De Jobim a Chaplin, de Bandeira a Welles, cartas do Poetinha estão à disposição

Acervo Digital Vinicius de Moraes oferece 11 mil documentos originais que podem ser baixados, incluindo correspondências, livros e letras de música

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  • Ana Pereira

Publicado em 29 de maio de 2021 às 07:02

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: VM Cultural /divulgação

Olhando o manuscrito de Tarde em Itapuã, da até para imaginar Vinicius de Moraes (1913- 1980) sentado na varanda de sua casa em Salvador, curtindo o por do sol e escrevendo uma de suas canções ontológicas. A letra caprichada, versos inteiros riscados (o que será que estava lá?) e os rabiscos indicam os caminhos criativos do poeta, que agora pode ser conferidos de qualquer canto do Brasil e do mundo. 

O manuscrito é um 11 mil documentos originais disponibilizados no Acervo Digital Vinicius de Moraes, lançado na última quinta, e que reúne preciosidade do acervo pessoal de Vinicius. O material já havia sido doado pela família à Fundação Casa Rui Barbosa, no final dos anos 80, e podia ser consultado, na sede do órgão, no Rio. Agora, além da pesquisa online, é possível baixar os documentos, gratuitamente, em PDF.

Dividido em três seções, o site traz poemas, textos em prosa, letras de música, peças, roteiros, discursos, notas e muitas cartas trocadas entre o Poetinha, amigos e parceiros como Baden Powell, Carlos Lyra, Tom Jobim, Orson Welles, Charles Chaplin... Em uma carta ao poeta Manuel Bandeira, Vinicius solicita uma leitura crítica de seus poemas. Em outra, pede a opinião sobre versos do poema Pátria Minha, com receio de ter problemas políticos.

Só imagens digitalizadas são 34 mil, um retrato da vida intensa de Vinicius na cultura nacional, com passagens na literatura, na música, no teatro e no cinema. E ainda sua trajetória como embaixador, em várias países. “Estamos preservando esse material de qualquer problema físico e dando acesso gratuito à informação”, afirma Marcus Moraes, sobrinho neto de Vinicius, que assume a coordenação técnica.  Letra de Tarde em Itapuã, grafada com "m" (Foto: VM Cultural/divulgação) Neta de Vinicius, Julia Moraes coordena o projeto e destaca um aspecto muito interessante do acervo: mostrar particularidades do processo criativo de Vinicius. “Do ponto de vista de quem quer entender os processos literário e criativo, o acervo é muito rico. É um mapa da criação. Não são só acertos, ali estão os erros também. Acredito que isso valorize todos os artistas”, avalia.

Das várias versões de Garota de Ipanema, por exemplo. Também é possível consultar o roteiro decupado do filme Orfeu Negro, dirigido pelo cineasta francês Marcel Camus e uma entrevista de Vinicius revelando que adaptou a peça Orfeu da Conceição para o cinema em apenas 15 dias. Na área musical, são mais de 260 letras, muitas com mais de uma versão, além de todos os livros de Vinicius em acervo.viniciusdemoraes.com.br.