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Tricolor aproveitou polêmica nas redes sociais para lançar campanha com objetivo de se reaproximar dos torcedores de baixa renda
Gabriel Rodrigues
Publicado em 10 de janeiro de 2018 às 05:00
- Atualizado há um ano
“O Bahia é o clube do povo, domingo estarei aqui de novo”. O verso da música Campeão dos Campeões, eternizada pelos Novos Baianos, se fez mais presente nos últimos dias após uma polêmica levantada nas redes sociais. Em visita a Salvador, a advogada paulista Giovana Fernandes, 24 anos, publicou em sua conta no Twitter a percepção que teve sobre a quantidade de camisas de Bahia e Vitória nas ruas. Segundo ela, durante três dias na capital baiana foram vistas cerca de 40 uniformes do tricolor e apenas dois rubro-negros.
“Lá em São Paulo é muito comum a rivalidade entre Corinthians e Palmeiras e eu comecei a perceber que aqui, por onde eu passava, só tinha camisas do Bahia. Andando com o meu namorado, eu comecei a contar quantas camisas a gente encontrava. Foram umas 40 do Bahia e pouquíssimas do Vitória. Inclusive, eu confundi uma do Vitória com a do Flamengo. Mas foi nessa percepção. Foi uma diferença muito grande”, explica Giovana.
A publicação incomodou um torcedor do Vitória, de perfil intitulado Ricardo Oliveira, que reagiu com o seguinte comentário: “Você viu vendedor de picolé, queijinho e limpador de para-brisa nas sinaleiras. Por isso viu tantos”, escreveu.
Giovana conta que não chegou a responder, mas condenou a atitude. “Eu achei muito preconceituoso da parte dele elencar as profissões como se elas fossem desmerecidas porque são mais simples”, disse. Torcedores do Bahia e do Vitória criticaram o rubro-negro. A situação foi um prato cheio para a diretoria do Bahia, que logo em seguida lançou campanha e ações de marketing para reafirmar a identidade do clube como time de massa.
Um vendedor de picolé e um limpador de para-brisas que trabalham na sinaleira em frente ao Shopping da Bahia foram presenteados com camisas do Esquadrão e tiveram suas histórias contadas nas redes sociais do tricolor: “Gabriel e Heber trabalham diariamente na região do Iguatemi. Gabriel vende picolé nos ônibus que vão passando. Heber limpa para-brisas dos motoristas que aguardam a sinaleira em frente ao shopping. Eles orgulham a maior e mais diversificada torcida do Nordeste”. Amor visto de longe A tentativa do Bahia de se reaproximar das classes mais pobres é reflexo do processo de afastamento que setores da torcida vêm sofrendo nos últimos anos. Desde que passou a jogar na Arena Fonte Nova, em 2013, o custo para acompanhar o time dentro do estádio ficou maior. Uma pesquisa realizada no ano passado aponta que o tricolor tem o oitavo tíquete médio mais caro entre os 20 clubes que jogaram a Série A em 2017, com valor de R$ 26. A cifra supera com folga as de Vitória (R$ 14) e Sport (R$ 20), embora valha a ressalva que os rivais possuem estádio próprio e que não são arenas. O fato é que, em uma conta rápida, uma família de quatro pessoas que tem renda de um salário mínimo (metade da população brasileira vive com menos de um, segundo o IBGE) comprometeria cerca de 18,8% do orçamento mensal para ir à Fonte Nova.
Isso já considerando o mínimo no valor de R$ 954, embora em 2017 fosse de R$ 937. Além dos ingressos para o setor mais barato (R$ 40 inteira / R$ 20 meia), o cálculo leva em consideração valores de transporte (R$ 3,70 por trecho) e lanches – duas pipocas (R$ 6 cada), uma cerveja (R$ 8) e dois refrigerantes (R$ 5 cada). Total: R$ 179,60. Sem os lanches, R$ 149,60. “O Bahia é um clube de massa e a gente tem que, dentro da função de presidente, fazer com que cada vez mais essas pessoas estejam incluídas no processo mais singular, que é ir ao estádio, participar desses momentos mais felizes do clube. Tudo que a gente vem pensando é no sentido dessa inclusão, isso faz parte do debate que a gente já iniciou com a Arena Fonte Nova e de outras questões do clube como o plano de sócios e valor da camisa”, explica Guilherme Bellintani.
Na série de ações que idealiza para se aproximar do seu público, a diretoria se reunirá, no sábado, com 120 torcedores para debater temas como venda de ingressos e alimentação na Fonte Nova. O CORREIO entrou em contato com a diretoria do Vitória, que não quis se posicionar sobre o assunto.