Conhece o São João de Ibicuí? Entenda como cidade se tornou fenômeno dos festejos

Município de 16 mil habitantes e antes da covid realizava seis dias de folia

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  • Gil Santos

Publicado em 25 de junho de 2021 às 05:30

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: Prefeitura de Ibicuí/Divulgação

Quem vai a Ibicuí, a 520 km de Salvador, na maior parte do ano encontra uma cidade pacata, onde os 16 mil habitantes seguem uma vida tranquila típica do interior. Mas, esse viajante desavisado nem imagina que em junho a cidade se transforma por conta do São João. Os moradores, o comércio, a cultura, a infraestrutura, tudo muda. E tem também os turistas, é tanta gente que falta até espaço para abrigar todo mundo. Um fenômeno que intriga quem é de fora, mas tem explicação na história local dos festejos juninos. Com a pandemia, não tem festa em 2021, mas antes da covid, o evento durava seis dias.

Depois de passar por Cruz das Almas, Senhor do Bonfim, Amargosa e Santo Antônio de Jesus, o CORREIO desembarca em Ibicuí para contar as tradições do município durante o mês de junho. A cidade é uma das menores da Bahia, em termos de população, mas realiza uma das maiores festas de São João do estado.

Este ano, pela segunda vez, não teve festa por conta da pandemia. No perfil oficial da prefeitura de Ibicuí no Instagram, no entanto, a mensagem é de esperança: “Viva São João! Por mais um ano, a gente precisa comemorar assim: em casa e sem aglomeração. Fica a boa memória, a saudade gigante dessa cultura tão rica em nossa cidade e da energia massa do nosso povo. No ano que vem, a gente curte e faz juntinho o melhor São João do Brasil!”, diz a postagem publicada nesta quinta-feira, 24.

Longo caminho

O caminho até Ibicuí, partindo de Salvador, é longo. Por isso, antigamente, apenas quem tinha familiares morando na região se aventurava nas estradas, muitas vezes precárias, para encontrar a pequena cidade. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que, em 2020, a população era de 16 mil habitantes, o que significa que em 1952, quando o município se emancipou de Porções, esse contingente era ainda menor.

Naquela época, as festas juninas eram celebradas apenas em família, o que não lembra nem de longe os grandes eventos da atualidade. Cada casa montava uma mesa, decorava o ambiente com bandeirolas, balões e fogueira na porta, e convidava os vizinhos mais próximos para confraternizar. Os moradores contaram que havia também grupos de amigos que passavam de casa em casa, cantando e tocando.

Em 1967, a prefeitura começou a organizar os festejos na Praça Régis Pacheco, um avanço para a época, já que na maioria das cidades do interior o poder público ainda não havia abraçado o São João como festa oficial, mas o evento era pequeno e voltado apenas para os moradores. As coisas só começariam a mudar na década de 1980.

O pesquisador Itamar de Jesus Souza apresentou um trabalho na Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), em 2010, onde fez um levantamento sobre esse período. No artigo intitulado ‘A invenção da Tradição do São João de Ibicuí-Bahia pela mídia e o turismo’, ele conta que o crescimento da festa está relacionado com dois pontos: uma estratégia de desenvolvimento econômico pensada pela prefeitura e o aumento no número de moradores das cidades vizinhas que frequentavam o evento de Ibicuí.“A partir da década de 1980 os elementos da tradição são adaptados há um novo contexto. O poder público local, percebendo a atratividade que o São João exercia nas cidades circunvizinhas, resolve divulgá-lo em cidades mais distantes de seu entorno. O objetivo é, ao utilizar um dos elementos da tradição e identidade da comunidade, movimentar a economia local”, afirma Souza no trabalho.Novos rostos na cidade

A cada ano a festa de Ibicuí atraia mais público e os moradores da pequena cidade, onde muita gente se conhecia pelo nome, começaram a ver cada vez mais rostos desconhecidos nas ruas. A festa ganhou status de atração turística e cada vez mais investimentos. 

Em 2019, última edição antes da pandemia, foram seis dias de shows – praticamente um carnaval, só que movido a forró - com mais de 30 artistas como as bandas Calcinha Preta, Limão com Mel e Caviar com Rapadura. O tema da festa foi Povo Nordestino, para celebrar o orgulho da região.

Apesar das mudanças, algumas tradições ainda persistem na cidade, como o festival de quadrilhas. Em 2019, dez grupos de diferentes cidades se apresentaram na 3ª edição do Festival Estadual de Quadrilhas. Assim como manda a tradição, as indumentárias cheias de brilho e colorido persistem, além da decoração e dos pratos típicos do período.

Para a estudante Juliana Anunciação, 27 anos, que já aproveitou festas juninas na região, Ibicuí tem uma magia que as outras cidades não têm. “É um município pequeno, bem interiorano, e o São João é uma festa caipira, uma coisa de interior, então, tem tudo a ver. O clima favorece a festa e fica tudo lindo”, conta.

Eventos famosos

Em Ibicuí acontecem duas das festas particulares mais famosas do período junino, os forrós Brega Light e Ticomia. A primeira, comemorou 18 anos na última edição, em 2019, ao som de Zé Neto & Cristiano, Wesley Safadão, Gusttavo Lima, Diego & Victor Hugo, Donas do Bar, Léo Santana, Parangolé, La Fúria, Jonas Esticado, Lambasaia, Tayrone, Trio da Huanna, Dorgival Dantas e Dennis DJ. 

Já o segundo evento, que em 2019 aconteceu no sábado, 22 de junho, e em 2020 realizou live para os forrozeiros curtirem em casa, já teve atrações como Flávio José, Saia Rodada, Márcia Fellipe e Mano Walter.

As festas privadas surgiram na mesma época em que a prefeitura começou a investir no São João, na década de 1980, e também foram responsáveis por potencializar a cidade como destino turístico junino, atraindo mais público e divulgando a região nos meios de comunicação.

Este ano, por conta da pandemia, não houve festa pública ou privada. A prefeitura estima o prejuízo em R$ 5 milhões e diz, em nota, que optou por não fazer eventos virtuais para evitar aglomerações.

“Nosso foco, no momento, é na contenção do coronavírus, não queremos realizar nada que gere expectativas e vontade das pessoas em aglomerar. Agora, precisamos nos resguardar para que em 2022 possamos realizar o melhor São João da Bahia, com tudo o que já é tradição, e matar a saudade acumulada de dois anos”, diz a nota.

O São João no CORREIO conta com o apoio da Perini, Mahalo, E Stúdio, ITS Brasil, Hotel Vila da Praia e Blueartes.