Comerciantes lançam manifesto sobre prejuízos causados por manifestações

Comunicado cita protesto que fechou o Iguatemi na última quarta (11)

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  • Da Redação

Publicado em 13 de abril de 2018 às 18:25

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Almiro Lopes/Arquivo CORREIO

Pense na região do Iguatemi – comércios, clínicas, academias – em um dia comum. Agora, imagine esses mesmos estabelecimentos com apenas metade das pessoas. Essa é a estimativa de queda do movimento no local, de acordo com o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo da Bahia (Fecomércio-BA), Carlos Andrade. 

A Fecomércio e outras quatro entidades – a Associação Comercial da Bahia (ACB), a Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas da Bahia (FCDL), a Câmara de Dirigentes Lojistas de Salvador (CDL) e a Federação da Agricultura do Estado (Faeb) – divulgaram um manifesto do setor produtivo baiano que teve como mote ‘Salvador não pode parar’. O documento diz que tem o objetivo de chamar a atenção para as manifestações que têm ocorrido na cidade. 

No manifesto, citam o protesto da última quarta-feira (11), realizado em frente ao Shopping da Bahia contra a prisão do ex-presidente Lula. Segundo as entidades, atos que provocam a interdição das principais vias da cidade em horário comercial vêm “impedindo o funcionamento dos estabelecimentos, causando prejuízos para empresários, profissionais liberais e a sociedade em geral”. No comunicado, pedem ao poder público que dê “melhor coordenação” para as manifestações. “Acho que as pessoas têm direito de fazer os protestos. O que está nos atrapalhando, e muito, é a interdição das avenidas”, diz Andrade.Ele defende que os governos criem uma estrutura de fiscalização para desobstruir as vias. 

Redução  Além da queda no Iguatemi (que também interfere no acesso à Rodoviária), segundo Carlos Andrade, também houve redução no movimento em postos de gasolina, nas lojas de material de construção e nos mercados (respectivamente, 20%; de 15% a 20%; e 10%). Só naquela região, a Fecomércio calcula que as vendas registrem entre 20% e 25% de queda no período das 15h às 22h.

"Ali é o centro comercial da cidade e tem de praça de alimentação a academia de ginástica. Além do prejuízo para o empresário e o comércio, a sociedade também perde. Nós, das entidades de classe, estamos juntos nessa briga porque quando chega no final do mês, temos compromisso com a folha, com impostos”, reforçou.

De acordo com estatísticas da Fecomércio, se todo o varejo de Salvador fechar por 24 horas, o prejuízo estimado é de R$ 60 milhões. No caso das últimas manifestações, contudo, os estabelecimentos não foram fechados e estão localizados em uma só região – a entidade não soube dizer qual seria o cálculo para este caso. 

A visão é a mesma do presidente da ACB, Adary Oliveira, que defende que as manifestações sejam realizadas em locais onde o trânsito não seja bloqueado ou que pelo menos uma das faixas da via seja liberada.“Sou a favor de toda liberdade, mas não pode querer impedir as pessoas de levar sua vida normal. Termina atingindo o funcionamento das escolas, dos estabelecimentos de ensino, atingem as instituições de saúde, clínicas médicas e hospitais”, diz Adary Oliveira, que reforça que “não é contra as manifestações”.  “Me sinto muito alegre em ver essas manifestações. Era estudante de Engenharia quando foi dado o golpe militar e perdemos a liberdade de expressão. Vejo a liberdade com muita simpatia, mas quando começa a impedir a ida e a vinda de pessoas, isso me constrange”, conclui ela. 

Já o presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas da Bahia (FCDL), Antoine Tawil, destaca que o manifesto leva em conta qualquer tipo de manifestação – inclusive uma como a dos rodoviários do Subsistema de Transporte Especial Complementar (Stec), que aconteceu no mês passado e travou a cidade por sete horas.“A manifestação é legal, mas tem que se permitir ao cidadão o direito de ir e vir. Isso afeta do mesmo modo todas as atividades econômicas de Salvador, não só os lojistas”, afirma Tawil. Segundo ele, 80% das atividades econômicas da capital estão concentradas no eixo entre a Barra e a Pituba. “Se você fechar aquilo ali, você está impedindo a geração de renda e emprego”.

Agropecuária Mas não são só os grandes centros comerciais que sofrem com as interdições. O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (Faeb), Humberto Miranda, informa que qualquer manifestação que envolva o bloqueio de estradas e ruas traz impactos diretos também para o setor agropecuário.

Isso porque toda a produção é escoada por rodovias e precisa atravessar cidades para chegar ao destino final. “Mesmo aqueles produtos destinados à exportação – que seguirão em navios, por exemplo – saem das propriedades e empresas rurais através das BAs e BRs que cortam a Bahia. E é importante lembrar que boa parte da produção é perecível, pode estragar. Então, qualquer tempo que se perca a mais do que o planejado pode ser determinante para a carga”, exemplifica.

Ele destaca, ainda, que a entidade entende todo tipo de manifestação pública e que acredita que todos têm o direito de se expressar. No entanto, assim como as outras entidades, defende que isso aconteça de uma forma que não interfira no direito de ir e vir."Bloquear estradas, ruas e avenidas é um desserviço para a cidade e atrapalha a vida de todo mundo, não apenas do setor produtivo. Vimos, por exemplo, em reportagens divulgadas pela mídia sobre a última manifestação, ambulâncias presas no protesto, com pacientes dentro. Esse tipo manifestação, independente da ideologia defendida, deve ser evitada", comenta Miranda.Opinião pública Para o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), uma das entidades que têm convocado as últimas manifestações contra a prisão do ex-presidente Lula, Cedro Silva, a divulgação do manifesto é uma tentativa de influenciar a opinião pública.

Ele acredita que é uma forma de fazer com que a população em geral se posicione contra os movimentos sociais – que, segundo Silva, estão reivindicando a democracia, mais empregos e defesa das estatais. 

O presidente da CUT na Bahia defende que o Brasil vive hoje um “estado de exceção”. “A culpa dessa crise é do próprio empresariado, que apoiou a reforma trabalhista e está apoiando a reforma da previdência. Hoje, estão pagando um preço muito caro, porque os 13 milhões de desempregados estão nas ruas do Brasil cobrando empregos com carteira assinada”, afirma. 

Silva diz, ainda, que os empresários não cobram dos governos pautas que possam gerar mais postos de trabalho. “Trabalhador não é escravo. Eles não entenderam que foi no governo de Lula e Dilma que a economia mais cresceu. Todos ganharam, mas, infelizmente, eles não se importam com a classe trabalhadora”.