Com satélites e dados, projetos de competição da Nasa buscam reduzir impactos do óleo

Equipe ganhadora da etapa de São Paulo monitora manchas do petróleo cru no mar

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  • Da Redação

Publicado em 6 de novembro de 2019 às 06:09

- Atualizado há um ano

. Crédito: Tiago Caldas/CORREIO

Ganhadora da etapa local do Nasa Space App Challenge de São Paulo, a equipe MASSA busca identificar as manchas de óleo que chegam ao Nordeste ainda em alto mar a partir de imagens de satélites. Foram essas as imagens que permitiram que a Polícia Federal identificasse o navio grego Bouboulina como o principal suspeito pelo derramamento do resíduo.

Por enquanto, o grupo ainda não conseguiu identificar as manchas em subsuperfície, que é como esses resíduos se movimentam no mar do Brasil. O trabalho é para aperfeiçoar o modelo, um tipo de algoritmo, que permite que sejam apontado o petróleo cru no oceano.

O desenvolvedor  Ariel Betti fez parte da equipe que desenvolveu o projeto. Ele conta que o maior problema dos modelos utilizados é a grande quantidade de falsos positivos - uma nuvem, por exemplo, pode ser confundida com uma mancha de óleo.

Antes das melhorias, o projeto do Posseidon já tinha uma grande precisão e poucos falsos positivos, mesmo tendo sido desenvolvido em cerca de 36 horas. Betti contou que a maior dificuldade foi encontrar o conjunto de imagens disponível para treinar o algoritmo.

As imagens do satélite Sentinel-1, da Agência Espacial Europeia, foram liberadas perto do dia 18 de outubro, quando começou a competição. O grupo se reuniu para discutir temas e percebeu como os resíduos impactavam a região -  daí veio a ideia do Poseidon, uma semana antes do começo do hackathon.

A equipe deve usar três mil imagens de satélite para conseguir treinar o modelo com assertividade. Para o campeonato, apenas cerca de 1100 imagens foram analisadas pelo algoritmo em 36h.

O grupo ainda não recebeu o aval para utilizar o satélite que monitora a costa brasileira, por isso, se restringe a analisar imagens de eventos que já aconteceram no mundo. “Ter acesso a esse satélite que monitora a costa, facilitaria o trabalho”, disse Betti.

O projeto usa um satélite com infravermelho, pois ele seria capaz de identificar manchas submersas que não são visualizadas com satélites normais. “Aprimoramos o modelo para que o infravermelho consiga ver as manchas mesmo submersas”, explicou Betti.

Além do projeto da Nasa, Betti afirma que a ideia é criar um produto que possa ser usado por governos e outros setores para identificar as manchas. O grupo ainda quer adicionar outros satélites no Poseidon. “Vamos cruzar as imagens de satélite produzidas de forma simultânea para achar as manchas”, disse.

A comunidade também deve ser beneficiada. Ainda há a ideia de criar uma área no projeto para o público dar alertas das manchas de óleo. “Até mesmo é possível que as pessoas consigam nos ajudar. Pescadores podem ter a informação e ir ao local da mancha para comprovar a presença do óleo com fotos”, ressaltou.

Aplicativo da Bahia A mancha de óleo que atinge o litoral da Bahia serviu de inspiração para o projeto do MonitOil, que recebeu o segundo lugar da categoria Show the world the data! (mostre os dados ao mundo) na etapa local do Nasa Space App Challenge, um hackathon organizado pela agência espacial americana.

Pesquisador em geocomunicação na Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB) e na Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), Antônio Laranjeira teve a ideia de criar um mapa para juntar dados de fontes governamentais, cientistas, jornalistas e da população capaz de informar de forma atualizada sobre a chegada do petróleo cru nas praias do Brasil. As informações são atualizadas a cada 72 horas.

O mapa ainda informa o trajeto da embarcação grega Bouboulina, apontada pela Polícia Federal como a responsável pelo derramamento de óleo. Possíveis pontos de derramamento de óleo também são indicados no mapa. (Confira mapa abaixo)

No dia 12 de outubro, Laranjeira começou a trabalhar no monitoramento do petróleo cru com base em dados do Ibama. Depois, a ferramenta passou a ser fomentada com informações das comunidades. É possível auxiliar o projeto por meio de um formulário. Os elaboradores do projeto verificam as informações com as imagens que são compartilhadas pelos colaboradores.

Para o pesquisador, a ferramenta permite que haja uma melhor comunicação sobre a situação das praias oleadas. “É uma forma de ajudar as pessoas a se informarem sobre como elas podem ajudar o governo e como o governo está agindo”, afirmou.

Diferente do grupo que levou o primeiro lugar em São Paulo, o time de Salvador evitou as imagens de satélites devido à complexidade do uso das ferramentas. Como o objetivo é trazer informações sobre o desastre, Laranjeira acredita que o mapa permite a visualização da complexidade do problema.

“A gente viu que não tinha um monitoramento via satélite que desse conta para o recado. Tem que se agir na mitigação, que é o impacto direto no turismo, direto para a vida dos bancos de corais. A única coisa que se pode fazer é monitorar a costa para tender reduzir o impacto”, pontuou.

Durante o hackathon, quatro pessoas se juntaram ao projeto. Agora, dois membros da equipe vão representar a Bahia na etapa nacional da competição.

*Com orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier