Conheça David Batedeira, o dançarino de 9 anos que conquistou Xanddy e Márcio Victor

Ele ficou famoso depois que um vídeo em que dançava a música Batedeira viralizou

O dia 23 de maio é um dia de comemoração na casa da família Brito, no bairro de Castelo Branco. É dia do aniversário do filho David Samuel, que, esta semana, completou nove anos. Este ano, a festa foi dupla: foi também o primeiro aniversário de carreira do garoto. Há um ano, ele se tornou o dançarino mirim David Batedeira. 

Se você nunca ouviu falar dele, não se acanhe. Enquanto isso, nomes como Xanddy, do Harmonia do Samba; Léo Santana; Márcio Victor, do Psirico; Tonny Salles, do Parangolé; Bruno Magnata, do La Fúria e Carla Perez o conhecem tão bem a ponto de convidá-lo a dividir o palco. No último ano, David apareceu para a música baiana e para o mundo: hoje, tem mais de 78, 8 mil seguidores no Instagram e as fotos e vídeos postados incluem artistas ainda como Daniela Mercury, Igor Kannário, Thiaguinho e Lore Improta. 

“Antes eu era fã desses artistas. Hoje, já encontrei todos. Foi maravilhoso conhecer cada um”, conta David, com um sorriso que não saiu do rosto durante as quase três horas em que esteve com a equipe do CORREIO. Na quarta-feira (23), ele recebeu a reportagem na casa de número 7 da Rua Eliomar Caldas, onde a família – os pais, a irmã de 18 anos, o irmão de 2 e a cachorrinha Belinha – mora a vida inteira. 

David tinha acabado de chegar na Escola Alfa Luz, que fica no mesmo bairro, em Castelo Branco, onde cursa o 3º ano do Ensino Fundamental em tempo integral. Naquele dia, ganhou um bolo surpresa da professora e dos colegas. Alguns dias antes, sua mãe, a cabeleireira Viviane dos Santos, 37 anos, tinha explicado que, este ano, não daria para fazer uma “brincadeira” em casa, com festa e lanche para os amiguinhos. A família anda apertada nos últimos tempos.  Nas horas livres, David se divide entre brincar e ensaiar (Foto: Marina Silva/CORREIO) Nada que desanimasse o pequeno. Os sonhos de David são grandes – e a preparação é de gente grande também. A irmã mais velha, Estefani, passou pouco mais de uma hora fazendo o penteado com que aparece nas fotos e vídeo dessa reportagem. Com ajuda de uma chapinha e de bastante fixador, garantiu que as madeixas assumissem a angulação perfeita para serem arrematadas por uma bandana. As luzes foram feitas pela própria mãe, que revelou que se esforça para garantir um visual diferente a cada apresentação. 

Vaidoso, David pediu que as fotos e os vídeos fossem feitos depois que ficasse pronto. Queria aparecer da melhor forma possível. Experimentou óculos escuros e diversos cordões de ouro até definir o look.“Sou vaidoso mesmo. Todo mundo fala isso”, admite, rindo. Na parede da sala, uma cartolina branca revela o cronograma do garoto: às segundas, quartas e sextas, depois que chega da escola, David ensaia. Às terças e quintas, brinca. Os ‘ensaios’, na verdade, são uma vontade do próprio dançarino. Os pais não interferem. Ele passa cerca de uma hora, em cada um desses dias, assistindo a vídeos de canais do YouTube como o do Fit Dance e de Lore Improta, além do perfil Toca Hit, no Instagram, para treinar passos e criar suas próprias coreografias. 

