Comandante da Cavalo Marinho I pediu para esposa não embarcar

Mulher de Osvaldo tinha exame médico no dia da tragédia; ele foi indiciado por homicídio culposo

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  • Gil Santos

Publicado em 12 de abril de 2018 às 18:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação CL

O comandante da lancha Cavalo Marinho I, Osvaldo Coelho Barreto, pediu para a esposa não embarcar na lancha um dia antes do acidente.

A embarcação virou cerca de 15 minutos depois de deixar o terminal de Mar Grande, na Ilha de Itaparica, em direção ao Terminal Náutico de Salvador, no Comércio, no dia 24 de agosto de 2017.

No total, 19 pessoas morreram. O resultado do inquérito policial foi divulgado nesta quarta-feira (12).  Osvaldo depois da tragédia (Foto: Divulgação/ CL) Segundo o titular da 24ª Delegacia (Vera Cruz), Ricardo Amorim, a esposa do comandante tinha um exame médico para fazer em Salvador no dia do acidente. Um dia antes, Osvaldo pediu ao patrão para trocar de embarcação por conta da mudança do tempo. Ele considerava a embarcação instável demais, mas o patrão disse que não havia outra lancha disponível."Ele contou para a esposa da preocupação, e pediu para ela remarcar o exame. A mulher também já temia, assim como outros passageiros, viajar na Cavalo Marinho I por conta do desconforto. Era a lancha que mais balançava", contou o delegado.Nesta quarta, a polícia divulgou o resultado do inquérito. Osvaldo, o engenheiro naval Henrique José Caribé Ribeiro e o proprietário da CL Transportes Marítimos, Lívio Garcia Galvão Junior, foram indiciados por homicídio culposo (quando não há a intenção de matar) e lesão corporal culposa - já que 74 pessoas ficaram feridas, duas delas em estado grave. Delegado levou oito meses investigando o caso (Foto: Alberto Maraux/ Divulgação) Erros Para a polícia, Osvaldo sabia dos riscos que estava correndo quando optou por continuar a viagem mesmo depois que a chuva e as ondas ficaram intensas.

Além disso, o piloto usou uma rota diferente para fazer a travessia, seguindo à direita depois do farol, onde as ondas são mais fortes e, portanto, é mais arriscado.

O engenheiro naval Henrique José também foi indiciado pelo acidente. Segundo a polícia, o laudo que ele encaminhou para a Marinha sobre a Cavalo Marinho I, antes do acidente, não condizia com a realidade da embarcação. Acreditando que as informações estavam corretas, a Marinha liberou a lancha para navegação. Acidente deixou 19 mortos e 74 feridos (Foto: Arquivo CORREIO) Ele disse para a polícia que cometeu um erro de cálculo, mas que isso não foi decisivo para o acidente. O delegado e a Marinha discordaram e disseram que os números também foram responsáveis pela tragédia.

Já o proprietário da CL Transportes Marítimos, Lívio Garcia Galvão Junior, foi quem mandou instalar os pesos extras que foram encontrados pelos peritos na embarcação. Segundo a polícia, ele alegou que fez a alteração a pedido de alguns comandantes que pilotaram a Cavalo Marinho I. A maioria das vítimas estava no porão da lancha (Foto: Arquivo CORREIO) Os funcionários disseram para Lívio que estavam tendo dificuldades para manobrar a embarcação no terminal de Mar Grande. Na hora do acidente, os pesos, que não estavam presos, rolaram e ajudaram a desequilibrar a lancha.

"Nós indiciamos o engenheiro pelo fato de ele ter realizados cálculos de forma errônea, atestando como apta a embarcação que não estava apta para realizar essa travessia. E, no caso do proprietário da empresa, nós o indiciamos por ter instalado pesos de lastro de forma irregular e não ter comunicado à Marinha esse fato, o que causou aumento da instabilidade da embarcação na travessia, acabando por causar o acidente com a Cavalo Marinho I", contou o delegado. Pai carrega corpo do filho após acidente (Foto: Arquivo CORREIO) Sobre as acusações de omissão de socorro por parte dos comandantes das outras duas embarcações que passaram pelas vítimas, o delegado disse que, de fato, duas embarcações passaram pelo local, mas que a visibilidade estava ruim. Além disso, a maré e o vento fortes arrastaram as vítimas cerca de 150 metros do local do acidente, por isso eles não foram vistos.

Foram oito meses de investigação. No inquérito, a polícia ouviu 135 pessoas, usou os laudos do Departamento de Polícia Técnica (DPT), da Marinha, dados de meteorologia, e o relatório dos auditores do MTE - apesar de as considerações sobre a inocência do comandante não terem sido aceitas.

A Marinha e a Agerba (empresa estadual que regula os serviços de transporte na Bahia) não foram citadas pela polícia. O CORREIO ainda não conseguiu contato com os três indiciados. Havia 124 pessoas à bordo da lancha (Foto: Arquivo CORREIO) Indenizações No dia 28 de março, a Defensoria Pública do Estado da Bahia (DPE) informou que a Agerba é a responsável por fiscalizar as empresas que realizam a travessia, e por isso será incluída na ação que pede indenização para as vítimas da tragédia. A decisão foi tomada pelo órgão após a Justiça não encontrar bens em nome do proprietário da CL Transporte Marítimo, Lívio Garcia Galvão Junior. O valor pedido será estabelecido na audiência de conciliação, que ainda não tem data para acontecer, ou determinado pelo juiz.