Conheça as animações brasileiras queridinhas dos pequenos

Produções têm ajudado a diversificar a produção televisiva nacional e acumulado fãs no mundo

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  • Laura Fernades

Publicado em 14 de outubro de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

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Basta ter uma criança na família para ficar atualizado sobre os desenhos que fazem mais sucesso no momento. E ai de quem não souber o que é O Show da Luna, o Peixonauta ou o Irmão do Jorel, animações brasileiras que têm ajudado a diversificar a produção televisiva nacional e acumulado cada vez mais fãs no mundo. Não conhecer os queridinhos soa quase como uma ofensa para os pequenos que sabem de cor os horários de exibição na televisão, ou desfilam habilidade ao recuperar aquele episódio perdido nos aplicativos de streaming.

Tem gente que é tão fã que insiste para o aniversário ter o desenho favorito como tema. “Mal acabou a festa dela, em janeiro, e já me pediu para fazer o próximo com o Show da Luna”, riu a empregada doméstica Renata Maria dos Santos, 39 anos, sobre a filha, Júlia, 3. “Já me pediu para comprar a roupinha da Luna, o bolo...”, enumerou, no telefone que estava no viva- voz. Então, a própria Júlia completou com “a vela da Luna, a canção da Luna...”, arrancando risos da mãe.

Atenta ao fato de que não pode deixar a filha na frente da televisão por muito tempo, “sei que não é bom pra uma criança de três anos”, Renata garante ficar tranquila com o conteúdo exibido no desenho. Então, quando precisa trabalhar e entreter Júlia, que não gosta de brincar sozinha, atende ao pedido para colocar O Show da Luna.

“Esse é educativo. Nunca vi nada que achasse que não pudesse deixar ela ver. Achei interessante e criativo, porque ela faz experiências com o irmãozinho e se transforma nas coisas. Por exemplo: ela vê um peixinho no mar, se transforma em outro e vai viver aquela vida. Se coloca no lugar das coisas”, reflete Renata ao citar o desenho favorito da filha que já sabe acessar os canais no YouTube e só não liga a televisão porque ainda não sabe mexer no controle. O Show da Luna estimula a curiosidade para abordar as áreas da ciência, astronomia e biologia (Foto: Divulgação) Filão Júlia é só uma das fãs de animações brasileiras que são campeãs de audiência, seja em canais pagos como Discovery Kids e Cartoon Network, seja em serviços de streaming como Globoplay e YouTube, com números expressivos de visualizações. O Show da Luna e Peixonauta, ambos do Discovery Kids, por exemplo, têm larga presença em toda a América Latina, nos Estados Unidos, em Portugal, na Turquia, na Republica Tcheca e em países da África e da Ásia.

Já Irmão do Jorel, exibido pelo Cartoon Network, está em mais de 61 milhões de casas em toda a América Latina, com tradução em espanhol e inglês. O filão da animação é tão fértil que não param de surgir produções como Clube da Anittinha, que estreou semana passada nos canais Gloob e Gloobinho; Super Drags, primeira animação brasileira da Netflix, ainda sem data de estreia; e Cantando com Ping e Pong, que estreia em novembro, no Discovery Kids.

Mas, afinal: o que é que a animação brasileira tem de tão especial? “Os elementos são muito sutis e normalmente não fica evidente que trata-se de um produto brasileiro. Mas as crianças encontram ali uma conexão”, garante Ricardo Rozzino, 63, sócio-diretor da TV Pinguim, estúdio de animação responsável pela criação de O Show da Luna, Peixonauta e Cantando com Ping e Pong.

Brasileiras, mas sem focar no regionalismo, as animações citadas têm em comum o fato de conseguir fugir do estereótipo para representar a cultura do país.“A identificação acontece por elementos gráficos, visuais, sonoros e narrativas que vão tocar o público de maneira que ele vai se identificar. O personagem não precisa estar lá sambando ou jogando futebol para mostrar que aquilo é brasileiro”, garante Rozzino. Com trilha marcada pela música popular brasileira, Peixonauta mostra a fauna e a flora típica do Brasil (Foto: Divulgação) Ou seja, em o Peixonauta, que ganhou mais um filme esse ano, o público encontra florestas com restingas, mangues e morros. “Paisagem bem brasileira, né?”, pergunta Rozzino, que também destaca a música como elemento importante. A trilha sonora tem instrumentos como o triângulo e a sanfona, sendo a abertura do desenho um clássico da música sertaneja tradicional: “Quem te ensinou a nadar/Foi, foi marinheiro/Foi o peixinho do mar”.

“Não desejamos fazer um produto brasileiro, mas um produto do Brasil para contar histórias para as crianças do mundo inteiro”, garante o porta-voz da TV Pinguim sobre a animação que aborda temas universais como a poluição ao meio ambiente. “Existe uma identificação natural, subjetiva e o sucesso desses e de outros produtos brasileiros está imbutido nisso: uma história gostosa de ver que não traga informação estereotipada”, defende.

Excêntrico O mesmo acontece com Irmão do Jorel, primeira série de animação original do Cartoon Network na América Latina. Voltada para crianças de 7 a 11 anos, a trama faz sucesso também entre adultos ao retratar uma família excêntrica e aventureira dos anos 1980. “Talvez as pessoas encontrem no Irmão do Jorel aquilo que enxergam na família delas”, explica o criador da série, o capixaba Juliano Enrico, 34, sobre a história inspirada em sua própria família.

A começar pelo nome do protagonista que nunca é pronunciado, afinal ele é “irmão do Jorel”. Ao longo da trama, o personagem até descobre maneiras absurdas de sair da sombra de seu irmão mais velho, que é uma celebridade. Mas seu verdadeiro nome continua um mistério para todos. Irmão do Jorel é a primeira série de animação original do Cartoon Network na América Latina (Foto: Divulgação) “Todo mundo, em algum momento da vida, foi irmão de alguém, amigo de alguém, filho de alguém. Nessa idade entre a infância e adolescência é o momento que as pessoas estão superando os primeiros obstáculos da vida. Rola aquele conflito interno que a gente supera de formas diferentes”, garante Juliano.

 A partir da vida real e de temas como igualdade de gênero e liberdade de expressão, a história mergulha em um mundo de fantasia sem pé nem cabeça. Afinal, a família viaja no tempo, cria patos que atiram raios pelos olhos e “rola uma série de aventuras malucas”, explica, sobre a série realizada pela Copa Studio.

Com a participação do rapper paulista Criolo, na terceira temporada, Jorel vai ganhar um jogo de videogame, um longa-metragem e um livro com história inédita, além de uma quarta temporada ainda em fase de negociação. Tudo isso “sem perder o foco no entretenimento e na comédia”, garante Juliano, que não esconde a animação com a cena nacional.

“O Brasil já é reconhecido mundialmente como polo de animação, com séries competitivas internacionalmente. Isso é fruto de ações importantes para a indústria da animação brasileira, para a cultura. A cada dia são novas séries e existe um público para isso, existe audiência”, destaca. “Está crescendo muito e não pode parar”, garante.