Nos dias em que não ensaia, gosta de jogar bola, brincar de ‘pique, pique, picolé’, mimar a cachorrinha e curtir o irmão Deivisson, 2. No entanto, o estudo continua em primeiro lugar. David cursa tempo integral e os pais esperam boas notas. Orgulhoso, ele faz questão de falar sobre uma das notas 10 que recebeu: em Comportamento.  David conta que é um bom aluno e tirou '10' em comportamento (Foto: Marina Silva/CORREIO) Ele logo explica que não conversa durante a aula e não bagunça. Os olhos brilham quando diz as matérias preferidas: Matemática e Ciências. Adora fazer contas, ainda que a veia artística fale mais alto. O pai, o motorista Davi Brito, 35, costuma conversar com ele sobre isso. Outro dia, mostrou um vídeo da cantora Simone, da dupla Simone e Simaria, no exterior, dizendo que não sabia falar inglês. “Eu digo sempre que, para ser um artista, ele tem que saber ler, escrever, tem que se dedicar aos estudos. Digo para ele que vai precisar também aprender línguas para que, quando ele chegue lá, ele saiba se comunicar. E ele vai chegar lá”, confia.Enquanto o pai fala, David presta atenção. Vez ou outra, pede desculpas por interromper e acrescentar algo. Perguntamos se ele é tímido e a resposta é positiva. “Eu sou tímido na escola, às vezes. No palco, não sou. No palco, é tchau, ‘vergoinha”, brinca. 

Viralizou Mas como tudo começou? No dia 23 de maio de 2017, David ganharia um presente do pai: uma roupa nova para que pudesse aproveitar a ‘brincadeira’ – a festinha com os amigos no dia do aniversário. Os dois foram juntos a uma loja de roupas. “Já ouviu falar de Pau da Lima?”, pergunta, à repórter. Diante da confirmação, ele continua. 

Na loja, uma música tocava enquanto ele experimentava uma bermuda. Já vestido, virou para o espelho e começou a dançar: era a música Batedeira, da La Fúria. “Ô, tio, olha”, chamou o dono da loja, que começou a registrar o momento em seu celular. Depois, o rapaz postou o vídeo em suas próprias redes sociais e o negócio viralizou. Em pouco mais de um dia, tinha mais de 16 mil visualizações. 

David já dançava – em casa, na rua, na frente do salão da mãe, em campeonatos de futebol que o pai levava no fim de semana, em qualquer lugar. Onde quer que fosse, chamava atenção pela desenvoltura e pelo relaxamento. Nos campeonatos de futebol, amigos e vizinhos costumavam dizer a Davi, o pai, que levasse o filho no programa Universo Axé, da TV Aratu. Mas foi só depois desse vídeo que as coisas começaram a acontecer. 

“Eu nem tinha redes sociais. Só tinha o WhatsApp. Pedi à minha filha para criar um Instagram para David. Numa noite, já tinha 10 mil seguidores. No Facebook, uns cinco mil”, lembra. O universo também conspirou a favor: dois meses depois, Davi e o tio de David, o auxiliar de almoxarifado Romualdo Bispo, 41, saíam de um shopping quando avistaram o ônibus da La Fúria um posto de gasolina na Avenida Tancredo Neves. 

David Batedeira no @pgmuniverso @rdg.grifes @lafuriaoficial #dancer #dancarino #kids #africa #jamaica #brasil #bahia #salvador #bandalafuria

Uma publicação compartilhada por David Batedeira (@davidbatedeira) em 3 de Ago, 2017 às 2:23 PDT

Conversaram com o vocalista Bruno Magnata e mostraram o vídeo de David. O cantor logo se interessou e fez o convite para que, no dia seguinte, levassem o menino no programa de televisão. David acabou se apresentando com a banda e, dali para frente, só acumulou participações. “O Verão foi intenso. Ele participou de quase todos os ensaios”, conta o tio Romualdo. 

Só com o Harmonia do Samba, se apresentou cinco vezes. Para a família, Xanddy foi um dos maiores apoiadores do garoto.“O David é um menino muito especial, é bastante talentoso, carismático, com um swing maravilhoso e que tem um caminho enorme pela frente. E o Harmonia sempre estará de portas abertas para recebê-lo e apoiar nessa trajetória”, elogiou Xanddy ao CORREIO. @xanddyharmonia obrigado,sempre quando te encontro Deus me faz brilhar mais.????????❤❤???????? @harmoniadosamba

Uma publicação compartilhada por David Batedeira (@davidbatedeira) em 15 de Dez, 2017 às 5:20 PSTPosso garantir a vocês que o tio @xanddyharmonia é sensacional demais! Te amo meu tio ❤️❤️❤️

