De cadáveres sintéticos a transplante de pele: medicina na Bahia evolui em tecnologia

Tecnologia não substitui relação médico-paciente, afirma Cremeb

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  • Gil Santos

Publicado em 10 de abril de 2019 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/ CORREIO

Desde a época em que Hipócrates, considerado o pai da medicina, circulava pelas ruas da Grécia antiga até os dias atuais, as tecnologias provocaram mudanças e revolucionaram as formas de tratamento. Mas, para o conselheiro do Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb-BA), Carlos Tavares, elas não supriram uma necessidade básica: o contato entre médico e paciente.“Do ponto de vista do código de ética médica, as novas tecnologias em nada alteram a relação médico-paciente. As responsabilidades são as mesmas, mas elas trouxeram mais qualidade para o atendimento. Isso exige mais capacitação e investimento, porque os custos são altos”, afirmou.Ele destacou que, apesar de a Bahia não liderar o ranking dos estados mais desenvolvidos em tecnologia no país, está na ponta em termos de capacitação profissional. “Aqui fica a primeira Faculdade de Medicina do país. Temos profissionais cada vez mais capacitados, mas faltam aparelhos, falta tecnologia”, afirmou.

Para o diretor do Hospital Aliança, Raymundo Paraná, existem, pelo menos, três pontos que precisam ser observados antes de as instituições comprarem novas tecnologias.

“Primeiro, é preciso fazer um estudo de mercado, para identificar se há demanda. Segundo, verificar se existem profissionais capacitados para lidar com a nova tecnologia. Se não, investir em capacitação. Terceiro, compactuar com as fontes pagadoras. No caso da Bahia, os planos de saúde são as principais fontes”, afirmou.

Ele destacou que a falta desse planejamento inviabiliza a manutenção da nova tecnologia e, muitas vezes, obriga as instituições a usarem as máquinas e fazerem procedimentos sem necessidade, para poder pagar a aquisição do novo bem.“Se esses pontos forem observados, a tecnologia só acrescenta e se torna um ganho para o médico e o paciente. Ela não é tudo. O raciocínio do médico continua sendo o mais importante, mas ela pode ser uma possibilidade a mais”, declarou.Confira abaixo algumas das novidades da medicina na Bahia:

Cadáveres sintéticos - O curso de Medicina da FTC Salvador é o primeiro das regiões Norte e Nordeste a utilizar cadáveres sintéticos realísticos para aulas de anatomia e treinamento cirúrgico. A instituição conta com dois manequins que replicam com precisão características e reações esperadas em procedimentos médicos realizados em pacientes reais. Os protótipos, desenvolvidos pela empresa brasileira Csanmek, são capazes de ter reações físicas e até mesmo sangrar durante uma cirurgia, podendo ser cortados e suturados. Também respiram e empregam centenas de músculos, ossos, órgãos, veias e artérias substituíveis - todos feitos a partir de materiais que imitam as propriedades mecânicas, térmicas e físico-químicas do tecido vivo.

Robô Da Vinci - O equipamento, comprado pelo Hospital Santa Izabel, tem o objetivo de realizar procedimentos menos invasivos e com mais precisão e já é utilizado em hospitais, como o Sírio-Libanês e o Albert Einstein. O robô possui quatro braços: um deles carrega a câmera e os outros três ficam livres para portar instrumentos cirúrgicos como pinças, tesouras e bisturi. A cirurgia é guiada pelas imagens da câmera introduzida no paciente e exibidas em 3D em uma cabine de controle, de onde o médico comanda todo o processo. À medida em que ele move as mãos e os dedos, o robô reproduz seus movimentos no corpo do paciente. Para garantir total segurança do paciente e o sucesso do procedimento, a equipe cirúrgica é composta pelo cirurgião principal, um cirurgião assistente, anestesistas, uma enfermeira coordenadora, técnicos de informática, profissionais de engenharia clínica e instrumentadores capacitados. A primeira cirurgia robótica da Bahia aconteceu no dia 23 de março, um sábado. Mais três cirurgias também foram realizadas no mesmo final de semana, todas na área de urologia.

Estimulação Cardíaca Hissiana - Já empregada em outras regiões brasileiras, a técnica inovadora foi realizada pela primeira vez no Nordeste, no Hospital Português, gerando melhores perspectivas para os portadores de arritmias cardíacas. No método convencional de estimulação artificial com marca-passo definitivo, a frequência cardíaca é corrigida com o implante de eletrodo, no ventrículo direito do coração. Já no modelo novo o eletrodo deixa de ser introduzido na parede do ventrículo direito, sendo implantado no sistema de condução natural: o Feixe de His. Quem explica é o especialista em estimulação cardíaca artificial e integrante da equipe pioneira na técnica, Alexsandro Alves Fagundes. “O objetivo é colocar o eletrodo diretamente no sistema especializado de condução do paciente, o Feixe de His, que promove um batimento mais fisiológico”. O método moderno é indicado para tratar as arritmias severas, associadas à redução da frequência dos batimentos do coração (bradicardia). Na Bahia, três pacientes já foram beneficiados.

Transplante de pele – Em março deste ano, a equipe de transplantes do Hospital Geral do Estado (HGE) realizou o primeiro transplante de pele alógena (doada por outra pessoa) em uma unidade da rede própria da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab). O único transplante de pele ocorrido no Estado foi em 2015, no Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes), unidade federal. O procedimento beneficiou uma menina de 16 anos, que teve queimadura de 3º grau em 40% do corpo, após sofrer um acidente de carro. Ela estava internada no Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do HGE há três semanas, quando foi submetida à cirurgia. O departamento foi recém-habilitado e de agora em diante passará realizar o procedimento.