Conheça a história de Malu Verçosa, a alegria da rainha Daniela Mercury

Por Flavia Azevedo

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Publicado em 21 de setembro de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Caminhão pipa e cestas de umbu Malu Verçosa Mercury é uma garota baiana de classe média que, como tantas outras, tem a origem no interior do estado. O pai era de Uauá, onde ela passava férias na infância e adolescência. Foi lá que, logo cedo, entendeu o sentido de "miséria", "solidariedade" e "gratidão". Na pequena cidade, sempre castigada pela seca, costumava acompanhar um tio que alugava caminhão pipa e saia dirigindo para distribuir água na zona mais carente. Dessa época, traz a memória da experiência mais forte de infância: o encontro com as pessoas sofridas nas portas das casas, o brilho nos olhos com a chegada da água e a gratidão materializada em sorrisos e nas cestas de umbu que o tio ganhava de presente.

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Baiana e arteira Por causa do trabalho do pai, que era da Petrobrás, a família fazia muitas mudanças. Numa dessas, Malu nasceu. Estavam em Manaus. Em seguida, viveram em Maceió. Quatro anos depois, foi a vez de Salvador, de onde nunca mais saíram. É a caçula de quatro e, por isso, garante que é a única baiana "mesmo" já que os três irmãos foram criados em diferentes estados do Brasil. "Sou a única que come acarajé, que fala todas as gírias, que culturalmente absorveu os hábitos da Bahia. Sempre fui arteira. Brincava muito de tudo, sempre quebrava um braço, uma costela, cabeça ou pé. Andava bem de patins, skate e bicicleta, sempre pratiquei esportes: natação, volei, capoeira e ainda surfava". Aos 17 anos, foi morar em São Paulo pra fazer faculdade e trabalhar.

Jornalista Em São Paulo, cursou jornalismo e lembra que vivia se perdendo nas ruas, labirintos da metrópole. Um tempo desafiador no qual, engolida pela cidade grande, se sentia tão sozinha que pedia para trabalhar nos finais de semana. Trabalhou no SBT São Paulo, especificamente no TJ Brasil, ancorado por Boris Casoy. Aos 26 anos, depois de ficar presa no trânsito por oito horas, decidiu voltar pra Salvador. Contratada pela TV Bahia, foi editora executiva e editora chefe, durante 10 anos. 

Quando chegou o amor Malu é casada com a cantora Daniela Mercury, de quem já era amiga. Isso, durante anos. Um dia, num telefonema, a amiga disse que havia sonhado com Malu que achou aquilo estranho, gostou daquilo, mas passou a fugir. Durante quase dois meses, o medo venceu. "Por ela ser artista, por saber que ela tinha se separado recentemente, enfim… pensei que eu ia me apaixonar e sofrer depois", relembra para em seguida assumir que já estava apaixonada. Até que um dia, Daniela pegou emprestada uma frase do escritor Mia Couto. Em forma de mensagem, mandou a provocação: “Todo silêncio é música em estado de gravidez”. Num impulso, Malu respondeu: “Então, eu vou parir uma orquestra”. Naquele dia, já era amor e continua sendo, há seis anos.

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Esposa e empresária A jornalista bem sucedida pediu demissão da TV Bahia para escrever o livro "Daniela & Malu: uma história de amor", mas não só por isso. O amor recém-nascido, a família em construção, tudo demandava tempo e disponibilidade. "Nem eu, nem ela aguentávamos o sofrimento das pequenas separações causadas pelas viagens", diz Malu que, ao concluir o livro, desejava um trabalho que a deixasse mais livre para a rotina do casal. Foi assim que virou empresária da esposa, há cinco anos. Por sugestão da cantora, mergulhou em uma nova profissão juntando a experiência de gestora e comunicadora com os ensinamentos profissionais de Daniela: "Foram dias e noites de aulas (...), mas hoje me sinto segura para qualquer situação na carreira dela". Mãe e avó Malu vive, com a esposa e as três filhas, em Salvador. Quando não está viajando, a empresária aproveita ao máximo a casa/ninho que ainda conta com a alegria de duas cadelas: Zum Zum Baba de Maimbê Dandá. "Trabalho em casa, malho em casa, faço as unhas em casa, faço reuniões em casa…. já cheguei a ficar 16 dias sem sair de casa". Malu e Daniela e as filhas Marcia, Bela e Alice (Foto: Reprodução) Nesses períodos, estar presente para as filhas - que têm os cuidados de uma equipe de funcionárias, durante as viagens das mães - é prioridade máxima. O casal ainda tem duas netas: Clarice, 9 anos, e Mel, de 5 meses. Desta, "eu e Daniela acompanhamos o parto e foi uma experiência única para as duas". Malu moleca "Meus irmãos são 8, 9 e 12 anos mais velhos que eu. Fui cuidada como caçula por todos e minhas duas irmãs também foram minhas mães (...). Todos me protegiam muito e me pirraçavam mais ainda, por isso sou escolada na arte de enlouquecer alguém com brincadeiras, menos Daniela. Ela não gosta de ser pirraçada. Ninguém gosta, né? Mas ela eu respeito mais, quase sempre". As brincadeiras incluem dar sustos nas filhas e funcionárias. "Eu planejo o susto, fico às vezes 15 minutos atrás de uma porta escondida, esperando a vítima passar. Todo mundo já sabe, mas todo mundo cai", diverte-se lembrando que, na aliança de Daniela está escrito: "Malu, minha alegria". Por que será?

Amor, militância e o preço disso Na contramão do silêncio de tantas "estrelas" sobre temas polêmicos, Malu vive um casamento que tem uma dimensão de militância. Consciente, mas não refém, dos riscos, a empresária afirma que "tudo que decidimos fazer é discutido e pensado pelas duas. Sempre sabemos as consequências que nossos posicionamentos vão trazer e seguramos a onda porque há um bem maior em jogo: a liberdade". A empresária encara esse movimento como missão e está feliz com os resultados: "Os testemunhos que recebemos no nosso dia-a-dia e nas redes sociais são gratificantes demais" e cita como exemplo a percepção de que o posicionamento do casal contribuiu para a aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo. "Nós aguentamos a onda, sem medo do caldo. Se posicionar no Mercado pop tem um preço. Quem está disposto a pagar?"

Planos e comemorações Atualmente, Malu está a mil com o planejamento dos lançamentos de verão de Daniela, com a organizacão do Carnaval e da Micareta de Salvador que acontece no feriadão de 12 de outubro (Daniela canta dia 13). Segue também, junto com a esposa, como embaixadora da ONU no combate a Homofobia em todo mundo, com o compromisso de irem a Nova York conhecer o novo secretário-geral. Em 2019, a luta é pela criminalização da homofobia no Brasil. Na vida pessoal, planeja férias para 2019, mas antes tem comemoração. No dia 12 de outubro, completarão 5 anos do casamento civil e vão brindar em casa, em família, exatamente como e onde são felizes de verdade.