De joelhos no meio do shopping, mulher agradece pelas compras na Black Friday

Shoppings abriram desde às 6h para consumidores aproveitarem as promoções

“Bréque Frai”, “Black Fraidêi”, “Leva e traz”, blá-blá-blá. As pronúncias e apelidos para a Black Friday são as mais variadas possíveis, mas o objetivo do consumidor é um só: economizar. Os baianos foram às ruas nesta sexta-feira (23) para pesquisar, pechinchar e, finalmente, comprar alguma coisa na festa promocional. Desde as 6h da manhã, os shoppings da cidade estão funcionando a pleno vapor e o embalo foi acompanhado por mercados e grandes lojas de Salvador.

De joelhos no meio do Shopping da Bahia, a cozinheira Neide Aragão, 47 anos, agradecia por ter comprado o que queria nesta Black Friday. Forno elétrico, tábua de passar roupa, processador de alimentos e panela de pressão. A lista de Neide foi grande, assim como a força da oração pedindo que aos céus para que conseguisse pagar tudo. “A compra já foi, agora falta pagar”, disse, com sorriso amarelo. Neide e Armando comemoraram após conseguir comprar tudo o que queriam (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Para conseguir aproveitar as ofertas sem atrapalhar o horário do expediente, a cozinheira saiu com seu marido, Armando Oliveira, bem cedo. O percurso de casa, em Brotas, até o shopping dura pouco menos de 20 minutos - ainda mais para quem saiu às 6h20 da manhã e evitou todo o trânsito da região.

Quem via Neide ajoelhada no chão junto a seu altar de compras imaginava que ela já tinha comprado tudo que queria nesta Black Friday. Ledo engano: foi só piscar os olhos que o marido dela apareceu carregando um aparelho de ar condicionado. Afinal de contas, o verão da Bahia vem aí com seu calor tão intenso quanto característico.

Sempre olhando o relógio para conferir a hora, Neide contou que ainda precisava trabalhar. Nesta sexta-feira ela acertou com a chefia um horário mais flexível para aproveitar as promoções. “Eu avisei que chegaria mas tarde, só que a gente fica agoniado em atrasar muito”, contou.

Teve gente comprando pra si, mas também para presentear. E como diz o ditado, coração de mãe não é brincadeira. Há quem acredite que seja maior que o mundo. É o que acredita a pensionista Nilzete Macedo.   Nilzete conseguiu economizar R$ 500 na compra de uma TV de 50' para presentear a filha (Foto: Mauro Akin Nassor) Ela foi outra consumidora que acordou cedo, saiu do bairro da Boca do Rio com uma missão: comprar um televisor de 50' para a filha, que mora no município de Seabra, na Chapada Diamantina. Como diz o ditado, missão dada é missão cumprida. Dona Nilzete chegou ao shopping às 7h da manhã e conseguiu comprar a TV com 500 reais de desconto.

“Tinha pesquisado um pouquinho durante a semana e hoje cheguei aqui pra bater perna. Agora achei, meu filho!”,  diz a pensionista após comprar o aparelho na loja Magazine Luiza. Às pressas, ela deixou o shopping rumo à rodoviária. O seu genro aguardava no saguão do terminal para pegar a TV e levar o presente de Natal antecipado para a filha de dona Nilzete. De Salvador até Seabra, a distância é de pouco mais de 470km, ou seja: até o destino final, a televisão ainda tem uma longa viagem pela frente.

O metalúrgico Magno Félix, 28, foi outro que aproveitou que estava de folga e fez questão de sair cedo de casa para caçar as ofertas. Acordou às 5h e às 5h30 já estava na porta do Shopping da Bahia, que abriu às 6h. O objetivo? Comprar fraldas para seu filho Adson, que está perto de chegar. O esforço valeu a pena, já que cada pacote de fralda saiu com mais de 50% de desconto: era 21 reais e saiu a 10 na lojas Americanas. “Tomei um chá de espera mas economizei tanto que nem vou fazer chá de bebê”, conta o metalúrgico, feliz pela economia.   Magno aproveitou para garantir um estoque de fraldas para o filho que ainda vai nascer (Foto: Mauro Akin Nassor) Líder da banda Legião Urbana, Renato Russo cantava que quem acredita sempre alcança. Mas, para o aposentado Alexnaldo Ribeiro, 57, o verso é outro: quem acredita, sempre economiza. Ele é fissurado por uma boa economia. Pesquisa em sites, guarda folhetos, bate perna nas lojas e garante: sempre consegue um precinho diferenciado.   O aposentado Alexnaldo está em busca de uma geladeira invertida com um bom preço (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Nesta Black Friday, a missão dele é conseguir uma geladeira invertida, aquelas com freezer na parte de baixo. Alexnaldo conta só pegou no sono às duas da manhã - horário em que terminou de "checar todos os sites possíveis". "O brasileiro tem que aprender a pesquisar. Não temos ideia do poder da pechincha!", conta empolgado, enquanto conferia os preços no Supermercado Extra.

