CORREIO discute os benefícios da diversidade para os negócios

O projeto Correio Encontros recebeu especialistas no seminário Diversidade e Inclusão nos Negócios, que mostra como empreendedores podem ganhar investindo em ações inclusivas

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  • Da Redação

Publicado em 17 de maio de 2017 às 07:43

- Atualizado há um ano

Imagine a diretoria de uma grande empresa. CEO, presidente, vice-presidente, diretores, gerentes. Agora, analise a própria imagem que veio à mente e reflita: quantas dessas pessoas eram negras? Quantas eram mulheres? Ou melhor: quantas eram minorias?Não vai ser surpresa se a diretoria criada em sua mente for totalmente composta por homens brancos, heterossexuais, lá na faixa dos 40 ou 50 anos de idade. Mas só porque essa é a realidade – e porque esse estereótipo é reforçado até mesmo em nossos próprios pensamentos –  não quer dizer que deve continuar assim.Um estudo da consultoria McKinsey  aponta que empresas com mais diversidade entre seus funcionários têm 35% mais chance de conquistar rendimentos financeiros do que aquelas que ficam somente com seus líderes homens, brancos, heterossexuais e na casa dos 50 anos. “Diversidade traz dinheiro e todo mundo sabe disso”, apontou a advogada Lisiane Lemos, cofundadora da Rede de Profissionais Negros, funcionária da Microsoft e uma das jovens com menos de 30 anos mais influentes do Brasil, de acordo com um ranking da revista Forbes. O tema foi discutido no CORREIO Encontros, ontem, na Casa do Comércio. A programação, que durou todo o dia, incluiu palestras da própria Lisiane, de Eugene Cornelius Jr., que é vice-administrador associado do Escritório de Comércio Internacional da U.S. Small Business Administration (SBA), agência do governo estadunidense que fornece apoio a empreendedores e pequenas empresas,  e do secretário municipal de Desenvolvimento e Urbanismo, Guilherme Bellintani. O Correio Encontros tem o apoio institucional da Prefeitura de Salvador, realização em parceria com o Sebrae, Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Fecomércio e Consulado Geral dos EUA no Rio de Janeiro, além do apoio da Faculdade da Cidade do Salvador, JVF e DeVry Brasil.Guilherme Bellintani, Eugene Cornelius Jr., Lisiane Lemos, Roberto Gazzi e Renato Ribeiro (Foto: Marina Silva/CORREIO)Para Cornelius, investir em equipes mais diversas é um ponto essencial para os négocios. “A diversidade leva à criatividade, à flexibilidade, à competitividade. Empresas que não têm abertura para trabalhar isso vão fracassar em menos de dois anos”, afirmou.  Ainda de acordo com o executivo, para que as empresas possam garantir um bom faturamento vai ser preciso buscar essa inovação que é trazida com a inclusão.Investir nos pequenosDe acordo com Eugene Cornelius Jr., o órgão trabalha de forma a incentivar diversidade e inclusão entre os empreendedores a partir de três vertentes: acesso ao capital, assistência técnica e fortalecimento de parceria público-privada. E se engana quem pensa que investir na diversidade beneficia apenas os pequenos. “Na SBA, criamos o programa de microcrédito voltado para atender empreendedores de baixa renda, mulheres e minorias. O resultado, no entanto, impactou todos os tipos de negócios, inclusive os grandes, porque houve um aumento significante do capital circulando nas comunidades”.Segundo ele, a média dos valores dos empréstimos concedidos é de US$ 15 mil, recurso que ajuda os pequenos empreendedores a saírem de suas garagens e se formalizarem. “O incentivo financeiro foi responsável pela criação de 86 mil empregos, e manutenção de outros 125 mil. O aumento do número de negócios de todos os tamanhos também favoreceu o crescimento no Produto Interno Bruto dos EUA”.InclusãoNo entanto, só diversidade não basta. É preciso mais do que contratar profissionais negros, mulheres, LGBTs, pessoas com necessidades especiais e outras minorias. De acordo com Lisiane Lemos, da Rede de Profissionais Negros, essas pessoas precisam ser incluídas na vida corporativa.  “A gente tem que ter um programa de desenvolvimento pensado. E esse é o primeiro ponto que fala de diversidade. Não adianta contratar por contratar. E antes de começar a discutir políticas tem que fazer um olhar instrospectivo e ver o que a gente precisa mudar”, defendeu Lisiane. E, como ela reforça, não é apenas um estudo que ratifica isso. Segundo ela, quando uma empresa aumenta 10% de sua diversidade racial, também há um crescimento de 0,8% do Ebitda.  Se o aumento for na diversidade de gênero, são pelo menos 3,5% de crescimento do Ebitda (um indicador financeiro que, na sigla em inglês, significa ‘lucros antes de juros, impostos, depreciação ou amortização). “Imagine se for uma mulher negra”, provocou Lisiane, durante sua apresentação.Porém, por enquanto, a realidade é outra: somente 6,3% dos gerentes de empresas são negros, de acordo com uma pesquisa do Instituto Ethos. Para piorar, só 4,7% ocupam cargos de executivo. “Não adianta colocar todo mundo (os negros de uma empresa) como Jovem Aprendiz porque você, definitivamente, não está ajudando. Você ajuda quando coloca essas pessoas em cargos de gerência para que elas sejam referência para seus grupos. Ainda existe um estereótipo claro: o negro não é o presidente da empresa. Se for uma mulher negra, menos ainda”, afirmou.DebateTanto Cornelius quanto Lisiane participaram de um talk show com o público, após suas palestras, que foi mediado pelo diretor executivo do CORREIO, Roberto Gazzi. “É um  evento que sai um pouco do formato mais de seminário para ter mais  ação e participação de todo o público”, pontuou Gazzi.Também participaram do debate o secretário municipal de Desenvolvimento e Urbanismo, Guilherme Bellintani, e o professor da Faculdade da Cidade, Renato Ribeiro, especialista em gestão de pessoas. “O que precisamos para a nossa região é capacitar para incluir. Se não passar por essa linha, eu não chego lá”, diz Ribeiro. Ao fim da mesa-redonda, Cornelius destacou o quanto a diversidade da capital baiana cria um ambiente propício para o desenvolvimento. “Salvador é uma cidade extremamente diversa e com um potencial incrível. Se as instituições aproveitarem essa diversidade da população e começarem a dar experiências e treinamento, seria possível fomentar um desenvolvimento que ainda se desconhece no Brasil”, completou.

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