Curadora da Flip, baiana Joselia Aguiar fala sobre biografias na Flipelô

Jornalista irá lançar em breve biografia sobre Jorge Amado e participa na tarde desta sexta (11) de bate-papo com Antonella Rita Roscilli e Aleilton Fonseca

  • D
  • Da Redação

Publicado em 11 de agosto de 2017 às 09:56

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Biógrafa de Jorge Amado, a jornalista baiana Joselia Aguiar é uma das atrações da Festa Literária Internacional do Pelourinho (Flipelô) nesta sexta-feira (11).  Ao lado da escritora italiana Antonella Rita Roscilli, ela irá conversar sobre biografias, com mediação do escritor Aleilton Fonseca, a partir das 14h. Em entrevista ao CORREIO, Joselia, que esteve no centro das atenções nas últimas semanas por conta da curadoria da  15ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), comemora a realização de um evento do tipo na capital baiana. “Faltava uma festa literária em Salvador, lugar tão importante para o mundo, historicamente e culturalmente importante. Nunca deixou de ser”, opina. Confira bate-papo na íntegra:

Você chega a Salvador para a primeira edição da Flipelô depois de comandar uma bem-sucedida Flip, tanto aos olhos do público, quanto da crítica. A Flip foi a primeira festa literária do país nesse modelo e serviu de inspiração para centenas de eventos depois. Como você vê esse movimento? A Flip foi a primeira mesmo, não tinha esse formato de festa literária antes no Brasil. O modelo foi inspirado em um festival que acontecia na Inglaterra - uma das fundadoras da Flip é uma editora inglesa chamada Liz Calder. Depois da Flip, muitas foram criadas e acho que em todas elas o que há é uma oportunidade de o autor mostrar seu trabalho. Muito antes, os autores já apresentavam seus livros em feiras, bienais. Jorge Amado, inclusive, foi pioneiro nisso. Quando ele volta para o Brasil em meados dos anos 50, ele começa a fazer eventos literários em hotéis do Rio de Janeiro inspirados no que ele tinha conhecido na França.  A ideia de autores autografarem para o público já existia. 

São 15 anos de Flip e de lá para cá muita coisa mudou. Este ano a festa ganhou destaque por dar espaço a autores, temas e questões que até então eram invisibilizados por ela. Qual sua avaliação sobre isso? A gente se renovou nesses 15 anos, houve uma readequação até mesmo física. A Tenda Principal, onde habitualmente aconteciam os debates, deixou de existir e a programação aconteceu dentro da Igreja Matriz. Assim, ganhamos um espaço maior do lado de fora para as pessoas assistirem a programação através do telão. O espaço que antes comportava 200 pessoas passou a abrigar 700. Esse diálogo da festa com a cidade em que ela acontece é importante. Faltava uma festa literária em Salvador, lugar tão importante para o mundo, historicamente e culturalmente. Nunca deixou de ser. E acredito também que nenhuma festa é sozinha, uma se soma à outra e a Flipelô chegou para somar.

Em sua opinião, as festas literárias contribuem ou não para a formação de novos leitores? A festa é uma parte, o ideal é que a gente tenha uma formação de leitores mais consistente, que de dê pela família, pela escola. A festa literária é um ponto de contato com a literatura, de encontro entre leitores e escritores, um ponto de venda de livros e um momento importante para a imprensa colocar a literatura em pauta, mas não é a única coisa, nem a que forma de modo mais completo. Nesses eventos, vejo que as pessoas se interessam muito pelo autor que acaba de falar nas mesas, compra seu livro, quer um autógrafo e isso é importante também.

Mas, em se tratando de festa, há espaço para outras linguagens além da literatura? Aqui no Brasil a gente tem nesse momento uma literatura que envolve autores híbridos, que trabalham com performance, música, audiovisual. Acho que a relação da festa com essas linguagens depende muito da cultura local também. Salvador de fato é muito musical, com uma herança africana, cultural, negra.  Eu sou muito ligada à música e acho ótimo!

Falando em livro, você já concluiu a biografia de Jorge Amado, na qual você tem trabalhado há alguns anos. Em que fase está o projeto agora? Está com o editor, combinei com ele que depois da Flip a gente ia fazer a edição final. A expectativa é que o livro saísse ainda esse ano, mas como já foi adiado tantas vezes, acredito que ele vá sair quando as pessoas menos esperarem. Estou trabalhando nele desde 2011.

E como foi que você encontrou a obra de Jorge Amado e acabou se interessando em escrever uma biografia sobre ele? Sou de Salvador e trabalhava na Folha de S. Paulo em 2011 quando fui convidada pelo editor para fazer uma biografia de Jorge Amado. Num primeiro momento, achei que todo mundo sabia quem era Jorge Amado, sabia sobre a vida e as obras dele. Só que as pessoas sabem pouco, apesar de ele ser bastante famoso, um dos nossos escritores mais traduzidos. Dos autores brasileiros é um dos que as pessoas conhecem mais os personagens, os livros, mas não conhecem a história dele. Comecei o projeto imaginando que ia levar menos tempo, mas, apesar da demora, acho que acabei conseguindo fazer um trabalho mais completo. 

Falando em Salvador e em Jorge Amado, você conhece a Casa do Rio Vermelho, não é? Quais lugares na cidade mais lhe encantam? Já fui varias vezes mostrar a casa para visitantes e turistas amigos meus. Para mim também é bacana, voltar a um lugar que faz parte da minha pesquisa. Ainda estou fazendo um doutorado sobre Jorge Amado, então pesquiso muito na Fundação Casa de Jorge Amado, no Pelourinho. Gosto de almoçar nos restaurantes de lá do Centro Histórico. Tem o Poró, o D'Venetta no Santo Antônio Além do Carmo. Gosto muito de visitar as exposições do Museu de Arte da Bahia, Museu de Arte Moderna. Gosto muito de ir à Concha Acústica, lugar absolutamente especial, faz tempo que não vou.