Coração de economista morto na Pituba é doado a homem de 36 anos

Segundo a família, vítima de espancamento era a favor de doação; córneas, rins e fígado também serão transplantados

  • Foto do(a) author(a) Nilson Marinho
  • Nilson Marinho

Publicado em 11 de junho de 2018 às 11:16

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Reprodução

Foto: Reprodução Em meio à dor, um gesto de generosidade. A família do economista e empresário Luciano Rodrigues Vieira, 43 anos, morto no final de semana após ser espancado perto de casa, no bairro da Pituba, em Salvador, autorizou a doação do coração da vítima a um homem de 36 anos.

A doação era defendida por Luciano, segundo seu irmão, que preferiu não se identificar. "A doação de órgãos era um pedido dele. Vamos aproveitar quase tudo, inclusive o coração", disse, enquanto aguardava a liberação do corpo do irmão no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR), nesta segunda-feira (11). 

A captação de órgãos foi feita durante esta madrugada no Hospital Ana Nery, no bairro da Caixa D'água. Segundo a assessoria do hospital, córneas, rins, fígado e coração foram captados para transplantes e aguardam a realização das cirurgias.

Segundo dados divulgados em fevereiro pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), apenas 30% das famílias autorizam a doação de órgãos ou tecidos. O número coloca os baianos entre os três estados com o maior índice de negativa familiar para a doação de órgãos no país. 

Em média, os pacientes levam dois anos aguardando por um órgão, mas essa espera é maior em muitos casos porque nem sempre o doador é compatível.

O transplante foi o segundo de coração que aconteceu no estado desde 2015. Em março, o CORREIO denunciou que a Bahia tinha 15 pacientes aguardando transplante cardíaco, segundo a Central Estadual de Doação de Órgãos. 

A angústia da espera, no entanto, supera o medo de morrer antes de conseguir o coração novo ou o risco de ter complicações após a cirurgia. Isso porque, embora o estado tivesse equipamentos de ponta e equipe treinada, de 2015 para cá só havia feito uma cirurgia.

Em 2015, o Hospital Ana Nery realizou o primeiro transplante de coração em hospital público na Bahia. Na época, a expectativa da direção era que a unidade realizasse de 10 a 20 operações por ano. No entanto, nenhum outro procedimento foi feito no local ou em qualquer outro lugar do estado até maio deste ano, quando os procedimentos voltaram a ser realizados.

Com o coração trasplantado de Luciano, agora, são dois casos realizados este ano na Bahia. 

O que aconteceu com Luciano? Luciano chegou no Hospital Geral do Estado (HGE) na madrugada de sexta pra sábado, por volta de 2h15. Ele foi socorrido por uma ambulância do Samu após ser espancado na porta de casa na Rua Engenheiro Adhemar Fontes, na Pituba. De acordo com informações do posto policial da unidade, ele deu entrada no hospital com vida, apresentando lesões e traumas.

Segundo testemunhas, o crime teria acontecido após uma briga no bar Preto. No entanto, o subgerente do estabelecimento, Vinicius Lacerda, negou a versão. "Não houve nenhuma discussão aqui no Preto que a gente tenha visto. Tanto que aqui no bar tem segurança e ela nem foi acionada", explicou. 

"Luciano saiu peregrinando, fazendo as coisas dele, mas não posso confirmar, não sabemos quais locais exatos ele passou naquela noite. Nessa vida, ele só fez mal a ele, com problemas pessoais, mas não era de briga", disse o irmão da vítima. 

Investigação  A delegada que está nas investigações iniciais do caso, Maria Selma, da 16ª Delegacia (Pituba), disse que já solicitou imagens na rua Guillard Muniz, onde fica o Preto, e no local onde ocorreu o crime. Ela diz ainda que está "atrás dos amigos que estavam com Luciano" na noite de sexta. 

"Já solicitamos as imagens e estamos atrás de testemunhas. Vamos ouvir o dono do estabelecimento, o porteiro do prédio e os amigos que estavam com a vítima", informou ela.

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier