Criar um filho em Salvador custa, em média, R$ 555 mil

Mães contam ao CORREIO como equilibram orçamento familiar

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  • Priscila Natividade

Publicado em 2 de julho de 2018 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Evandro Veiga/CORREIO

A decisão de aumentar a família - sobretudo, quando o assunto é custo - tem passado cada vez mais pela calculadora. E isso bem antes da gestação. A maternidade não deixou de ser uma dádiva, nem o amor perdeu a importância, mas a segurança financeira da família se tornou o “terceiro elemento” desta relação, principalmente no cenário como o atual, onde a recuperação econômica patina e o mercado de trabalho ainda não reagiu às medidas macroeconômicas. Não custa lembrar, o sonho de ter um filho implica uma realidade de maiores gastos com alimentação, educação, vestuário, lazer e saúde.

Para ajudar homens e mulheres a se planejarem financeiramente para a maternidade e a paternidade, a plataforma de finanças pessoais IQ360 criou um simulador que projeta as despesas do rebento, do nascimento até quando complete 23 anos. (veja simulações abaixo)

De acordo com a ferramenta A História do Seu Filho, a depender da idade, padrão de vida e sexo, o custo médio em Salvador para criar um filho durante este período é de R$ 555 mil, ou seja, mais de meio milhão de reais.

Orçamento

Segundo a ferramenta, a despesa com os filhos até que eles cheguem à fase adulta é o que mais compromete o orçamento familiar. O CORREIO traz (abaixo) histórias de mães com crianças em diferentes faixas etárias e suas receitas para equilibrar o orçamento da família. “Gastos com a educação e plano de saúde são os que mais pesam no bolso dos pais. Sabendo previamente quanto vai custar cada categoria na região onde vivem, os pais podem fazer escolhas mais certeiras do que é ou não prioridade para o desenvolvimento do seu filho e se planejar de acordo”, destaca o especialista em Finanças e CEO do IQ360, Antônio Rocha.Para ele, por mais desafiadora que seja a tarefa de conciliar estes gastos com os desejos de consumo, a estratégia é manter o planejamento financeiro e construir uma reserva financeira. “Umas das tarefas mais difíceis é fazer estas escolhas financeiras. Boa parte dos pais quer dar sempre o melhor para seus filhos e acaba associando o melhor com o mais caro, mesmo sem poder arcar com esses gastos”, diz. “É importante que os pais alinhem as prioridades que querem dar ao desenvolvimento dos seus filhos e façam suas escolhas. O melhor para os filhos vai depender da criação que os pais querem dar a eles”, completa o especialista.Valor

Também é importante ensinar às crianças o valor do dinheiro. E desde cedo, como garante a educadora financeira da DSOP Educação Financeira, Lorena Milaneze.

“A criança não entende ainda o que é marca, status e nada disso. Lembre-se que você é quem cria essas ‘necessidades’, que não fazem sentido para a criança”, afirma. “O que ela (criança) precisa é de amor e atenção e não de pais endividados por causa de compras desnecessárias”, complementa.

Lorena diz que não adianta trabalhar três turnos para manter um padrão de vida além do que se pode sustentar, pois esse estilo de vida vai impactar na criação dos filhos.

 “A criança vai desenvolver crenças e valores baseados em suas experiências. Por isso é importante criar um ambiente onde o consumo e as atitudes sejam coerentes com o padrão de vida da família e o valor que se deseja passar para os filhos”, pontua a especialista.

Veja simulações de total de gastos para se criar um filho em Salvador

O guia de finanças pessoais do IQ360 fez simulações em bairros da classes A, B, C e D para calcular quanto custa ter um filho de 0 até os 23 anos em Salvador. Confira o resultado:

Bairro Ondina – Classe A    R$ 3.787.888

Bairro Horto. Florestal – Classe A   R$ 3.787.888

 Bairro Baixa dos Sapateiros – Classe B    R$ 1.292.483

Bairro Liberdade – Classe C  R$ 256.377

Bairro Alto da Teresinha – Classe D  R$ 138.812

Confira o relato de mães sobre como elas lidam com o orçamento familiar para criar os filhos 

Bárbara Anunciação é pedagoga e espera terceiro filho (Foto: Evandro Veiga) Despesas vezes três

Bárbara Anunciação, pedagoga, mãe de João Leonardo (10 anos),  Marya Esther (6 anos) e à espera de Flor de Lis  