Uma publicação compartilhada por David Batedeira (@davidbatedeira) em 21 de Mar, 2018 às 6:17 PDTNo Carnaval, David saiu no trio de Carla Perez, no bloco Algodão Doce, e no que foi puxado por Hiago Danadinho. Com cada artista, guarda uma memória. Lembra que, quando conheceu Márcio Victor, o vocalista do Psirico brincou e perguntou se ele só sabia dançar a música da Batedeira. “Ele (David) foi para o palco e brocou com a Popa da Bunda”, lembra Romualdo, tio de David. 

Por telefone, Márcio Vitor conversou com o CORREIO sobre David. O cantor conheceu o pequeno dançarino no YouTube. “Logo que fizeram o primeiro vídeo dele, me marcaram. E primeiro eu sempre quero saber sobre estudo, se está na escola. E quando eu vi, fiquei: ‘ih, rapaz’. Esse menino é um fenômeno. E ele é antenado, dança tudo. Psirico, La Fúria, as bandas menores... Ele chega junto mesmo”. 

Ensaio de verão do @pida com @psirico @raquellverri #VeeeeemVerão #VeeeemCarnaval #pidadeverão #nopidaédiferente #nopidaémaisgostoso #sbtfolia #pidadeverão2018 #seliguenopida #salvador #bahia

Uma publicação compartilhada por David Batedeira (@davidbatedeira) em 21 de Dez, 2017 às 11:21 PST

David participou de três apresentações do Psirico, todas no Verão – um Ensaio do Psi, um show com É o Tchan e o Universo Axé. Para Márcio Victor, a dança de David é uma expressão do gueto.“Eu me vejo nele, porque comecei muito cedo. E vejo que o pai apoia, que é colado com ele. É um exemplo para esse Brasil, que tem tanta coisa ruim acontecendo e chega David com esperança do futuro que a gente quer para os nossos filhos, que é trabalhar dignamente”, diz Márcio Vitor, lembrando que, quando mais novo, era muito proibido ter acesso aos palcos e sair à noite. “É uma responsabilidade dos pais cuidar disso. Isso me emociona muito, porque meu pai mora em Aracaju (SE), com outro casamento. Não mora aqui. E David pode ser aproveitado para muito mais coisas, como o teatro. Seria legal se Fernando Guerreiro (diretor teatral e presidente da Fundação Gregório de Mattos) desse uma olhada nesse menino, que o pessoal do Bando de Teatro Olodum desse uma bolsa, para ele ser não apenas um dançarino, mas expandir. Tudo para que tenha continuidade e a gente tenha mais um grande showman”, opina. 

Obrigado meu Deus por ter esse talento lindo ???? @Psirico @pida ..

Uma publicação compartilhada por David Batedeira (@davidbatedeira) em 22 de Dez, 2017 às 3:53 PST

David Batedeira admira, ainda, Ivete Sangalo – que “pode até não dançar tanto, mas quando canta, é massa!” e Anitta. Outra inspiração é Tony Salles, de quem é fã de carteirinha. 

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Continuar criança  Mesmo com o sucesso, a família lida com as críticas. Nas redes sociais e mesmo na vida real, entre os conhecidos, há quem diga que devem desistir. Dizem que a carreira de David não vai vingar. Quem dá a resposta aos ‘haters’ é o próprio David.

“Alguns ainda têm opinião ruim, mas eu não ligo, porque aqui é humildade sempre. E também porque o mundo é redondo, né?”, diz, aos risos, mas, ao mesmo tempo, com a seriedade de um adulto. 

