CORREIO discute negócios que favorecem a inclusão social em grandes empresas

Vice-administrador associado do Escritório de Comércio Internacional da U.S. SBA visitou entidades que estimulam o empreendedorismo inclusivo

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  • Juliana Montanha

Publicado em 16 de maio de 2017 às 07:39

- Atualizado há um ano

A batida percussiva dos tambores dos alunos da Escola Olodum fechou a visita de Eugene Cornelius Jr., vice-administrador associado do Escritório de Comércio Internacional da U.S. Small Business Administration (SBA), às entidades que estimulam o empreendedorismo inclusivo, com ações voltadas principalmente para a população afrodescendente de Salvador.Antes de conhecer o trabalho realizado pelo Olodum, o executivo que realiza hoje palestra sobre Diversidade e Inclusão nos Negócios, no Correio Encontros, acompanhou e se encantou com iniciativas de empreendedorismo do Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá e na Associação Pracatum. Durante as visitas, buscou informações sobre o surgimento de cada iniciativa, atento para a importância social delas em suas comunidades.A primeira parada do executivo no roteiro para conhecer projetos de empreendedorismo foi o Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, de Mãe Stella de Oxóssi . É lá que há 12 anos funciona a Casa de Alaká, onde a artesã Iraildes Santos promove oficinas de tecelagem com o pano da costa – item que compõe a indumentária feminina nos terreiros. “Ele foi trazido pelas negras escravas oriundas da Costa do Marfim. É um acessório de fundamental importância para a nossa religião utilizado para proteger o ventre das mulheres”, explica a filha de santo e artesã Fernanda Coelho a um interlocutor bastante atento.Foi no Ilê Axé Opô Afonjá também que ela aprendeu a técnica Barafunda, outro tipo de bordado que nasceu entre as escravas nas senzalas. “As negras sofreram muito para aprender isso dentro das senzalas e eu faço questão de resgatar essa tradição”, conta a artesã, que tira seu sustento da venda das peças que confecciona,  boa parte por meio das redes sociais. Durante o encontro com Eugene, Fernanda contou ainda sobre a sua chegada ao terreiro e como foi acolhida por Mãe Stella. “Vim para cá doente e desenganada pelos médicos. Foi com a ajuda dos orixás que me restabeleci e trilhei o meu caminho como bordadeira”, lembra.Na Escola Olodum, Eugene Cornelius Jr. se empolgou e experimentou a batida dos tambores (Foto: Betto Jr./Correio)Empoderamento femininoA cada pergunta respondida, Cornelius se interessava mais sobre como o conhecimento da arte mudou a vida de Fernanda. “O trabalho que ela faz é incrível. Eu adoro o fato de que esse trabalho agrega a questão religiosa, cultural e política em um ambiente seguro onde elas aprendem uma atividade e não precisam depender de ninguém”, pontua Cornelius.Segundo ele, o empoderamento feminino é um dos valores defendidos pela SBA. “Atualmente, possuímos centros de negócios exclusivamente voltados para as mulheres”, destaca.O fato da artesã utilizar suas redes sociais para expor o seu trabalho também foi motivo de elogio. “Quando você apresenta a tecnologia para os pequenos empreendedores, eles descobrem os benefícios que podem obter de forma a se desenvolver mais”, ressalta.Batida do PracatumOutra parada do americano aconteceu na Associação Pracatum, fundada em 1994 pelo músico Carlinhos Brown. Tendo na música a espinha dorsal para promover o desenvolvimento do Candeal, a Associação desenvolve ações e projetos, sempre buscando aproximar e fortalecer a comunidade, buscando o crescimento do bairro e profissionalização de seus moradores. “Primeiramente, a preocupação era criar uma infraestrutura no bairro, como se precisássemos arrumar a casa para que a gente pudesse atender a comunidade”, lembra a diretora de Desenvolvimento Social da entidade, Ruth Buarque. A Escola de Música e Tecnologias da Pracatum foi fundada quatro anos depois da criação da Associação. Cornelius conheceu o Pracatum Inglês, que oferece aulas do idioma para 120 crianças e adolescentes entre 8 e 16 anos de idade. A metodologia aplicada na escola ajusta o aprendizado às necessidades do dia a dia dos alunos.A principal atividade empreendedora da Pracatum é desenvolvida por meio da Escola de Música e Tecnologia, que tem como foco o ensino profissionalizante no campo musical. “Uma preocupação que temos aqui é que cada aluno se veja como uma empresa e consiga gerir a sua própria carreira, se desenvolver. Para nós, é muito importante que nossos alunos saibam como se manter com a música”, afirma Gerson Silva, diretor da escola.

