Contos e crônicas celebram 90 anos de Ba X Vi

Coletânea da editora Mondrongo reúne textos de 18 autores sobre o clássico baiano

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  • Roberto Midlej

Publicado em 15 de julho de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos: divulgação/divulgação/Marina Silva (Arquivo Correio)

Em 10 de abril de 1932, os jogadores de Bahia e Vitória entravam em campo para disputar a partida que dava início àquele que acabaria se tornando um dos maiores clássicos regionais do país. E, como os 90 anos daquele primeiro encontro serão celebrados no próximo ano, já é hora de começar a festejar. Pelo menos para a editora Mondrongo, que lança no dia 27 o livro Ba-Vi Tem Muita História, uma coletânea de contos e crônicas de 18 autores baianos apaixonados por futebol.

Quer dizer, nem todos são assim tão apaixonados... Marcus Vinícius Rodrigues, autor do conto Versos Vermelhos, é um dos que não morre de paixão. Mas isso não o impediu de escrever uma deliciosa história sobre alguém que, como ele, não gosta de futebol, muito menos do Ba x Vi. E, para a irritação do protagonista, ele mora nas imediações do estádio e tem que enfrentar os transtornos provocados por um jogo no domingo.

Há até um Ba x Vi "genérico", que é entre o Bahia e o Flor de Lis, na crônica Partida de Futebol, de Ângela Wilma. A autora viaja até sua adolescência e se lembra dos clássicos locais que viu entre os dois times em Andaraí, na Chapada Diamantina, onde ela vivia. Mas ali, claro, não era o EC Bahia tradicional, mas um homônimo. 

Ângela lembra de pessoas que marcaram sua memória, como Dona Celé, que só ia ao jogo para ficar chupando gelo dentre de um Fusca, enquanto o marido assistia à peleja. Relata também as condições precárias do piso onde se dava a disputa: "o campo era de fato ao relento, com aquele poeirão subindo dos pés dos jogadores e o solzão batendo na cara do povo", escreve.

Mulheres Ângela é a única mulher que assina um texto no livro, mas, segundo  Gustavo Felicíssimo, que organiza o livro com Rodrigo Melo, outras autoras foram convidadas, mas não reveleram interesse. No entanto, após esta primeira edição ficar pronta, Gustavo soube que duas escritoras haviam manifestado o desejo de participar. Por isso, caso haja uma nova edição, elas certamente estarão lá.

Gustavo também assina um dos textos: Uma Paixão Irrevogável Pelo Bahia. Revogável, no entanto, parece ser sua paixão pelo São Paulo, que foi o primeiro time pelo qual torceu. Paulista, Gustavo, que tem 50 anos, veio para a Bahia aos 23. "Quando cheguei a Salvador, ia com meus amigos para os jogos do Bahia. Até que me dei conta que a paixão pelo Bahia já era maior que pelo São Paulo. E quando os dois se enfrentam, sou Bahia com sobras!".Em sua crônica, Gustavo fala dessa "conversão" que o transformou em torcedor do Bahia. "Falo desta paixão pelo Bahia, uma paixão incondicional, e concluo com um poeminha que escrevi há dez anos".

Para ter equilíbrio, nada mais justo que o outro organizador do livro, Rodrigo Melo, seja torcedor do Vitória. "Assisti a alguns bavis e carrego até hoje os momentos, porque na maioria deles eu ainda era um moleque e é nessa época que o encanto fica registrado: a multidão sorridente e nervosa, a euforia da bola rolando, uma laranja jogada na cabeça de alguém. É ali, que muitas vezes a vida se faz valer", diz o autor. 

Ele assina o conto Olhos de Lua Minguante, que fala sobre um Ba x Vi diferente: "Não se passa em um grande estádio, tampouco é televisionado ou sai em jornais. Ele acontece num campo numa estrada de barro: de um lado, os que vestem o uniforme do Bahia; do outro, os que vestem o uniforme do Vitória".

Tem também o "torcedor de sofá", que nunca foi a um estádio e prefere ver o jogo pela TV, mas que jura torcer pelo Bahia: João Filho, que escreve a crônica Ba-Vi. No texto, ele destaca a grandiosidade do clássico, repleto de superlativos."Torcedor não se importa com lógica, é só emoção. Então, é tudo muito exagerado", justifica João. "O BA-VI é sempre superlativo, isto é, ba-víssimo!", escreve.Mas, claro, tem ainda o escritor-torcedor que não perde um Ba x Vi e estreou nos estádios já aos sete anos de idade: André Uzêda, autor da crônica O Mais Sem Graça dos Ba-Vis da História. Uzêda, que é colunista do CORREIO, acha que nada supera a rivalidade estadual e que um clássico sempre tem um sabor especial. "É a oportunidade que tem de provocar o torcedor adversário e é ainda o grande acontecimento do futebol", diz. Como ele mesmo diz, um Ba x Vi, mesmo que seja o mais sem graça da história, terá sempre uma baita graça.

Serviço Livro: Ba-Vi Tem Muita História Organização: Rodrigo Melo e Gustavo Felicíssimo Autores: Vários Editora: Mondrongo Valor: R$ 38 | 114 págs Lançamento: 27 de julho, 19h, no canal da Editora Mondrongo no YouTube