O pai é quem o acompanha na maior parte dos eventos. Antes de levá-lo, sempre procura saber como é o ambiente da festa ou do show. Se acharem que é adulto demais para uma criança de 9 anos, não o levam. Os horários também são um limite. “Se tiver um evento dia de domingo, por exemplo, e se for cedo, eu levo. No domingo, ele tem que estar em casa antes de 20h para já se preparar para a escola no outro dia”, explica Davi.  A família de David - a mãe, Viviane, a irmã Estefani, o pai, Davi, e o pequeno Deivisson - é a maior apoiadora de David (Foto: Marina Silva/CORREIO) A mãe, Viviane, comemora o fato de David não deixar de ser criança. Ela explica: na rotina dele, quase nada mudou. A diferença é que, agora, ele vai onde é convidado. Porém, até o momento, David ainda não recebeu nenhum tipo de pagamento – somente a visibilidade. Os pais querem, num futuro próximo encontrar um empresário para ele e matriculá-lo em uma aula de canto. 

“Ele anda muito com o pai e o pai o protege de tudo. Só por isso não me preocupo tanto. A gente sabe que encontra muitas pessoas boas, mas nunca se sabe”, diz ela. Viviane também teve o sonho de trabalhar como dançarina. Chegou a participar de concursos no finado Lagoa Mar, mas a vida foi por outro caminho. 

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Por isso, sempre achou natural que David nascesse dançando. Ele fazia coreografias na frente do salão dela. Desde dois, três anos, vivia se remexendo. E, ao mesmo tempo, cresceu fazendo reflexões.“Ele fala: ‘mãe, eu vou te ajudar. Vou dar para Deivisson o que a senhora não conseguiu dar para mim’. Diz: ‘vou melhorar, vou tirar a senhora daqui’. Não tem nada de errado em morar aqui, mas ele sempre teve essa vontade de querer o melhor. Todos os artistas vieram de baixo, da periferia, e hoje ajudam suas famílias. A gente tentou frear (a dança), no início, mas ele quis muito”. Diante de tanta determinação do garoto, a família decidiu investir no sonho. Agora, o sonho de David também é o sonho de todos. 

Atuar e cantar Mas David não quer uma só carreira – quer múltiplas. Antes mesmo de bombar nas redes sociais, sonhava em ser ator. Fã de Carrossel, logo cita os atores que interpretavam Cirilo, Jean Paulo Campos, e Maria Joaquina, Larissa Manoela, na novelinha. Larissa, inclusive, se tornou uma popstar entre o público infanto-juvenil. 

Com 14 milhões de seguidores no Instagram, já lançou dois álbuns, dois livros e, só ano passado, protagonizou dois filmes. Em um ensaio de verão, encontrou o ator Marcelo Batista, que interpretava o pai de Cirilo, José Rivera, na novela. “Oxe! Chega chorei”, lembra David. 

A próxima empreitada é se jogar como cantor. Já tem até uma música, composta por ele e pelo tio, Romualdo. A letra, inspirada na – ainda breve – carreira do próprio David, não podia ser mais oportuna. 

Confira um trecho

“Ô, mete a cara e empina a cara, achando que tá abalando Segura a onda, meu filho, você tá iludido, tá se enganando O segredo é humildade, use a cabeça, pegue sua visão Segue a terra do homem com a mente fresca e os pés no chão Amigo, não pense que a vida é assim Chega pra perto de mim Se você quer fama, você quer nome, cola no lado do homem” David também quer ser cantor e já tem até música (Foto: Marina Silva/CORREIO)

'Família tem que estar perto', diz psicóloga  Crianças que se tornam famosas precisam mesmo ter o acompanhamento dos pais. É o que diz a psicóloga Celma Borges, doutora em Sociologia e professora aposentada da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (Ufba). 

“A família tem que estar perto, a escola tem que estar perto e tem que ter o cuidado dos produtores encarregados de fazer o acompanhamento artístico da criança. Tem que ter o acompanhamento direto”, diz Celma. 

Ela explica que, mesmo que uma criança não tenha o mesmo discernimento de um adulto, ela vai ter uma certa compreensão – de criança. Por isso, é importante estar atento ao ciclo de pessoas e observar outros tipos de influência sobre os pequenos. 

“Há certas coisas que, inicialmente, trazem muita alegria, felicidade e sucesso, mas, dependendo do encaminhamento, acabam levando a algum prejuízo e a algum processo de desorientação. Por isso, a família tem que estar perto e falar numa linguagem que criança entenda. Não adianta falar de uma forma científica”, explica a especialista.