Coração de Maria fará testes rápidos para identificar arboviroses

Doença misteriosa afetou mais de 60 moradores nos últimos dias

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 23 de agosto de 2018 às 18:24

- Atualizado há um ano

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A cidade de Coração de Maria, localizada na região de Feira de Santana e a 105 km de Salvador, inicia nesta sexta-feira (23) a realização de testes rápidos para identificação de arboviroses (zika, dengue ou chikungunya) e com isso desvendar que doença afetou ao menos 60 moradores nos últimos dias.

O município de 24 mil habitantes, segundo a Vigilância Epidemiológica local, está com índice de infestação predial para o mosquito aedes Aegypti– transmissor da zika, dengue e chikungunya – de 4,1%, o que para o Ministério da Saúde é considerado como risco de surto de uma das arboviroses.

Na cidade, as pessoas passaram a se preocupar com o assunto esta semana, depois que o caso passou a ser divulgado na imprensa, e nas farmácias aumentou a procura por repelentes. “Muita gente não estava sabendo desses casos aqui, e esta semana começou a sair mais os repelentes”, disse Eriene de Oliveira, gerente de farmácia.“Mas não é algo que tem deixado as pessoas agoniadas, preocupadas demais, é só uma questão de precaução mesmo, eu acho. Eu, mesmo, ainda não usei repelente, onde moro não tem problema com mosquito da dengue e em casa procuro sempre tomar meus cuidados para não deixar água parada”, declarou.Dono de um supermercado local, Ivan Ciqueira Martins diz que “nem todo mundo está preocupado com o assunto, mas não é por isso que deixa de tomar os cuidados com água parada”. “Estamos sempre de olho, não podemos facilitar”, comentou ele, que mora no distrito de Retiro, a 22 km da cidade.

A Secretaria Municipal de Saúde informou que nesta sexta-feira montará, em parceria com a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), um ambulatório para que sejam feitos os testes rápidos. “Dois médicos epidemiologistas estarão nos auxiliando na identificação dessas doenças”, disse o secretário municipal de Saúde Jorge Figueiredo.

Os ambulatórios serão montados no bairro Nova Esperança, onde foram registrados a maior parte dos casos, informou Figueiredo. Porém não se sabe ainda onde eles serão improvisados. “Estamos vendo ainda se vamos fazer isso numa escola ou igreja, fato é que estaremos agilizando a identificação dessas doenças”, completou.

Paralelo ao atendimento, também estará sendo feita a capacitação de profissionais locais para a realização desses testes rápidos. Outra medida de emergência para o município, é a borrifação por meio de bombas costais (feitas individualmente pelos 21 agentes de saúde) e do carro fumacê da Sesab que chega à cidade nesta sexta. A Coordenação Municipal de Vigilância Epidemiológica informou que o trabalho será estendido a todo o município.  “Estamos notificando casos dia-a-dia, tem casos em outros bairros, não é só no Nova Esperança, há ruas do Centro com notificações”, informou a coordenadora da Vigilância Epidemiológica Milena Bastos. De acordo com Minela Bastos, todos os postos de saúde do município estão a postos para atender a população sobre algum problema relacionado à arbovirozes. As pessoas cujos casos foram notificados pela Secretaria Municipal de Saúde estavam com sintomas de febre acompanhada de dores nas articulações e coceiras no corpo.

A falta de identificação da doença causou um problema na cidade porque sem saber ao certo o que as pessoas tinham os médicos ficaram com receio de receitar remédios. De acordo com a Sesab, dois casos já deram positivos para chikungunya. Além dos 60 casos já notificados, outros registrados nesta quinta serão analisados na Sesab.

A Sesab informa o Laboratório Central do Estado (Lacen) aguarda a chegada de novas amostras de sangue para serem examinadas, e que os pacientes do município de Coração de Maria, mais precisamente do bairro Boa Esperança, “apresentaram sintomas de exantema, coceira intensa, prurido, febre alta e dores nas articulações”.

“O Núcleo Regional de Saúde já está realizando medidas de controle, uma vez que os sintomas podem ser de doenças provocadas pelas arboviroses”, declarou a Sesab, segundo a qual em 2017 o município registrou apenas um caso suspeito e descartado de chikungunya; e em 2018, até julho, apenas um caso suspeito de dengue.

Os dados sobre arbovirozes no Brasil registrados pelo Ministério da Saúde e divulgados este mês apontam que a Bahia teve 6.893 casos prováveis de dengue em 2018, e 8.064 casos em 2017. Sobre a febre chikungunya, os casos de 2017 foram de 8.187 e em 2018 caiu para 2.718. Na Bahia, os casos de zika chegaram a 1.910 em 2017 e até junho deste ano a 650.

Bahia e as arboviroses Um conjunto de fatores, como acúmulo de lixo, água parada em terrenos baldios e até mesmo em casa, e o fluxo constante de turistas nacionais e internacionais, tem favorecido à proliferação de arboviroses na Bahia, o que tem sempre deixado em alerta as autoridades epidemiológicas do estado.

Nos últimos anos, na Bahia, além da Zika e chikungunya, que se somaram à dengue, apareceram a Guillain-Barré (supostamente originária da Zika), que gera paralisia nos membros, e o oropouche, vírus que causa febre e manchas vermelhas no corpo, e é transmitida por muriçocas e maruins, mosquito muito presente em área de matas.

“São doenças que quando surgem não têm uma sintomatologia específica, o que dificulta o trabalho dos médicos”, disse a médica infectologista Jacy Amaral Freire de Andrade, professora do curso de Medicina da Universidade Federal da Bahia.

“Daí a importância de a Sesab estar presente desde as primeiras notificações para informar de maneira correta à classe médica e à população, bem como tomar as providências necessárias”, completou.

O médico infectologista da Sociedade Brasileira de Infectologia, Antônio Carlos Bandeiram, observou que Salvador tem sido um local propenso a surgirem doenças relacionadas à arboviroses por causa do índice de infestação predial do mosquito Aedes aegypti.

“A proliferação das doenças tem mais a ver com a circulação de mosquito. Em Salvador, por exemplo, estamos com índice de infestação de 2,6%, isso coloca a cidade sob risco de que problemas relacionados às arborviroses possam se alastrar”.