Conheça detalhes do disco que o BaianaSystem lança sexta-feira (15)

Manu Chao, Curumin, BNegão e Ubiratan Marques estão entre as participações

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  • Laura Fernades

Publicado em 13 de fevereiro de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Cartaxo/Divulgação

O Carnaval quem faz é o folião, mas quem anuncia que está começando mais uma temporada é o grupo BaianaSystem, com sua tradição de lançamentos na véspera da folia. Para não perder o hábito, o grupo divulga nessa sexta-feira (15), faltando duas semanas para a festa de Momo, o aguardado terceiro disco: O Futuro Não Demora. Mas quem está em busca do peso do pagodão que marcou sucessos como Playsom e Forasteiro, um aviso: o álbum segue outro caminho.

Não, ele não deixa de ser dançante e está cheio de ijexá, samba-reggae, beats eletrônicos e percussão afro-baiana, com direito a uma fusão latina que tem participação do cantor franco-espanhol Manu Chao. A guitarra baiana, marca do grupo criado há dez anos, também segue firme e forte. Dessa vez, porém, o capitão do navio pirata aprofunda o mergulho sonoro experimentado no disco Duas Cidades (2016) e convida o ouvinte a desacelerar.

Ou seja, O Futuro Não Demora vai além do peso que sempre marcou as rodas dos shows e apresenta uma interessante fusão sonora que segue dando identidade ao grupo. Dividido em Lado Água e Lado Fogo, o álbum se afasta da atmosfera urbana de Salvador e mergulha na calmaria da Ilha de Itaparica, onde foi idealizado na casa de um dos integrantes.“Em Duas Cidades, a gente mostrou a dualidade de Salvador. Agora, quando a gente vai para a ilha, a gente começa a entender um terceiro ponto: de contemplação. Vendo Salvador de fora, a gente vê o valor do mar, das mensagens ancestrais, da oralidade”, explica o cantor Russo Passapusso, 36 anos.“A gente começou a ver a importância da Ilha de Itaparica para a história do Brasil”, completa o guitarrista Roberto Barreto, 47, sobre o disco feito a partir de pesquisa que durou um ano.

Processo inverso ao experimentado até agora pela banda inspirada no soundsystem jamaicano. Ou seja, no lugar de testar as músicas ao vivo e depois criar o disco, O Futuro Não Demora foi concebido primeiro e só depois vai chegar ao palco. Uma prévia será apresentada dia 23, quando acontece o Baile Arapuca, no Othon. A festa, por sinal, leva o nome de uma das músicas do disco, uma das poucas que têm o pagode como marca.

“A gente sempre tocou ijexá, cumbia, rock’n’roll, reggae e pagode, mas as pessoas conectam só o pagode. É um ritmo que tem uma conexão muito forte, mas o Baiana sempre transitou pelos ritmos livremente. Mesmo que as pessoas rotulem, o pagode é só uma passagem dentro desse celeiro maravilhoso de ritmos que a gente tem aqui”, resume Russo. Capa feita por Cartaxo (Divulgação) Sistema Para dar fôlego à mistura sonora, o disco produzido por Daniel Ganjaman conta com participações bem distintas. Além do já citado Manu Chao, o BaianaSystem convida nomes como Ubiratan Marques, maestro da Orquestra Afrosinfônica; o rapper BNegão, do Planet Hemp; o cantor paulista Curumin; o cantor e instrumentista Mestre Lourimbau; e a dupla Antônio Carlos e Jocafi.

O Maré de Março, movimento sócio-ambiental formado por jovens da ilha, e o rapper Vandal também estão no álbum cercado de colaborações. “Nesses dez anos, a gente foi entendendo que o Baiana não é só um ‘system’ ligado ao som, mas um sistema de colaboradores que passaram e contribuíram com percussão, beats, sintetizadores, cordas...”, ressalta Beto. “Isso, na verdade, foi alimentando o Baiana ao longo do tempo”, completa, sobre o grupo que inclui Seko Bass na linha de frente, além de João Meirelles, Icaro Sá, Japa System e Junix 11, colaborador constante.

É assim que o álbum marca os dez anos do grupo criado em 2 de fevereiro de 2009, mas sem muito alarde. Afinal, os próprios integrantes não perceberam a passagem do tempo. “Não vi esses dez anos passarem (risos). O corpo é de dez anos, mas dentro a gente continua sonhando como uma criança de dois anos”, brinca Russo.

Não à toa, o disco anuncia que o futuro não demora e “está logo ali”, como lembra Beto. “É aquela história que tem a ver com o pensamento espiritual de pensar no agora, tentar entender o que está acontecendo hoje para entender o que vem por aí”, compara o guitarrista.“São dez anos, mas não parece. A gente se sente da mesma maneira, experimentando como nos primeiros dias”, garante. Russo Passapusso, Seko Bass e Roberto Barreto estão na linha de frente da BaianaSystem (Foto: Cartaxo/Divulgação) Carnaval Responsável por arrastar um mar de gente no Carnaval de Salvador, o BaianaSystem até agora só está confirmado em um dia da folia baiana: no Furdunço, dia 28, na Barra. Questionados sobre o contraste com o ano passado, quando se apresentaram em praticamente todos os dias da festa, os meninos dizem que é algo que foge do controle do grupo e depende mais de convite.“Depende do poder público. Enxergo isso com muita naturalidade. A pergunta é: por que o Carnaval está assim? Como será este ano?”, pondera o vocalista do grupo, confirmado nas folias de Recife, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.Certo de que isso serve para compreender melhor a festa, Russo vê o Carnaval como “termômetro que revela coisas do povo, da mídia, da política”. “É uma forma de leitura do que estamos vivendo hoje”, acredita.

Enquanto avalia o presente e questiona como serão os futuros carnavais, o cantor reforça o convite pré-folia: desacelerar um pouco, escutar O Futuro Não Demora e mergulhar nos inúmeros significados do disco. “É um convite para respirar embaixo d’água, mergulhar no centro da Terra, chegar no fogo e ter uma visão das relações com a diáspora”, resume.

Apesar das incontáveis simbologias, o disco que começa com a música Água e termina com a faixa Fogo é, na verdade, um simples encontro da “música pela música”, diz Russo. “É nisso que acredito. Ele desabrocha uma coisa que estava em todos nós: mergulhar diretamente na música”, finaliza, fazendo o convite.

O Futuro Não Demora

| Ficha técnica e novidades |

Lançamento: selo Máquina de Louco. O disco tem produção de Daniel Ganjaman e coprodução do grupo BaianaSystem Participações: Manu Chao, Ubiratan Marques, Curmin, BNegão, Antônio Carlos e Jocafi, Maré de Março, Vandal, Lourimbau, Novíssimo Edgar, Mestre JacksonMais lançamentos: Será lançado, em breve, um vinil com as versões completas das músicas Água e Fogo, com a Orquestra AfroSinfônica