Conheça Márcio Freire, baiano que encarou ondas gigantes no Havaí

Surfista está de volta à Bahia após 20 anos

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  • Daniela Leone

Publicado em 4 de janeiro de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

As 21 pranchas espalhadas propositadamente pelo mundo falam muito da personalidade aventureira e desbravadora do soteropolitano Márcio Freire, um dos pioneiros nas ondas de Jaws. Após 20 anos no Havaí, o surfista está de volta à Bahia. “É definitivo”, garante, um ano após chegar ao Brasil.

Além das cinco pranchas que ficaram no Havaí, ele deixou no caminho de volta outras quatro na Indonésia, seis em Portugal, duas em São Paulo e já tem quatro no apartamento onde mora, na Graça. Todas já devidamente testadas na praia do Barravento, na Barra, onde surfava quando criança.

“Aqui tem ondas boas. Quando começou a dar onda, foi bem legal surfar no local em que eu comecei, apesar de ser diferente, claro, pela constância e tamanho das ondas”, compara Márcio, que planeja viajar a passeio para Chile e México em 2020. Consequentemente, a coleção vai aumentar.

“Cada prancha é para um tipo de onda. Precisa ter a prancha certa para o mar certo”, justifica. “Viajar com prancha é muito caro. Prefiro deixar na casa de amigos para garantir que eu vou voltar”, diverte-se. Márcio Freire está com 44 anos e vai morar em Itacaré Márcio chegou a Maui, no Havaí, em 1º de novembro de 1998, com 23 anos, pouco depois de se profissionalizar no surfe. Lá, decidiu abandonar as competições e se tornar um freesurfer, vertente em que o praticante surfa exclusivamente para se divertir, sem se preocupar com performance e participar de torneios.

Acabou se tornando um dos pioneiros na remada em Jaws, uma das maiores ondas do mundo. Hoje, as famosas ondulações gigantes atraem surfistas e chamam a atenção do público de todo o mundo. Quem encara o desafio, vai preparado com colete inflável, equipe de socorro à postos e é colocado na onda com a ajuda de um jet ski.  

Não era assim em 2007, quando Márcio e os conterrâneos Danilo Couto e Yuri Soledade resolveram desbravar a temida onda de Jaws apenas de bermuda e com a força dos braços. Na época, ninguém acreditava que isso era possível.  “Em condições grandes, nós fomos os primeiros a surfar ali, sem ajuda do jet ski, sem um plano B, numa época em que não tinha equipamento de segurança”, recorda Márcio. “A partir de 2011 começaram a vir pequenos grupos com os melhores surfistas do mundo. Eles trouxeram a mídia, segurança e, em 2012, viralizou. A partir daí, todos os surfistas que gostam de pegar ondas grandes quiseram surfar aquela onda”.

Por terem escrito um novo capítulo na história do surfe mundial, eles ficaram conhecidos por ‘Mad Dogs’. O apelido dá nome a um documentário sobre o feito.“É muito bom saber que eu influenciei uma nova geração de surfistas de ondas grandes, surfistas locais do Havaí, que fiz parte da história do surfe. É gratificante, uma sensação boa saber que fiz algo no momento certo, de coração e alma. Terminei não sendo surfista profissional, mas tive destaque e reconhecimento mundial. Olho pra trás e me sinto bem”, avalia.  Sem patrocínio, Márcio fez um pouco de tudo para se manter no Havaí. Trabalhou como lavador de pratos em restaurante, jardineiro, reciclagem, instrutor de mergulho e guia turístico em passeios de barco. Vivia bem, mas nunca esqueceu o tempero da terra onde nasceu.

“Eu tinha muita saudade da comida. De acarajé, abará, feijoada, cozido, moqueca”, lista. “Eu até fazia moqueca lá no Havaí, ou melhor, tentava, porque nunca ficava igual”, recorda, em meio a risos. “No meu primeiro dia aqui em Salvador fui logo numa baiana de acarajé”.

Futuro Aos 44 anos, Márcio Freire está de malas prontas novamente. Dessa vez, vai morar a apenas 250 km de Salvador. O surfista vai firmar residência em um outro paraíso: Itacaré. Ele comprou três canoas havaianas para trabalhar em um hotel na Praia da Concha. “Vou ficar lá um bom tempo. O investimento é para dar treinamento de canoagem, fazer passeios de canoa e dar aulas de surfe”, conta.

A escolha pela canoa havaiana não foi à toa. Márcio usava o esporte como forma de aprimorar a forma física para o surfe. Ele remava quatro vezes por semana e participava anualmente das principais regatas da categoria.

“Atravessei a maioria dos canais do Havaí e participei por 12 anos das competições de canoagem mais tradicionais do mundo, como a Molokai Hoe. Era uma forma de me preparar para pegar onda grande”. Quem quiser conhecer o baiano que fez história no Havaí, já não precisa mais atravessar o continente.