Davi Fiuza: Anistia Internacional pede agilidade para que 17 PMs sejam denunciados

PMs foram indiciados pela Polícia Civil; inquérito foi enviado ao MP-BA

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  • Bruno Wendel

Publicado em 8 de agosto de 2018 às 12:25

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Anistia Internacional

A Anistia Internacional pediu nesta terça-feira (7) agilidade ao Ministério Público da Bahia (MP-BA) para que se faça a denúncia dos 17 policiais militares envolvidos na morte de Davi Santos Fiuza, adolescente desaparecido no dia 24 de outubro de 2014 durante uma operação policial na periferia de Salvador.

A Anistia Internacional é uma organização não governamental que defende os direitos humanos com mais de 7 milhões de membros e apoiadores em todo o mundo. 

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“Apesar da lentidão nas investigações, é muito importante que o inquérito sobre o desaparecimento de Davi Fiuza tenha sido finalmente concluído e identificados os policiais responsáveis por este crime. É urgente que o Ministério Público denuncie os policiais responsáveis pelo desaparecimento de Davi e que eles sejam levados a julgamento. A Anistia Internacional permanecerá mobilizada junto à família de Davi para que o caso seja levado à justiça”, afirmou Renata Neder, coordenadora de pesquisa da Anistia Internacional Brasil.

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Os 17 PMs foram indiciados na semana passada após envio do inquérito do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) ao MP-BA.

Os PMs respondem por homicídio qualificado. As qualificadoras são os crimes de ocultação de cadáver e concurso de agentes, que pode ser definido como a concorrência de duas ou mais pessoas para o cometimento de um ilícito penal.  Davi tinha 16 anos quando desapareceu (Foto: Rute Fiuza/Arquivo Pessoal) Os policiais indiciados faziam uma operação final para obtenção do diploma de soldado, na manhã de 24 de outubro de 2014, quando, segundo o inquérito, abordaram o garoto na Rua São Jorge, localidade de Vila Verde, em Salvador, e o raptaram. São dois tenentes, dois sargentos e 13 soldados-alunos – os tenentes e sargentos faziam parte do grupo de instrutores da operação.

Os nomes dos indiciados não foram revelados porque o processo tramita em segredo de Justiça. Em abril de 2016, 23 PMs chegaram a ser indiciados pela Polícia Civil pelo assassinato no jovem. A família do adolescente revive um novo capítulo da busca por notícias do garoto. Em entrevista ao CORREIO, a mãe da vítima, Rute Fiuza, disse que o momento é doloroso e que não tem esperanças de justiça.

A Anistia Internacional acompanha o desaparecimento de Davi Fiuza desde outubro de 2014, quando lançou uma Ação Urgente de mobilização internacional pedindo a investigação imediata do caso e também denunciou o caso para o Grupo de Trabalho da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre Desaparecimentos Forçados ou Involuntários.

Ao longo destes quase quatro anos, a organização também denunciou a morosidade do sistema de justiça na investigação do caso, o risco de interferência nas investigações para proteger os policiais envolvidos e as ameaças à família de Davi.“A cidade de Salvador tem um preocupante histórico de impunidade nos casos de violência policial e execuções extrajudiciais. Para mudar este quadro, é essencial que policiais envolvidos em execuções e desaparecimentos forçados sejam devidamente responsabilizados. A conclusão do inquérito sobre o desaparecimento de Davi Fiuza foi um passo importante neste sentido”, afirmou Renata Neder.A Anistia cobrou ainda que a família de Davi Fiúza seja protegida pelo Estado. “Pessoas que denunciam as violações cometidas por policiais muitas vezes sofrem ameaças e retaliações. As chamadas ‘operações vingança’ também têm sido frequentes em diversas cidades no país. As autoridades da Bahia devem adotar medidas preventivas para garantir a segurança da família de Davi Fiuza e também para evitar qualquer forma de retaliação”, concluiu a representante da Anistia.