Confira dicas para evitar o desperdício e ser sustentável o ano inteiro

Livros indicam como diminuir os resíduos no Brasil, 4º maior produtor de lixo plástico do mundo

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  • Laura Fernades

Publicado em 16 de dezembro de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

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O ano chegou ao fim acompanhado de promessas de arrumações e exercícios de desapego em prol de um futuro melhor. Se livrar de lixos e outros itens acumulados em casa é o primeiro passo, mas como evitar o desperdício e ser sustentável o ano inteiro? Uma série de dicas podem ser encontradas em diferentes livros lançados esse ano.

Entre eles, o vencedor do Prêmio Jabuti na categoria Economia Criativa, 101 Dias com Ações Mais Sustentáveis para Mudar o Mundo (Labrador | R$ 30,90 | 240 páginas), de Marcus Nakagawa. Mas antes de conhecer as orientações da literatura recente, vale resgatar os dados da produção de lixo no Brasil, que cresce mais que sua capacidade de lidar com os resíduos.

As informações são do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2018/2019, divulgado em novembro pela Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). O levantamento mostra que, em 2018, o país produziu uma média de 79 milhões de toneladas de lixo e essa produção anual deve chegar a 100 milhões de toneladas, em 2030. Cristal Muniz criou um blog para compartilhar como seria parar de produzir resíduos em 2014 e ele virou o livro Uma Vida Sem Lixo (Foto: Felipe Machado-Julia Giusti/Divulgação) Foi pensando em uma vida com zero produção de lixo que a designer catarinense Cristal Muniz, 28 anos, criou o blog Um Ano sem Lixo. A ideia era compartilhar como seria parar de produzir resíduos em 2014, porém, a iniciativa ganhou outra proporção e virou um livro que ficou entre os finalistas do Jabuti 2019: Uma Vida Sem Lixo - Um Guia para Reduzir o Desperdício na sua Casa e Simplificar a Vida (Editora Alaúde | R$ 60 | 248 páginas).

Inspirada na blogueira americana Lauren Singer, que consegue guardar todo o resíduo que produz em um pote de vidro, Cristal propõe mudanças no estilo de vida para diminuir desperdícios e impactos ao meio ambiente. “O livro veio com o convite da editora Alaúde para por em prática a ideia que já tinha tido de reunir todas as dicas de forma fácil, organizada e que servisse de guia para quem quisesse trilhar o mesmo caminho”, conta.

Sem pretensão de chegar onde chegou - foi “um pouco por acaso e um pouco por sorte” -, Cristal conta que sua intenção sempre foi dividir e inspirar mais pessoas a pensarem sobre sustentabilidade. O boom de livros sobre o assunto se deve, em sua opinião, a “um despertar da necessidade de não ajudar o planeta, mas nos ajudarmos, porque é a sobrevivência humana, sobretudo, que apresenta risco se não cuidarmos do meio ambiente”. Chega de Plástico Produzir menos lixo, reconhecer o valor dos alimentos orgânicos e fazer compostagem estão entre as dicas citadas no livro de Cristal, que inclui receitas para reaproveitar frutas maduras e talos de vegetais. Outra dica que ganha destaque em Uma Vida Sem Lixo é fazer compras a granel (mercadoria que é transportada sem embalagem), para evitar o plástico.

“Plásticos de uso único além de serem super poluentes, dificilmente são recicláveis ou reciclados e geram uma montanha de lixo desnecessário”, alerta a autora. Principais responsáveis pelos números divulgados pela Abrelpe, os materiais descartáveis fazem do Brasil o 4º maior produtor de lixo plástico do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, da China e da Índia.“Plásticos de uso único além de serem super poluentes, dificilmente são recicláveis ou reciclados e geram uma montanha de lixo desnecessário”, alerta Cristal Muniz Cristal Muniz criou um blog para compartilhar como seria parar de produzir resíduos em 2014 e ele virou o livro Uma Vida Sem Lixo(Foto: Felipe Machado-Julia Giusti/Divulgação)   O estudo divulgado em março pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF, sigla em inglês) mostra que o Brasil também é um dos países que menos reciclam este tipo de lixo: apenas 1,2% é reciclado, ou seja, 145 mil toneladas. O levantamento diz, ainda, que cada brasileiro produz 1kg de lixo plástico por semana.

A garrafa de água comprada no almoço, por exemplo, pode durar 450 anos e uma sacola plástica usada por cerca de 15 minutos demora de 100 a 300 anos para se decompor. Esses e outros exemplos estão no livro Chega de Plástico (Sextante | R$ 25 | 128 páginas), publicado pelo The Orion Publishing Group e traduzia por Ângelo Lessa.

“Vivemos em um mundo capitalista, onde ter é muito importante. Por isso vemos o desperdício de dinheiro, recursos e objetos para satisfazer essa necessidade material que nos é imposta”, critica Cristal. “Não existe sustentabilidade em um modelo que prevê lucro, porque ele é essencialmente sobra, desperdício. Precisamos caminhar bastante pra sair da lógica linear de ‘produz, consome, descarta’ para a lógica circular de ‘produz, consome, recicla/reaproveita/refaz”, completa.

