Comer menos é primeiro passo para salvar o planeta, segundo escritor

Jonathan Safran Foer lança o livro Nós Somos o Clima - Salvar o Planeta Começa no Café da Manhã

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  • Roberto Midlej

Publicado em 31 de agosto de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Deborah Landau/divulgação

O escritor americano Jonathan Safran Foer, 44 anos, é um entusiasta das causas ambientais. Consagrado autor de romances, já teve dois livros adaptados para o cinema, que resultaram nos filmes Uma Vida Iluminada (2005) e Tão Forte e Tão Perto (2011). Mas agora ele volta à não ficção com Nós Somos o Clima - Salvar o Planeta Começa no Café da Manhã (Rocco/ R$ 38/ 288 págs). Da mesma forma que em Comer Animais, que escreveu em 2009, ele revela preocupações com a natureza e faz um apelo para que as pessoas mudem seus hábitos alimentares, principalmente reduzindo o consumo de carne, o que levaria a diminuir a emissão de gases que provocam o efeito estufa.

Foer defende ainda que todo cidadão comece o mais rápido que puder a mudar outros hábitos, como viajar menos de avião e usar menos o carro. Mas ele reconhece que não é fácil, tanto que o próprio escritor admite que ele mesmo podia fazer mais pelo planeta. Mesmo tendo escrito livros demonstrando sua preocupação e tendo mudado alguns hábitos, como usar o carro elétrico, ele acha que ainda faz pouco: “Não me preocupo com a crise do planeta”, diz em Nós Somos o Clima. 

Foer conversou com o CORREIO sobre seu novo livro e destacou que cuidar do planeta é uma tarefa difícil, principalmente porque os atuais habitantes da Terra não correm risco imediato de morrer em razão dos estragos que causam à natureza.  

O subtítulo do livro diz "Salvar o planeta começa no café da manhã". Será mesmo tão simples salvar o planeta?  Certamente não é tão simples, mas é simples começar por aí. Não vamos salvar o planeta apenas mudando a alimentação.Precisamos viajar de avião de maneira diferente, precisamos mudar a forma de usar automóveis, precisamos mudar hábitos de consumo, precisamos controlar a superpopulação, mas sabemos também que não temos esperança de salvar o planeta se não mudarmos hábitos de alimentação.É importante dizer que não é minha opinião. Não há controvérsia entre os cientistas sobre isso.  

Se pudesse dar um conselho a alguém que quer salvar o planeta, como diaria para começar?  Sabemos que existem quatro ações que são mais importantes e é o que diz todo cientista. Precisamos controlar a população excessiva; precisamos voar menos; precisamos usar menos os automóveis e precisamos comer menos produtos de origem animal. Mas para pessoas que voam não é simples dizer a elas ‘pare de voar amanhã’. Dirigir nos EUA também: 85% das pessoas que possuem carro dirigem até o trabalho, então não é realista dizer ‘pare de dirigir amanhã’. Comer menos comida é barato, e melhor pro nosso organismo, então é bom começar desta maneira. 

Você diz que os pais vigiam as crianças enquanto elas brincam no parque por medo de que elas se machuquem, mas eles não se preocupam, por exemplo, com a quantidade de açúcar que elas comem, o que é igualmente perigoso. Por que pais agem assim?  A preocupação de uma criança cair de um brinquedo é uma coisa imediata, mas as consequências dos problemas do clima só vão ocorrer no futuro. Então, não é imediato como um ferimento. Por exemplo, o coronavírus tem esse efeito imediato porque as pessoas têm medo de adoecer. Por isso, veja o que conseguimos realizar: fechamos a economia, o isolamento mudou o mundo de forma profunda, mas eu não tenho medo de morrer por causa de mudança climática porque não vamos morrer disso.  

A eleição presidencial americana está chegando e Trump tenta reeleger-se. Ele é um negacionista em relação à mudança climática. Isso pesa contra ele?  Na verdade, não sei nem por que alguém votaria nele. Tudo está prejudicando as chances dele: o coronavírus, a forma como gere a economia, as questões raciais, misoginia... A história vai se lembrar desses quatro anos como necessários.Se Hillary [Clinton, que concorria com Trump em 2016] tivesse sido presidente - e eu queria que ela tivesse sido -, não acho que teríamos feito grandes mudanças.Então, um dia, a gente vai olhar para trás e perceber o quão horrível Trump e Bolsonaro são, porque nos fizeram despertar e mudaram as pessoas que antes eram passivas e complacentes.  

Você demonstra muita preocupação com o futuro do planeta e com a questão climática e até já escreveu um livro sobre isso. Mas  afirma que, na verdade, não se preocupa com a crise do planeta. Por que?  Não medimos o que somos pelo que dizemos nem pelo que sentimos. Posso dizer que amo meu irmão, mas não se o visito e não me relaciono com os filhos dele, sou mesmo um bom irmão? A minha ‘carbon footprint’ [pegada de carbono, que corresponde à quantidade de gás de efeito estufa que cada pessoa produz] é maior que a de algumas pessoas que negam a crise climática. Digo as coisas certas aos amigos, vou a protestos, carrego cartazes... Mas pergunto: é melhor dizer as coisas certas ou fazer as coisas certas? O futuro não vai se importar com o que falamos ou sentimos, mas com o que fizemos.  

Entre aquelas quatro ações essenciais que você citou para salvar o planeta, quais você cumpre?   Tenho duas crianças, então essa parte [de ter menos filhos que outras gerações], eu já fiz. Por outro lado, antes da covid eu voava mais que 99% das pessoas.Hoje, me alimento de forma mais consciente, mas esse é um processo e leva tempo, especialmente porque é uma mudança difícil. Posso me prometer que não viajarei mais de avião, mas não é possível para mim por causa do trabalho. Sobre dirigir menos: vendi meu carro e comprei um elétrico, mas nem todos podem.Mas o problema é que estamos acostumados a ver preto ou branco. Ou você faz tudo ou nada: ou você é uma boa pessoa ou uma pessoa horrível. Mas essa forma de enxergar as coisas não ajuda em nada. 

*Tradução realizada por William Jadie Faltesek

Serviço

Livro Nós Somos o Clima -  Salvar o Planeta Começa no Café da Manhã

Autor Jonathan Safran Foer

Editora  RoccoPreço   R$ 28,40 (kindle) e R$ 38 (impresso)