Cortejo cultural arrasta baianos e turistas pelas ruas do Pelourinho

Desfile marcou o lançamento da Feira de Empreendimentos Negros Solidários que continua neste domingo (8)

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  • Laura Fernades

Publicado em 7 de julho de 2018 às 16:59

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Roberto Abreu/CORREIO
Clara Monroy foi conferir o evento com a família e as pequenas Paula, 8, e Fátima, 11, aproveitaram para colocar um turbante por Foto: Roberto Abreu/CORREIO

Foi só passar o cortejo com baianas e Filhas de Gandhy, pelo Terreiro de Jesus, para baianos e turistas registrarem com selfies, sorrisos e poses o desfile que tinha um simples objetivo: convidar todo mundo para a primeira edição da Feira de Empreendimentos Negros Solidários. Lançado neste sábado (7), com direito a banho de folha para abrir os caminhos, o evento reúne 16 barracas com produtos como assessórios de beleza, bolsas, roupas com temática africana e cosméticos.

Ao avistar o cortejo, uma família mexicana não resistiu à curiosidade e seguiu o percurso até o fim. “É superinteressante! No México não tem isso, porque a população negra é pequena e a tradição dessa cultura não se vê por lá”, elogiou a mestre em História da Arte, Clara Monroy, 36 anos, que estava visitando Salvador com o marido, a filha, os pais e as sobrinhas. As pequenas Paula, 8, e Fátima, 11, aproveitaram para colocar um turbante. “Vi nas baianas e gostei muito”, justificou Paula, com um sorriso tímido.

Com funcionamento neste domingo (8), das 10h às 20h, na Praça Pastores da Noite, a feira gratuita tem como objetivo valorizar a produção de empreendedores negros, principalmente os jovens e as mulheres. Vale ressaltar que estas representam 52% dos participantes da feira que “serve como ferramenta de empoderamento das mulheres”, nas palavras de Iraildes Andrade, coordenadora de gênero do Coletivo de Entidades Negras (CEN), idealizadora da feira.

“A gente vive o racismo institucional, então a gente quer dar dignidade aos empreendedores negros, porque esse é nosso povo, essa é a nossa cara. A gente precisa respeitar esses empreendedores que muitas vezes não conseguem mostrar seu trabalho”, destacou Iraildes sobre o evento que contou, ainda, com apresentações do Ilê Aiyê e de Márcia Short e consultoria da estilista Carol Barreto. (Foto: Roberto Abreu/CORREIO) Gastronomia, música, teatro e poesia também estavam na programação da feira que homenageou o Dia Internacional das Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas, celebrado em julho. Financiada pelo Edital Bahia Década Afrodescendente, da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), a feira segue uma vez por mês até novembro, sempre na primeira quinzena de cada mês.

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Apesar de destacar mais a produção feminina, a feira é dedicada a todos os públicos e convida homens e mulheres a refletirem sobre a causa. “Ter a maioria de mulheres expondo seus trabalhos demonstra que, essas mulheres, mesmo vivendo em um ambiente de machismo, de patriarcado, conseguiram encontrar formas de resistência, de sobrevivência, de mudar a realidade”, destacou o professor de História, mestre em administração e coordenador do CEN, Marcos Rezende, 44.

Os diferentes tipos de violências à mulher, construídos ao longo da História, são fruto “desse capitalismo e desse machismo”, continua Marcos. “Muitas vezes ele faz com que nossa existência seja fruto de uma mulher, que a gente conviva cotidiana com a mulher e não aprenda a respeitar ela. A gente precisa mudar esse quadro. Sou um eterno aprendiz e luto sistematicamente para não cometer erros e reproduzir esses equívocos”, reflete.

A artesã Juciara Leoa, 52, reforça que não existe mais aquela coisa “da mulher ficar o dia todo em casa, cuidando dos afazeres domésticos”. “Nós temos que estar unidas, porque os tempos são outros. E não é só aprender novas profissões e compartilhar o conhecimento com cursos e oficinas. É reconhecer que o artesanato ajuda a mulher em sua autoestima”, garante.