Diferenças Apesar dos números alarmantes, o vencedor do Prêmio Jabuti Marcus Nakagawa, 42, lembra que as novas gerações estão mais atentas ao tema da sustentabilidade. Professor da ESPM, em São Paulo, Marcus também destaca que grandes empresas estão fazendo produtos a base de lixo plástico do mar e existem iniciativas como a eliminação de canudinho plástico. Marcus Nakagawa venceu o Jabuti de Economia Criativa com o livro 101 Dias com Ações Mais Sustentáveis para Mudar o Mundo (Foto: Divulgação) "As novas gerações estão mais atentas aos temas, tem uma pesquisa da Nielsen de 2015 que mostra que 66% de 30 mil pessoas pesquisadas em 60 países pagariam mais para produtos e serviços de empresas que tenham impactos positivos ambientais e sociais. E este número pula para 72% para a geração Z”, comenta Marcus.

Em seu livro, o autor mostra que diminuir a produção de resíduos, porém, é só um dos caminhos. Viver em um mundo mais sustentável implica em ações como ser gentil, ser voluntário, fazer compostagem, apoiar projetos culturais e conversar com pessoas que tenham opiniões diferentes das suas.

“A cultura é a base para a ampliação de conhecimento, da percepção de mundo, do entendimento da consciência coletiva e, principalmente, para entender que não estamos sozinhos no mundo e que temos muitas diferenças”, defende o autor. “Se não entendemos isso que é básico para o convívio em sociedade, e que estamos num planeta finito, nada adianta falar de sustentabilidade”, reflete.

Dicas de ações sustentáveis para começar 2020 Chega de plástico - 101 Maneiras de se Livrar do Plástico e Salvar O Mundo Autor: The Orion Publishing Group. Tradução: Ângelo Lessa Editora: Sextante Preço: R$ 25 (128 páginas) - Ande com uma ecobag Muitos países já cobram pelas sacolas plásticas, e isso vem fazendo uma enorme diferença no número de sacolas produzidos todos os anos. - Cultive seus temperos Plantar ervas como manjericão, hortelã ou coentro é a coisa mais fácil do mundo. Com isso, você evita comprá-las em embalagens plásticas. - Diga adeus ao chiclete A quantidade de chicletes fabricados no mundo por ano é de 1,74 trilhão. Sua principal matéria-prima é um tipo de plástico. - Compre a lata, não a garrafa O alumínio é o material mais reciclado do planeta - cerca de 70% das latas são feitas de alumínio reciclado. - Prefira pentes ou escovas de madeira As escovas com cerdas feitas de pelo animal costumam receber críticas positivas e negativas, mas você também pode experimentar com cerdas de madeira. - Não fume Além do cigarro causar câncer, os maços são embalados em celofane, o tabaco natural costuma ser comercializado em uma bolsa plástica e boa parte do filtro do cigarro é feita de um tipo de plástico. - Cuidado com os pets Evite os objetos plásticos: prefira tigelas de aço inoxidável e saquinhos biodegradáveis. Uma Vida Sem Lixo - Um guia para reduzir o desperdício na sua casa e simplificar a vida Autor: Cristal Muniz Editora: Alaúde Preço: R$ 60 (248 páginas) - Reduza o consumo de carne Porque é a indústria mais poluente do planeta. É preciso enxergar isso, debater, questionar esse modelo e dar nome aos bois (literalmente). - Mude os produtos de limpeza para casa São produtos altamente tóxicos que causam alergias de pele e respiratórias que podem ser  substituídos por  uma receita simples e natural. - Pare de usar descartáveis Plásticos de uso único além de serem superpoluentes, dificilmente são recicláveis ou reciclados e geram uma montanha de lixo desnecessário. É só carregar um copo e um guardanapo de pano na bolsa para a maioria das situações. - Reduza o desperdício de comida Comer mais cascas, jogar menos comida fora e fazer receitas que aproveitem o todo dos vegetais faz bem pro bolso, pra saúde e pro mundo. - Faça compras a granel Você deixa de produzir o lixo das embalagens das comidas levando seus próprios recipientes de vidro ou de pano. - Tenha uma composteira em casa O lixo orgânico é encarado como lixo comum, mas a verdade é que ele é um livro reciclável úmido. É o resíduo mais biodegradável possível que podemos transformar em adubo, com a ajuda das minhocas, sem muito trabalho. 101 dias com ações mais sustentáveis para mudar o mundo Autor: Marcus Nakagawa Editora: Labrador Preço: R$ 30,90 (240 páginas) - Gentileza gera gentileza As tarefas e gentilezas podem ser desde as mais simples até as mais complicadas – como devolver uma carteira ou ser voluntário em uma ONG. - Ligue-se a seus valores Quanto mais claros forem seus valores e quanto mais estiverem ligados ao grupo social ao seu redor, melhor você poderá agir dentro de sua empresa ou em convivência na sociedade. - Seja voluntário sempre O voluntariado ajuda a mudar vidas, a deixar os dias de pessoas que precisam dessa ajuda (ou só de atenção) mais confortáveis e mais alegres. - Converse com alguém diferente de você É importante conhecermos as diferenças, porque isso nos ajuda a enxergar o mundo de maneira mais solidária, humanitária, e pode, até mesmo, nos ajudar a reconhecer nossas identidades e nossos preconceitos. - Apoie projetos culturais Muitos projetos culturais também têm cunho social, porque podem ajudar comunidades, como projetos relacionados a vendas de artesanato ou arte de comunidades ribeirinhas em situação economicamente desfavorável. - Ensine tudo isso a uma criança (ou a várias!) A melhor fase para começar a ensinar o desenvolvimento sustentável é a infância, pois a criança tem a mente aberta para qualquer assunto, além de ter mais empatia com a vida em geral.