Corpos de mãe e filhos mortos em desabamento no Bom Juá são enterrados

O enterro estava marcado para as 16h, mas aconteceu depois das 17h, por conta de demora nos trâmites

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  • Da Redação

Publicado em 28 de abril de 2015 às 19:10

- Atualizado há um ano

Os corpos das quatro vítimas que morreram em um desabamento na comunidade do Marotinho, em Bom Juá, foram sepultados no final da tarde desta terça-feira (28) no Cemitério de Campinas de Brotas, na capital baiana. O local estava lotado, com mais de 300 pessoas presentes para se despedir das vítimas

Morreram no desabamento do Bom Juá os irmãos Joice Bispo Reis, 15 anos, e Jonathan Bispo Reis, 13, a mãe Geraldina Bispo, 35, e a criança Adriano Bispo Pereira, 11 anos, que vivia na casa de cima e também era parente das outras vítimas. (Foto: Almiro Lopes)O enterro estava marcado para as 16h, mas aconteceu depois das 17h, por conta de demora nos trâmites. Os parentes fizeram uma manifestação para protestar contra a situação do cemitério, reclamando que não havia espaço para velar apropriadamente. os corpos. Reclamaram também que uma das capelas estava fechada e que o local estava sujo.

O pai de Joice e Jonathan, Joilson Ribeiro Reis, estava bastante abalado e sentindo culpa porque impediu os filhos de irem para escola no dia da tragédia por conta da chuva. Assim, os dois filhos estavam em casa no momento do desabamento e acabaram perdendo a vida. Os parentes lembraram a alegria das crianças e que Jonathan queria ser jogador de futebol. Família morreu em desabamento (Foto: Evandro Veiga)No cemitério Quinta dos Lázaros, foi sepultado o corpo de Samuel dos Santos, 12 anos, morto na avenida San Martin. Samuel foi a primeira vítima a ter o corpo resgatado, na manhã de ontem. Outras 10 pessoas da comunidade do Barro Branco perderam a vida. O corpo de Maria Tereza dos Santos Junior, 57, também foi sepultado esta tarde na Quinta dos Lázaros.Enterro de Samuel na Quinta dos Lázaros (Foto: Robson Mendes)Desabamento e morteA casa onde a família Bispo Reis morava foi atingida por outra, onde viviam outros parentes, logo acima, em uma encosta. A terra molhada arrastou o primeiro imóvel, onde Cecília Bispo, sobrinha de Geraldina, estava com os filhos Adriel e Adriano Bispo Pereira, duas crianças.

[[saiba_mais]] Ao todo, oito pessoas foram atingidas pelo deslizamento e quatro delas sobreviveram: além de Joilson, o aposentado Carlos Gama da Cunha (pai de Geraldina), 84 anos, Adriel Bispo Pereira e Cecília Bispo.Segundo o coronel Adson Marchesini, do Corpo de Bombeiros, que chefiou o resgate, quatro pessoas não resistiram. Além dos irmãos Joice e Jonathan, e da mãe, a garota Adriana também morreu. Até a noite de ontem, a Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) só soube informar a situação do garoto Adriel, internado no HGE em situação estável.

ChoqueQuando o rio de lama começou a invadir a Travessa Moreira, pouco depois das 6h, Joilson estava próximo da porta da saída. Foi o que o ajudou a sair quase ileso da situação. “Ele ainda tentou puxar ela (Geraldina), mas não conseguiu, porque veio o barro todo em cima dele”, contou Roseane Cruz Menezes, madrinha de Jonathan.Os adolescentes ficaram soterrados por sete horas e um deles chegou a se comunicar com bombeiros e moradores durante o resgate. “Ela (Joice) chegou a falar que estava bem, mas o menino não respondeu”, contou Roseane.

RecorrênciaPor causa da terra molhada, um novo deslizamento aconteceu, dificultando a ação. O pai, inconsolável, foi acudido pelos vizinhos e ficou isolado, com a família, em uma casa próxima. Enquanto aguardavam que os adolescentes fossem encontrados, a família se reuniu para orar. “Há 10 anos, na minha família, teve deslizamento e morreram cinco pessoas. Eu sei o que é sentir essa dor”, disse a agente de limpeza Laiane Fernandes, que cedeu a casa para a família das vítimas. No mesmo local, há quatro anos, houve um deslizamento de terra que invadiu o imóvel da família. Após a construção da segunda casa, de Cecília, a família achou que estaria em segurança. AjudaO deslizamento chocou os moradores, que se mobilizaram para ajudar no resgate. Carros não podem acessar a travessa e, por isso, a vizinhança se juntou para retirar a lama com pás, enxadas e dez carrinhos de mão. “Larguei tudo do meu trabalho e vim ajudar”, disse o pedreiro Deivid Souza, 26.Mais de 20 moradores se revezavam no trabalho pesado de subir e descer a rua com os entulhos e lama. A disposição dos moradores só cessou às 14h10, quando foi encontrado o corpo de Jonathan. Minutos depois, Joice foi localizada, perto do irmão.

* Com informações da repórter Priscila Natividade