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Desempenho sofrível contra a Venezuela fez a Seleção merecer as vaias em Salvador
Gabriel Galo
Publicado em 19 de junho de 2019 às 15:29
- Atualizado há um ano
Alguma coisa acontece com a Seleção Brasileira na Copa América em Salvador.
Em 1983, em época de Copa sem sede fixa, empatou em 1x1 no jogo de volta da final e viu o Uruguai levantar o caneco. Em 1989 teve o rebu dos 3 jogos em casa. A não convocação de Charles, a bagunça da CBF e de Lazaroni, o péssimo gramado… Tudo contribuiu para criar um clima de animosidade e mau desempenho. Até ovada de mira a laser sobrou em Renato Gaúcho, enquanto o escrete subia a escadaria do antigo vestiário da velha Fonte. Vitória apenas contra a Venezuela, então saco de pancada do continente, e dois 0x0 modorrentos.
Eis que 30 anos depois, o Brasil regressava a Salvador em Copa América para enfrentar uma Venezuela de defesa mais robusta. E a solidez defensiva dos venezuelanos contrastou com a palidez ofensiva da Seleção Brasileira.
Apesar da terceira colocação no Ranking da FIFA e da invencibilidade pós-Copa do Mundo, a anemia brasileira é regra no campo de jogo desde a própria Copa do Mundo.
Tite comete os mesmos erros vistos, por exemplo, no Corinthians, em 2013. Insiste com peças que estão ‘fechadas’ com ele, numa fidelidade que racha o grupo e corta a empolgação, além de travar o futebol da equipe.
Inúmeros são os exemplos. O amor incondicional por Willian e Fernandinho. O uso tacanho de Gabriel Jesus. A subserviência a Neymar. Tirar Marquinhos da titularidade na Copa. A lista é longa.
Fato é que Tite, no seu excesso de tatiquês tão insuportável quanto incompreensível, molda os jogadores para que se tornem meros robôs de posicionamento. É a ceifagem do improviso e a imposição da ocupação de espaços desconfortáveis aos jogadores. Os homens de frente do Brasil atuam tortos.
Ao vermos sob esta óptica, concluímos que Tite não é técnico da seleção que extrai o máximo dos jogadores que tem à disposição. Tite é, pois, técnico que reduz alguns dos mais respeitados nomes do futebol a quadrados e posições do seu esquema imutável.
Então, não havia de ser diferente que diante de uma Venezuela mais organizada que a Bolívia, o Brasil atingisse uma parede e não soubesse o que fazer a partir dali. Falta criatividade. Falta ousadia. Falta aquilo que fez o Brasil ser a potência mundial que é do futebol.
O Brasil de Tite não é Brasil. Tampouco é Europa e sua tática acertada em relógio. Tentando ser um, esquece o outro e falha nos dois.
Natural, portanto, que Salvador, uma vez mais, vaiasse a Seleção Brasileira ao fim do jogo. A lotada Arena Fonte Nova, de ingressos caríssimos, pagou para ver espetáculo e viu baba de qualidade sofrível. Percebeu que, ao que tudo indica, o prazo de validade de Tite venceu.
No que, parafraseando o ditado antigo, podemos entender que, na situação atual, quem tem boca vaia Tite.
Gabriel Galo é escritor. Texto publicado originalmente no site Papo de Galo e reproduzido com autorização do autor.