Conheça roteiros de turismo étnico comunitário em quilombos do Recôncavo

Caminhos ancestrais: Rota da Liberdade contempla as comunidades quilombolas de Kaonge, Dendê, Kalemba, Engenho da Ponte e Santiago do Iguape

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  • Priscila Natividade

Publicado em 30 de abril de 2022 às 16:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

Catar o dendê no quintal e ver ele se transformar em azeite, ingrediente indispensável da moqueca que vai ser servida à mesa. Enquanto isso, um bate-papo cheio de sabedoria sobre as plantas medicinais que Vardé, de 96 anos, usa para produzir o xarope que, segundo a xaropeira quilombola, cura qualquer doença respiratória. Cair no samba, por que não? Isso também faz parte do roteiro de quem estiver disposto a passar o dia vivenciando a experiência de uma comunidade quilombola que resiste. 

O passeio turístico é uma iniciativa do Núcleo de Turismo Étnico Rota da Liberdade, que faz parte do Núcleo de Turismo Étnico Comunitário da Zona Turística Baía do Iguape.  Formado por representantes, lideranças e moradores dos quilombos Kaonge, Dendê, Kalemba, Engenho da Ponte e Santiago do Iguape, a proposta é usar a atividade turística como caminho para fomentar a economia solidária na região, a partir da cultura e tradição dos quilombos.   Dona Vardé, 96 anos, é xaropeira quilombola e uma das anfitriãs (Foto: Divulgação) “Residimos no entorno da Baía do Iguape, região histórica do recôncavo baiano. O empreendimento é um negócio coletivo que conta com a participação e gestão de jovens das próprias comunidades, que buscam oferecer serviços e produtos de qualidade para o visitante baseado na produção associada ao turismo”, pontua a coordenadora de comunicação da Rota da Liberdade, Andreza Viana.

A 1h30 de Salvador, a Rota da Liberdade foi construída de forma participativa pela comunidade. Os roteiros valorizam tudo que é produzido pelos quilombolas como azeite de dendê, farinha de mandioca, ostras e o artesanato. Para a liderança Ananias Nery, 62 anos, fazer turismo comunitário é ter acesso a uma “universidade do conhecimento popular”. “O turismo convencional não dialoga com a nossa realidade quilombola e rural. Por isso, apostamos na atividade turística associada à  produção da pesca, agricultura, do artesanato, do extrativismo. Das nossas ervas medicinais, do conhecimento dos griôs (pessoas mais velhas da comunidade, contadores de histórias), de nossas manifestações culturais, rezadeiras e benzedeiras. Desenvolver um novo modelo de turismo é possível”. Saberes e fazeres  São três roteiros diferentes. O primeiro é o Dia a Dia no qual, após a recepção, um guia local acompanha o encontro com  o griô da comunidade, uma visita ao terreiro de umbanda, além da fabricação artesanal da farinha, azeite de dendê e do xarope de ervas medicinais. 

Outra possibilidade é o roteiro histórico, uma vivência náutica, que passa pelo Rio Paraguaçu e as belezas dos manguezais até chegar nos ostreicultores para conversar sobre como acontece a produção de ostra. O Roteiro Quilombos é mais uma chance de  interagir com o dia a dia local, cultura, culinária lazer, sobrevivência e espiritualidade. 

Mais conhecida como Joca, a guia local Jorlane Cabral, 37 anos, destaca que a experiência no quilombo vai além de só chegar na comunidade e tirar foto. O turismo comunitário pode se expandir e garantir autonomia socioeconômica a outras comunidades.“Esse contato é importante para nós, quando chamamos a atenção de outras pessoas para uma vivência, uma história contada, um samba sambado, a nossa cidadania quilombola”, afirma. De acordo com a Rede Batuc, a Bahia tem, hoje, 30 iniciativas de turismo comunitário espalhadas pelo estado apoiadas pela entidade, principalmente nas regiões de Salvador, Ilha de Itaparica, Vera Cruz, Recôncavo, Litoral Norte e Costa do Descobrimento. A rede é uma organização comunitária que incentiva a atividade no estado. 

Turismóloga e membro da comissão na Batuc, Diana Rôde defende que descobrir as raízes étnicas da Bahia é uma forma de resgatar a sua própria ancestralidade.“É também a possibilidade de sentir, respirar ar puro, degustar sabores, em total sincronia com a sustentabilidade. Ensinar e aprender de forma leve, sobre as nossas culturas, ritos, a nossa economia local, nossos costumes”.  

COMO CHEGAR

. Rota da Liberdade  Pela BR-324, sentido Feira de Santana (Oeste), retorne à direita no km-566 e siga pela BA-026 até Santo Amaro da Purificação. Acompanhe as placas para a saída da cidade até Cachoeira. Após passar pelo posto policial, pegue a estrada que fica à 1 km na esquerda da BA-880 até a comunidade de Kaonge. 

. Roteiros  De segunda a sábado com opções de duração de 3h ou 6h. Uma vez por mês, a Rota da Liberdade organiza um grupo entre 4 a 15 pessoas saindo de Salvador. 

. Valores  O valor por pessoa varia de R$ 50 a R$ 100 (com almoço), a depender do tamanho do grupo. 

. Agendamentos  Facebook  e Instagram @turismo_rotadaliberdade, pelo telefone  (71) 9 9607-1452  ou e-mail [email protected]