oeste reivindicam uma terceira pista ou então a duplicação da rodovia.

Preocupação com o clima De acordo com Stalk, 25% soja da próxima safra já foi negociada. A previsão é que a produção seja semelhante a deste ano, mas para isso o clima tem de colaborar, com chuvas bem distribuídas.

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), há previsão de que no início de 2019 ocorra o fenômeno El Niño, que gera tempos mais secos no Nordeste e mais frios no Sul do Brasil, prejudicando a lavoura.“Por enquanto, não foi dado sinal de alerta algum para a nossa região. Estamos seguindo o ritmo normal”, afirmou Stalk, segundo o qual a plantação da soja da área de sequeiro (com irrigação artificial) ocorrerá a partir da 1ª quinzena de novembro.No que se refere ao plantio, a queda do dólar veio relativamente tarde. É que praticamente todos os insumos – fertilizantes e produtos fitossanitários (agrotóxicos) – já foram comprados pelos produtores e todos eles são importados.

Segundo estimou a presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Luís Eduardo Magalhães, Caminha Maria Missio, vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (Faeb), o custo do produtor deve aumentar entre 30% e 40%.

“O custo varia de produtor, da área plantada dele – no Oeste, a área plantada com soja é de 1,6 milhão de hectares. O que todos estamos esperando é que os preços de produção fiquem estáveis ano que vem e que o clima colabore, como este ano”, disse.