“Achei muito interessante esse tempo que eles levaram desde a associação até fundar a escola. O mais importante, no entanto, foi o princípio de  ensinar não apenas como se toca a música, mas sim como gerar renda a partir disso”, comentou Cornelius.O som do OlodumA última parada foi na sede do Grupo Cultural Olodum, onde o presidente João Jorge Rodrigues contou para o executivo um pouco da história do surgimento do grupo cultural e das atividades desenvolvidas para elevar a estima e o orgulho dos negros, principalmente na Bahia.Questionado por Eugenio Cornelius sobre como a entidade trabalha para garantir a presença e reconhecimento dos negros, João Jorge destacou a articulação junto às esferas de governo. “O melhor caminho para isso é do desenvolvimento econômico, da educação”, afirma João Jorge.“Temos uma boa relação com a universidades, tanto aqui no Brasil quanto fora do país. Nossa experiência, dentro do Olodum, é muito de acumular conhecimento. Ninguém pode ser um bom empreendedor afro-brasileiro se não tiver informação e conhecimento”, pontua.Muito do trabalho de estímulo do empreendedorismo dentro do grupo cultural acontece através da Escola Olodum, que há 33 anos capacita jovens e adolescentes em diversas áreas. Um dos alunos  que recepcionaram  Cornelius com o som do Olodum foi o músico Mateus dos Santos, de 18 anos, de Cosme de Farias. “Tem 11 anos que faço aula aqui. Sempre gostei de percussão e quando fiquei sabendo do curso vim logo me inscrever. Meu sonho é ser um grande artista”, diz. Impossível para Cornelius não entrar no ritmo.

Consulado quer investir em Educação

Pela primeira vez, o Consulado-Geral dos Estados Unidos no Rio de Janeiro “saiu” da capital carioca. Ontem, cerca de dez oficiais consulares – incluindo o cônsul-geral, James Story – aportaram em Salvador para uma série de visitas com o objetivo de promover as relações entre o país norte-americano, Salvador e a Bahia: é o chamado Consulado Itinerante.

“Vamos espalhar esse grupo por toda a cidade, conhecer muita coisa e falar com muitas pessoas, falar sobre novas parcerias. É uma coisa inovadora. São coisas de política, de cultural. Vamos inovar juntos, com parcerias e buscar novas parcerias”, afirmou o cônsul, em visita à redação do CORREIO, na manhã de ontem.

Um dos encontros do cônsul é justamente com o governador Rui Costa. “Sei que o governador é muito comprometido com educação. Foi um dos assuntos que tratamos quando nos encontramos no ano passado”, disse.

Ainda sobre educação, o cônsul contou que quatro dos dez membros da equipe estão visitando escolas públicas e universidades. De acordo com ele, o Consulado também busca acordos para levar mais estudantes para os EUA – tanto universitários quanto estudantes ainda na escola. “O Consulado Itinerante vai dar espaço para falar sobre esses assuntos e queremos mais pessoas viajando para os EUA, por isso essa série de encontros aqui”, afirma.

Eles ainda pretendem tratar de turismo. Segundo ele, há duas semanas, em uma viagem a Atlanta, nos EUA, eles falaram sobre Salvador. “Atlanta agora é um centro de filmes nos EUA, é uma nova Hollywood. É uma grande oportunidade para o setor criativo e, quando penso no setor criativo, penso na Bahia e penso no Rio”, diz.