“Na verdade, eu não decidi engravidar de nenhum dos meus filhos. Todos vieram de surpresa. Tenho 14 anos com o meu marido, Leonardo, mas como a gente nunca planejou nenhuma criança ficamos meio ‘atordoados’ em relação a conciliar estes custos. Estávamos pensando em trocar de carro, mas com a chegada de Flor de Lis empurramos isso com a barriga, literalmente. As prioridades sempre são eles. O programa 'a dois' vira sempre 'a quatro'. A maior dificuldade é quando acontece uma despesa extra, principalmente quando uma das crianças fica doente. Como nunca tem dinheiro de sobra, temos que remanejar. As crianças não têm plano de saúde e na emergência vamos para o SUS e fazemos só os exames no particular. Tenho feito todo o acompanhamento da gravidez pelo SUS. E aí acabo pedindo dinheiro emprestado a minha mãe e a meu sogro. Não tenho muita vergonha não. Eu e meu marido podemos passar por algumas privações, mas as crianças não. Ter filhos hoje é um investimento, sim, e muito alto desde o nascimento. Está sendo tudo à 'queima-roupa', até porque estamos concluindo a construção da nossa casa e vamos resolvendo na base do jogo de cintura. Uma preparação, fundo de investimento? A gente não tem. Gastamos uma média de R$ 900 com cada um por mês, levando em consideração a escola onde o impacto é maior. O dinheiro entra e já tem destino certo. Eu acredito que o mais importante para segurar isso é não esconder do seu parceiro o quanto você ganha e juntar as rendas. Dá para pensar um pouco maior. Quando você junta a renda e os dois têm o mesmo foco dá para sentar e conversar. É só jogar limpo”.

Giselle só engravidou depois de conquistar segurança financeira (Foto: Arisson Marinho) Tudo na ponta do lápis

Giselle Rocha, assistente de faturamento, mãe de Noah (3 anos)

“Empregada doméstica, escola, natação, capoeira, programas de lazer, plano de saúde. Sempre tive o sonho de engravidar. Ter um filho é a maior bênção de Deus, mas eu e meu marido, Marcel, só decidimos fazer isso quando nos sentimos financeiramente seguros. Gastamos com Noah, atualmente, em média R$ 4 mil por mês. O nosso segredo está nas reservas que fazemos para as surpresas e com isso procuramos ficar dentro do orçamento. Aqui o regime é duro, principalmente com relação ao que é supérfluo. É feito o controle de tudo. Quando as coisas apertarem de vez e a saída for demorada, é ter paciência para não meter os pés pelas mãos. As maiores prioridades, sem dúvida, são a saúde e a educação de nosso filho. Já estamos pensando na mudança da escola de Noah, após a alfabetização. Hoje, ele estuda em uma escolinha de bairro. Porém, para prepará-lo melhor, temos a pretensão de mudá-lo para uma escola maior. Ainda falta um tempinho para isso, mas começamos a pesquisar e ver as possíveis formas de nos prepararmos para esta mudança. A questão do consumo aqui em casa é bem trabalhada. Por Noah ser praticamente a única criança da família, os avós e tios gostam de dar presente a qualquer momento. Então combinamos de sempre presenteá-lo nas épocas festivas. Por diversas vezes, o levamos em lojas de brinquedo e ele se contenta em olhar e planejar o momento que irá ganhar o que ele deseja e isso tem dado muito certo. Ainda estamos conversando sobre um segundo filho, sobre como podemos gerir estes custos. O fundamental é planejar, encontrar atividades de lazer com um custo menor e poupar para garantir o que desejamos”.

Suzana conta que gravidez não foi planejada e que gasta, em média, R$ 3 mil por mês com a filha Luana (Foto: Evandro Veiga) Educação em primeiro lugar

Suzana Sales, gestora de RH e mãe de Luana (16 anos)

"Eu não decidi engravidar, eu engravidei. Foi muito complicado porque tinha 29 anos, estava na faculdade durante a noite e durante o dia eu trabalhava em outra cidade; dia de sábado eu estudava inglês e no meio disso tudo veio uma gravidez não esperada. Com a vinda dela eu tive que aprender a me disciplinar mais com relação a orçamento porque realmente é uma despesa muito grande ter um filho. Você tem responsabilidades e eu tive que mudar a minha carreira, intensificar muito mais no trabalho para conseguir conquistar coisas, crescer, dar um padrão de vida melhor para ela. Por isso preferir investir na educação mais do que em qualquer outra coisa. Isso tem sido um desafio financeiro para mim. Luana quer fazer Medicina e está se preparando para entrar na Ufba, mas o sonho dela é a entrar na Faculdade Bahiana, que é privada e o custo é bastante alto. Por isso estamos pensando nisso. Hoje o meu custo com Luana é em média R$ 3 mil por mês, uma fatia grande do que eu ganho. Mas a satisfação, o retorno que ela me dá, é mais que proporcional. Como a decisão de colocar ela em uma escola melhor compromete bastante a minha renda, a gente vai controlando os outros custos juntos. Sem dúvida alguma, a palavra que eu mais gasto com Luana é 'agora'. Mas lá em casa tenho normas, regras, orçamento até para ela também. Para ter controle de custos com o filho é você envolver ele nesse orçamento. Claro que por ser adolescente, toda mãe já deve ter ouvido algo do tipo ‘eu não vou repetir a roupa né’?; quando surgem estas festinhas fica mais complicado. Só que a roupa não precisa ser de marca e não é preciso gastar muito para se divertir. Faz parte".