Assine

Cortejo literário faz 'bagunça' no Campo Grande


 

O jornalista Franciel Cruz lançou seu primeiro livro com direito a banho de pipoca, acarajé e música

  • Laura Fernades

Publicado em 09/06/2018 às 21:56:00
Atualizado em 18/04/2023 às 12:31:06
. Crédito: Foto: Marina Silva

Banho de pipoca, acarajé para abrir os caminhos, música que fez até a moça do espetinho dançar e um cortejo que, literalmente, parou o trânsito. Quem passou pelo Campo Grande na tarde deste sábado (9), encontrou uma festa de amigos cuja cordialidade era nítida. “Já compraram vossos livros, ‘rebain’ de hereges?”, dizia um cartaz que resumia o clima bem humorado em torno do evento de lançamento do livro de estreia do jornalista baiano Franciel Cruz, 48 anos.

O carinho era recíproco, seja por parte de Franciel que assumiu que o projeto saiu do papel porque “os amigos encheram o saco”, seja por parte dos amigos que não pouparam o anfitrião. “Ele inferniza nossa vida. Faz uma bagunça na minha timeline”, brincou a produtora multimídia Ana Dumas, 54, responsável pela trilha sonora do cortejo que saiu do Campo Grande até o Icba/Goethe- Institut, onde aconteceu a sessão de autógrafos do livro Ingresia (Editora P55 | 258 páginas | R$ 30).

Torcedor do Vitória, o autor foi provocado com o hino do Bahia, mas não deixou barato e disse que a trilha era perfeita para os tricolores que quisessem “chorar ao pé do caboclo”. “Publicamente, Franciel tem esse perfil irreverente, é o cara da chibança, da bagunça. E é tudo tão conservador e quadrado, hoje em dia, que todo mundo cola para preservar e multiplicar essa energia dele”, completou Dumas, que comandou a festa com seu carrinho de café multimídia.

Pois foi esse o clima do cortejo puxado por Franciel, que atravessou a rua com um cesto de acarajé na cabeça e parou o trânsito do Campo Grande ao arrastar cerca de 200 pessoas com ele. “Que presepada!”, ria uma amiga. “Com Franciel, tudo vira comício”, divertia-se outra. “A literatura é só pretexto para a folia”, admitiu o próprio autor, ao CORREIO.

Além de Franciel, a escritora Núbia Bento Rodrigues, 50, também lançou o livro infantojuvenil Sítio Caipora. “Fiz um puxado no lançamento de Franciel, porque somos amigos e temos o estilo de humor parecido, apesar dele ser muito mais exibido”, gargalhou Núbia. “A gente junta palhaçadas e quanto mais presepada, melhor”, garantiu.

Figura única A própria palavra Ingresia faz referência ao barulho que o autor propôs na sua estreia literária que mistura humor e ironia para abordar o cotidiano e a baianidade. “Mesmo sendo Vitória, ele é um grande contador de ‘causos’. Conta casos do dia a dia como se fossem inventados!”, destacou a advogada e amiga Bethânia Rodrigues, 41, sobre as 90 crônicas da obra que tem orelha assinada por Xico Sá, prefácio de Cláudio Leal e posfácio de André Setaro (1951-2014).

Outro amigo que botou pilha para Franciel registrar sua informalidade, foi o jornalista Emmanuel Mirdad, 37, coordenador- geral da Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica).“Botei pilha, né? Enchi o saco, porque esse cara é um cronista sensacional. Deixar registrado em livro esse linguajar peculiar, que é a língua falada nas ruas da Bahia, é muito importante”, justifica.Futebol, política e outros temas aparecem no livro que tem sotaque e não nega suas origens. Além do humor, o lado social também aparece nas crônicas de Franciel que “é uma figura única na Bahia”, segundo o jornalista e curador da Flica, Tom Correia, 48, responsável pela edição de Ingresia.

“As crônicas dele me remetem muito a uma mistura psicodélica de grandes figuras da Bahia: Wally Salomão, Cuíca de Santo Amaro, Armando Oliveira, que é referência do futebol, Albergaria, André Setaro... Franciel reúne o melhor do que essas figuras representam”, elogia Tom.“As crônicas têm um viés de humor, mas de análise crítica do social, da política. É um momento que coroa quem ele é”, completa.[[galeria]]