Correntina: polícia enquadra políticos após ataque e ânimos se acirram

Vice-prefeito e vereadores foram intimados; manifestação ocorre neste sábado

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 11 de novembro de 2017 às 02:00

- Atualizado há um ano

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O clima está ainda mais tenso em Correntina, no Extremo Oeste da Bahia, com a intimação, por parte da Polícia Civil, de políticos ligados à área ambiental e a movimentos sociais para depor sobre a destruição de equipamentos das fazendas da empresa agrícola Igarashi por cerca de 500 pessoas no último dia 2.

As intimações do vice-prefeito Michael Delgado (PV), do presidente da Câmara de Vereadores Ebraim Moreira (PMDB) e da vereadora Albanice Magalhães (PR) ocorreram entre esta quarta (8) e quinta-feira (9) e acirraram os ânimos para a manifestação que autores da destruição na fazenda convocaram para este sábado (11) na cidade.

Durante a semana, os políticos intimados foram apontados nas redes sociais como supostos patrocinadores das ações de destruição classificadas como “atos de terrorismo” por entidades ligadas ao setor produtivo do agronegócio na região. O caso está sendo investigado por dois delegados da Civil que já ouviram mais de 20 pessoas.

Ao CORREIO, os políticos negaram terem participado da ação ou patrocinado a mesma, mas disseram que apoiam os manifestantes por acharem que o modelo de desenvolvimento da região tem trazido prejuízos ao meio ambiente. Disseram também que parte das terras ocupadas pelo agronegócio na região são griladas.“Essa manifestação foi uma resposta do povo que não aguenta mais a omissão dos governos frente aos problemas ambientais. As nascentes e rios estão secando, a mata ciliar cada vez mais sumindo e nada é feito”, criticou o vereador Ebraim Moreira, que foi intimado na quarta-feira, mas não compareceu ainda à delegacia.Presidente interino Moreira assumiu recentemente a presidência da Câmara de Correntina, com a prisão de cinco parlamentares no dia 26 de outubro, incluindo o ex-presidente Wesley Campos Aguiar (PV), único que ainda está preso preventivamente na carceragem da 26ª Coordenadoria de Polícia do Interior (Coorpin), em Santa Maria da Vitória.

Os vereadores são suspeitos de formar organização criminosa para fraudar licitações e contratos, desviar verbas públicas mediante pagamento de gratificações indevidas a servidores e exigir propina ao prefeito Nilson José Rodrigues (PCdoB) em troca da aprovação de projetos de lei. A cidade de Correntina possui 13 parlamentares.

“Eu fui intimado ao meio dia de quarta, logo depois de ter chegado de uma viagem cansativa a Salvador. Vieram dois policiais civis na minha casa e disseram que era para eu comparecer às 15h30. Eu, com problema intestinal, muita diarreia, preferi não ir e falei com minha advogada para marcar outra hora, estou no aguardo”, completou.

O vereador disse ainda ao CORREIO que policiais militares ligaram para ele pedindo para que não participasse da manifestação deste sábado.“Eu disse que vou participar em apoio ao meu povo que está sofrendo com essa situação problemática ambiental que vive a nossa região. Vai ser tudo pacífico”, garantiu ele.Para o vice-prefeito Michel Delgado, “é preciso o Governo da Bahia investir mais em outras oportunidades de negócio na região que valorizem mais o meio ambiente, como o ecoturismo”, já que, na opinião dele, “algumas práticas do agronegócio não são sustentáveis e prejudicam o meio ambiente”.

“Só estou do lado do meu povo e não apoiando vandalismo”, disse Delgado, que diz ter ficado “triste com grandes políticos incriminar nosso povo como terrorista”. Sobre a manifestação deste sábado, o vice-prefeito espera que seja “ordeiro e pacífico, para mostrarmos ao Brasil que em Correntina não existe terrorista e nem vândalos, mas sim um povo ordeiro e trabalhador e amantes da paz.”

Citados em depoimentos Sobre o depoimento na delegacia, Michael Delgado disse que durou cerca de 20 minutos respondendo perguntas sobre o ato na fazenda. “Dei os esclarecimentos necessários e creio que tudo foi esclarecido”, ele disse, sem dar muitos detalhes. O CORREIO não conseguiu contato com a vereadora Albanice Magalhães.

O delegado titular de Correntina Marcelo Calçado disse que os políticos foram convocados em razão de os nomes deles terem sido citados em depoimentos que estão sendo feitos na delegacia, relacionados ao caso.“Mas foram meramente para dar informação. Não teve o caráter de interrogatório”, afirmou o delegado Calçado.O chefe de polícia disse ainda que a manifestação deste sábado será acompanhada por policiais civis e militares da região e dos reforços que foram enviados de Salvador. Ele disse que não tem informações sobre quantos policiais estão na cidade como reforço e espera que o movimento seja pacífico.

O protesto, segundo os organizadores, será em defesa das bacias hidrográficas na região – o principal motivo para a destruição de equipamentos na Igarashi foi a implantação de um novo sistema de irrigação que capta 180 mil metros cúbicos de água do Rio Arrojado, utilizado também por ribeirinhos, agricultores e pecuaristas.

A captação de água no rio tem autorização da Secretaria Estadual de Meio Ambiente.

Do total de 2,2 milhões de área plantada na região, 160 mil são irrigados. Segundo dados do Cadastro Florestal de Imóveis Rurais (Cefir), há 9,1 milhões de hectares inseridos no bioma Cerrado na região, sendo que 4,5 milhões estão conservados e 3,1 milhões são produtivos – além da agricultura, há também pastagens.