Crônica: Também não era pra tanto

A vitória suada da Argentina evita a eliminação precoce na Copa América

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  • Gabriel Galo

Publicado em 24 de junho de 2019 às 20:28

- Atualizado há um ano

. Crédito: Carl de Souza/ AFP

Bicampeã mundial. 14 vezes campeã da Copa América. No currículo também acumula Copa das Confederações, Olimpíadas, Pan-Americanos, e mais uma infinidade de outros torneios.

Vestiram e vestem sua habitual camisa listrada verticalmente, 3 dos maiores nomes da história do futebol: Di Stéfano, na entressafra argentina do fim dos anos 40; Maradona; e, claro, Lionel Messi.

Talvez seja, portanto, uma questão cíclica essa história de vencer com a Argentina. Se a pecha de melhor de todos os tempos cabe ao 10 albiceleste, Messi é o contrapeso a Maradona, que por sua vez era a Di Stéfano.

Deixemos de lado, no entanto, o balanço entre figuras míticas do desporto argentino e foquemos naquilo que interessa nessa Copa América.

A rivalidade com o Brasil, catalisada pela antiga e extinta Copa Roca, além do título de país do futebol que os aficionados de lá tentam usurpar na base de evidências práticas – ah!, o desespero que sentimos pelo embasamento da prepotência – provoca uma reação interessante.

Desde 1993, tempo demais de seca inacreditável, os argentina não levantam um troféu profissional. Muitos são os vices, nenhum é o grito de campeão.

E, confesso, não sem um tanto de prazer. Ver Messi perder um pênalti na final da Copa América de 2016 deu vazão a um sorriso um tanto sádico, um tanto invejoso. Logo ele, o maior de todos, o gênio dessa geração, o pastor das cabras decepcionava a arrogância de quem ousa dizer que Maradona é maior do que Pelé.

Pois na derradeira rodada da fase de grupos desta Copa América em terra brasilis, os argentinos estavam a perigo. Um mero empate contra o Catar, atual campeão asiático, bastaria para que tomassem o rumo de Buenos Aires. Num grupo com Paraguai e catarianos, além da forte Colômbia, seria não somente uma surpresa, mas um vexame.

E são tantos os bons nomes do escrete vizinho que seria inimaginável vê-los abaixo de asiáticos cheios de jogadores importados e paraguaios. E mesmo olhando enviesado, torcendo para que caíssem, sabia-se que apesar do bando em campo, apesar da falta de decisão sobre o time titular, apesar dos pesares, também não era pra tanto.

No que os catarianos, aos quatro minutos de bola em jogo, presentearam Lautaro Martinez com o primeiro gol do desafogo. Na segunda etapa, o decepcionante Kun Agüero deu números finais a uma vitória inevitável.

O Argentina 2×0 Catar é a afirmação de que aos grandes do mundo, o desmantelo tem limite. Abraçam as limitações de uma química que parece não se estabilizar com os agentes empregados. E se não vai na química, vai na história. Vai na certeza da perna que treme dos inexperientes. Vai no embalo da paixão torcedora que não duvida nunca da capacidade dos seus.

O pior, ao menos, parece ter passado. Agora começam as fases mais agudas. Pela frente, a Argentina encara a Venezuela, ex saco de pancadas que, inclusive, bateu a albicelesta há 3 meses, em Madri.

Factualmente, desde 2014 o grupo não consegue encontrar rumo. Crescer da competição é improvável, mas não impossível. E se algum argentino imaginar que dá pra avançar na base do grito de sua gente, podemos aplicar a afirmação com sinal trocado: também não é pra tanto.

Gabriel Galo é escritor. Texto publicado originalmente no site Papo de Galo e reproduzido com autorização do autor.