Comitê denuncia abusos de policiais em investigação sobre invasão a fazenda

Entidade cita invasão a escola e intimidação em Correntina; SSP nega

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 30 de março de 2018 às 01:00

- Atualizado há um ano

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Prejuízo em fazenda é avaliado em R$ 50 milhões (Foto: Reprodução) O Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos (CBDDH) divulgou nesta quarta-feira (28) comunicado que aponta supostas irregularidades da Secretaria de Segurança Pública (SSP) nas investigações sobre a destruição de duas fazendas da empresa agrícola Igarashi, em 2 de novembro de 2017, em Correntina, Oeste do estado.

A SSP, em nota ao CORREIO, informou que as investigações sobre o caso “estão avançadas” e “esclarece que não há qualquer indício de irregularidade nas investigações realizadas pela Polícia Civil ou no trabalho executado pela PM”. E “orienta que qualquer informação sobre má conduta policial deve ser encaminhada oficialmente às corregedorias para rígida apuração”.

No ataque às fazendas, cerca de 800 pequenos agricultores e pecuaristas que vivem próximo ao Rio Arrojado, em Correntina, e que estavam insatisfeitos com a captação de água por parte da empresa, destruíram diversos equipamentos hidráulicos e elétricos, além de tratores, o que causou prejuízo de R$ 50 milhões.

As investigações sobre o caso estão paradas desde o dia 10 de janeiro, quando o inquérito policial foi enviado ao Poder Judiciário para avaliação do pedido de aumento de prazo para  as investigações. Mas de 50 pessoas já foram ouvidas. Um dos equipamentos que acabaram destruídos pelos invasores (Foto: Reprodução) Carona para a PM Relatório da PM sobre o caso, anexado ao comunicado do CBDDH e assinado pelo major Geraldo França de Santana, comandante da 30ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM), em Correntina, mostra que policiais usaram carros da Igarashi para se deslocar até a fazenda.

Isso ocorreu, segundo o relato do major, porque a polícia estava com duas viaturas “baixadas” devido à falta de manutenção dos veículos, que deixou de ser feita por uma empresa terceirizada que não estava mais recebendo pagamento do Governo do Estado.

O major Santana escreve no documento que “manteve contato com um dos empregados da empresa, Sr. Gabriel, o qual deixou aberto qualquer recurso necessário para a Polícia Militar atuar na situação, momento em que lhe foi solicitado um veículo tipo pick up para deslocamento até a localidade, o que foi feito”.“Mantive contato novamente com o Sr. Gabriel, o qual para ajudar na nossa logística disponibilizou veículos para transporte de tropa até a fazenda, sendo arregimentado, além deste comandante, mais 8 policiais militares”, escreveu o major no relatório enviado ao coronel Paulo Salomão Portugal de Souza, comandante da PM em Barreiras.Documentos internos da Secretaria de Educação da Prefeitura de Correntina, também anexados ao comunicado do CBDDH, relatam que policiais militares estavam abordando estudantes da Escola Municipal de Arrojelândia, “causando danos psicológicos a esses alunos”.

Em outro caso, os PMs forçaram um adolescente que estuda a 7ª série a assinar na porta da escola uma intimação endereçada ao tio, em frente aos demais colegas, quando eles saiam para um piquenique. O tio do menino estaria sendo investigado pela polícia. Parte do grupo que invadiu fazenda e destruiu equipamentos (Foto: Reprodução) Invasão à escola Há relatos ainda de que policiais civis entraram, sem mandato judicial, na mesma escola em busca de um professor que teria participação nos ataques à Igarashi.“Essa ação da polícia vem causando constrangimento às crianças e adolescentes que estudam na escola, bem como aos demais funcionários”, diz um dos documentos.O CBDDH informou ter enviado para a SSP uma carta de recomendações sobre o caso. O CORREIO encaminhou a assessoria de comunicação da SSP o mesmo comunicado que recebeu do comitê, porém na resposta não houve comentários sobre as recomendações.

"O Comitê vê com muita preocupação casos como este de Correntina. A atuação do poder público em defesa de interesses privados tem sido um fator recorrente nos casos de violências contra defensoras e defensores de direitos humanos no Brasil”, destaca e entidade, em comunicado.“Por este motivo, levamos ao conhecimento do Governador e das autoridades competentes o que foi verificado durante a missão in loco em Correntina, na perspectiva de que sejam devidamente apurados os fatos que sugerem práticas contrárias à Constituição Federal”, continua.A advogada Luciana Pivato, representante do Comitê e que participou da missão em Correntina no final de 2017, declarou que a entidade entende que “para contribuir com as resoluções de conflitos em Correntina urge a escuta atenta do Governador aos pleitos da população local” e que “isso, certamente indicaria uma postura democrática, que se espera dos representantes eleitos”.