Conheça a PM baiana que ficou famosa no Rio dançando música afro de farda

Vídeo com Milena Selina viralizou após polêmica com o prefeito Marcelo Crivella

Publicado em 19 de agosto de 2017 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO
. por Foto: Marina Silva/CORREIO

A profissão exige da policial militar Milena Selina dos Santos, 40 anos, certa seriedade e atenção, sobretudo no período de Carnaval, quando ela, ao lado dos seus colegas, garante a segurança de milhões de foliões nas ruas de Salvador. No entanto, em um único momento da festa, o peso da farda é deixado de lado, e o corpo, de forma involutária, responde ao som dos tambores que anuncia a entrada do Ilê Aiyê na avenida. 

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E foi assim, no ritmo do grupo da Liberdade, que a policial ficou conhecida nas redes sociais depois de dançar, imitando os passos de uma Deusa do Ébano, durante uma entrevista ao CORREIO, no dia 10 de fevereiro deste ano.

O vídeo, originalmente publicado no perfil do jornal (ver abaixo), contabiliza mais de 110 mil visualizações, mas foi nos grupos de conversa do WhatsApp que ele teve maior repercursão, em especial na cidade do Rio de Janeiro. 

É que por lá, os policiais baianos foram confundidos com os guardas municipais cariocas (as fardas são parecidas) e a dança da PM foi entendida como uma forma de protesto, já que um questionário distribuído pela prefeitura do Rio, comandada por Marcelo Crivella (PRB), pastor licenciado da Igreja Universal, desagradou alguns servidores.

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No formulário, os profissionais deveriam informar a religião e dizer, ainda, se eram ou não praticantes.

Com a polêmica instaurada, um trecho do vídeo, com a PM dançando música de bloco afro, viralizou, inclusive em outras redes sociais, como o Twitter. Nele, o ex-ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, foi um dos que brincou com a situação. "O Crivella vai enlouquecer com este vídeo", postou, no último dia 11, alcançando mais de 2.100 retuítes e 6300 aprovações, até a noite desta sexta. Assista.

Palcos A repercursão pode ter sido grande, mas não o suficiente para assustar ou deixar Milena inibida. Afinal, a policial domina os palcos e já está mais que acostumada com o reconhecimento do público.

Isso mesmo: além de policial, ela é atriz e, há 19 anos, faz parte de um grupo teatral da própria PM que leva aos abrigos, asilos e escolas, peças teatrais, com a intenção de aproximar a comunidade da corporação.  

Vem daí o jeito da policial para câmeras e, sobretudo para a dança. Isso porque foi nos ensaios do grupo, que acontece pelo menos uma vez na semana, na sede da Seção de Artes do Departamento de Comunicação Social da PM, no Pelourinho, que ela começou a galgar os primeiros passos nas aulas de dança afro, oferecidas por outra policial.  Milena e seus colegas do núcleo teatral da PM, que já existe há 19 anos  (Foto: Marina Silva/CORREIO Mas a vontade que ela cultivava desde a infância de participar do bloco carnavalesco só pôde ser realizado mesmo no ano passado, depois que o grupo teatral foi convidado a participar da Noite da Beleza Negra, momento em que a Rainha do Ilê é coroada. Na Senzala do Barro Preto, no Curuzu, a PM, que também é formada em Direito, foi convidada a subir ao palco para encenar um trecho da peça Ópera de Cidadania que, inclusive, tem o roteiro e direção feita pelos próprios colegas de profissão. E foi assim que, mesmo fardada, enfim, ela pôde se sentir uma Deusa do Ébano. "Para mim, enquanto mulher negra e policial militar, foi um orgulho muito grande entrar na Liberdade, onde, geralmente, a polícia entra de forma repressiva. Eu, naquela noite, estava ali de forma preventiva, por meio da minha arte. Foi gratificante", conta Milena.De lá para cá, enquanto está à paisana no Pelourinho, uma vez, ou outra, a PM é parada e elogiada pela performance e pelo traquejo que tem em cena. O elogio também é dado pela corporação, que reconhece a desenvoltura dela.

"Eu tenho que estar sério o tempo todo? Por que eu não posso sorrir? Nós, policiais, também somos parte dessa comunidade e, acima de tudo, somos baianos e a Bahia usa a cultura e a arte para tudo", diz o capitão Elton Santana.

A trupe O grupo teatral da PM existe há 19 anos e, ao longo desse tempo, cerca de 800 mil pessoas já assistiram às apresentações teatrais promovidas pela trupe. Atualmente, 19 policiais entram em cena para aproximar a corporação à comunidade. 

O sucesso do grupo é tão grande que já foi até objeto de pesquisa nos Estados Unidos, quando os policiais foram convivados a viajar ao país para se apresentar por lá. 

E as apresentações são tantas que, há um ano e meio, os integrantes deixaram de ir às ruas, para se dedicar aos palcos. Todos os policiais, exceto em grande eventos, como Carnaval, apenas trabalham de forma preventiva, como eles costumam chamar as apresentações.

Abaixo, a apresentação completa do grupo na redação do CORREIO