Com queda na produção na Bahia, amendoim para o São João virá de São Paulo

Cidades mais afastadas de Salvador sentirão o impacto no bolso

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 15 de junho de 2018 às 17:35

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Mário Bittencourt/CORREIO

A mesa de boa parte dos baianos terá a presença paulista neste São João, maior festa do Nordeste. O motivo é a baixa de 45,5% da produção de 2018 do amendoim (em relação a 2017), um dos principais componentes das comilanças dessa época.

Com a redução na produção, boa parte das feiras, sobretudo em regiões mais afastadas de Salvador, como Sudoeste, Oeste e Centro-Norte, será abastecida também com amendoins vindos de São Paulo, que detém quase toda a produção nacional.

Segundo dados de uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados na última terça-feira (12), a produção do amendoim primeira safra (de março a junho) de 2018 ficará em 1.283 toneladas, ante as 2.352 toneladas de 2017.

Na Bahia, a produção de amendoim é dividida em primeira e segunda safra, que vai de julho a setembro. Enquanto boa parte da primeira safra é produzida por cidades do sertão, a produção da segunda safra está concentrada no Recôncavo baiano.

Maragogipe, com 1.860 toneladas em 2016 lidera a produção baiana, seguido de Cruz das Almas (330 toneladas), Muritiba (204) e São Felipe (196 toneladas) lideram, segundo dados de outra pesquisa de 2016 do IBGE.

Para este ano, somando as duas safras, o IBGE prevê 4.163 toneladas para a Bahia, queda de 25,7% em relação a 2016, ano em que foram colhidas 5.597 toneladas.

O estado é 5º colocado na produção nacional, e quem domina o mercado são os paulistas, com 516.591 toneladas, o que corresponde 93% da nacional, de 551.609 toneladas.

Minas Gerais (7,4 mil toneladas), Mato Grosso do Sul (5 mil toneladas) e Rio Grande do Sul (4,4 mil toneladas) vêm em seguida. No Nordeste, os estado que mais produzem, depois da Bahia, são Alagoas (3,4 mil toneladas), Sergipe (1,7 mil toneladas), Paraíba (609 toneladas) e Ceará (511 toneladas).

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab), a produção de amendoim do Nordeste tem como foco atender a demanda dos mercados municipais da região.

A produção em grande escala, responsável por abastecer as indústrias nacionais e internacionais, está localizada principalmente em São Paulo, Minas Gerais e Tocantins, informa entidade.

Menos área plantada A baixa produção na primeira safra de amendoim se dá por conta de menos da redução de 39% da área plantada. Em 2017, havia 3.798 hectares no total: 2.290 hectares da primeira safra e 1.508 hectares da segunda.

Neste ano a área plantada total é de 4.415 hectares (16,2% a mais que em 2017), sendo 1.415 hectares da primeira safra e 3.000 da segunda safra (quase o dobro de 2017).

O supervisor de Pesquisas Agropecuárias do IBGE na Bahia Augusto Barreto observa que a produção de amendoim no estado se dá por meio de pequenos produtores rurais.“São plantios consorciados com outras culturas, não temos grandes produtores”, declarou. É assim que ocorre no Recôncavo, onde cerca de 80% das propriedades são de pequenos produtores.Em geral, eles possuem áreas do tamanho de dez campos de futebol em que reservam no máximo 2 hectares para plantar amendoim. No resto, plantam outra culturas, como laranja, limão, feijão, mandioca e milho.

Wanderlei Silva Araújo, 39, pequeno produtor em Muritiba, é um deles. “Reservo meio hectares com amendoim, é uma cultura que complementa a renda, mas que não pode ser só ela”, disse, informando depois deve iniciar a colheita no final de junho.

Variação baixa Técnico da Superintendência Baiana de Assistência Técnica e Extensão Rural (Bahiater), ligada a Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), José Dias Macedo diz que a baixa produção de amendoim na Bahia não deverá ser muito sentida em cidades do Recôncavo.

Mas ele estima que do produto consumido no São João pelo menos 10% deva vir de São Paulo, por conta da baixa na produção da primeira safra. Ele prevê aumento dos preços somente para o amendoim do tipo seco que já vem sem casca.

“Para fazer o amendoim sem casca, tem de torrar, debulhar, leva mais tempo, então fica uns 20% mais caro”, falou. Já os amendoins do tipo verde – mais comercializados por produtores da Bahia – e seco com casca permanecem praticamente com preços estáveis.

O amendoim produzido em São Paulo vem em sacos de 10 quilos, que tem variado pouco, segundo dados do Mercado Produtor de Juazeiro, maior entreposto comercial do Nordeste e considerado pela Secretaria de Agricultura da Bahia como referência no estado.

Em 13 de junho de 2017, o saco de 10 quilos custava R$ 85, e logo após o São João caiu para R$ 75, permanecendo assim até dezembro, quando chegou a R$ 90, e hoje ele é comprado por R$ 100.

No Centro de Abastecimento de Vitória da Conquista, no entanto, o produto já chegou sábado passado aos feirantes por R$ 120 a saca. “E estão dizendo que a oferta vai cair, estou torcendo por isso para que eu venda mais caro”, disse a feirante Raimunda Silva dos Santos, 60.

A feirante vende uma lata de 1 litro de amendoim por R$ 2, valor praticado pela maioria dos comerciantes do produto. Na mesma feita, sacos com seis litros de amendoim podem ser achados por R$ 10. “Semana que vem vamos aumentar o preço”, avisou o também feirante Júnior Silva Gomes Araújo, 35.

“O amendoim é algo que o agricultor na Bahia planta sem ter muita perspectiva de renda, é tudo pequeno produtor. Aí vai juntando e faz um volume grande. Mas ainda é muito importante”, disse o produtor José Raimundo de Souza Pereira, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais da cidade de Cipó, nona colocada na produção na Bahia em 2016, com 144 toneladas de amendoim.