Alexnaldo também fica de olho na famosa "Black Fraude". Ele conta que, pelo menos dois sites que estava monitorando, aumentaram os preços pouco antes desta semana para, na Black Friday, voltarem aos preços normais dizendo que aplicou-se um desconto. "Nessa eu não caio!", exclamou antes de juntar a seus familiares na busca da tão sonhada geladeira.

Quem também de saída do mercado foi a aposentada Lenyr Santana (com Y, viu?!). Ela foi mais objetiva que Alexnaldo e fez todas as suas compras em apenas meia hora. A aposentada conversou com a reportagem do CORREIO enquanto aguardava sua filha na porta do Extra da Paralela. Seu fiel escudeiro era o carrinho de compras, abastecido com uma televisão de 32 polegadas e alguns travesseiros.

"Só procurei hoje mesmo e foi tudo planejadinho. Comprei para meu quarto porque a antiga queimou", conta a aposentada. Os preços agradaram tanto que dona Lenyr saiu convencida a voltar ao mercado para buscar algumas coisinhas para o Natal. Moradora da região do Imbuí, bem próxima ao supermercado, ela costuma fazer compras no estabelecimento em seu dia-a-dia e não seria um dia promocional que mudaria essa rotina.

Interruptor popstar No interior da loja Ferreira Costa, que fica na Paralela,, quem estava fazendo sucesso entre os consumidores era um interruptor vendido por 1 real. O popstar do centro comercial saía aos montes. "Vou levar para uns parentes", contou uma consumidora, enquanto deixava a loja de forma apressada.

O presente inusitado também parou no carrinho de Leandro Pedro, 34. O empresário é morador de Lauro de Freitas e passou no estabelecimento para conferir as ofertas.

"As coisas miúdas estão baratas. Levei o interruptor e umas tomadas que estavam com preço bom. Só que as coisas maiores eu não gostei muito. O [preço do] ventilador mesmo tá caro", relata o empresário, com a luz da economia devidamente acesa.

Quem também foi conferir as promoções da loja foi Semíramis Teresinha, de 76 anos. Ela estava animada e nem era por conta do balde de tinta que comprou com 50 reais de desconto na Ferreira Costa. "Promoção, com sorte a gente acha", conta a aposentada antes de afirmar o verdadeiro motivo de sua euforia: o triunfo do Bahia ontem, contra o Fluminense, na Arena Fonte Nova.

"Vibrei bastante ontem e hoje vim animada para buscar uma promoção. Os preços daqui estão bons, viu?!", elogiou enquanto aguardava seu motorista buscá-la na Ferreira Costa.

O time de Enderson Moreira deixou Dona Semíramis realmente empolgada - tanto que acabou comprando umas coisinhas além de seu objetivo. Quando questionada pela reportagem do CORREIO, nem mesmo a consumidora lembrou de imediato o que tinha levado. Precisou checar a sacola para refrescar a memória: "ah, sim! Comprei uma mangueira de 30 metros", lembrou aos risos.

No mesmo banco onde Semíramis aguardava o motorista, estava outra senhora: Graça Costa, de 57 anos. Ela foi até a Ferreira Costa para comprar uma prateleira. Segundo Graça, o objetivo era adaptar a cozinha da mãe, que enfrenta um problema nos ombros e não pode se esticar muito para pegar os temperos. "Fica muito dolorido pra ela", contou.

Ao ouvir a colega de banco falando a idade, dona Graça afirmou que mesmo com singelos 57 anos, a mãe não gosta de fazê-la companhia. O motivo? "Ah, ela diz que eu tou barriada e vou queimar o filme", relata.

Fiscalização A euforia pela Black Friday é quase inevitável. Os vários cartazes e anúncios de promoção enlouquecem o consumidor. E em alguns casos, as lojas sequer estão oferecendo um desconto verdadeiro.

Para evitar que o consumidor seja lesado, a Diretoria de Ações de Proteção e Defesa do Consumidor (Codecon) montou uma operação que está atuando em todos os shoppings de Salvador, além do supermercado Extra da Paralela. Funciona assim: o órgão fez um levantamento de preço dos produtos mais procurados nessa Black Friday há 30 dias e hoje está nas lojas para checar se houve ou não os descontos anunciados.

No final da tarde desta sexta-feira (23), o órgão informou que, dos 23 estabelecimentos visitados durante o dia, quatro apresentaram irregularidades, dois foram notificados por ausência de informação de especificação do produto e outros dois foram autuados por praticaram publicidade enganosa.

Durante a manhã desta sexta-feira (23), os fiscais da Codecon flagraram irregularidades em alguns produtos nas Casas Bahia do Shopping da Bahia. Um modelo de geladeira e alguns celulares foram os vilões da vez. De acordo com a assessoria da rede varejista, a notificação foi porque os produtos estavam sem preços.

Segundo Alexandre Lopes, diretor da Codecon, as multas podem variar de 650 a 9,5 milhões de reais. O valor aplicado depende do porte da loja e o quanto o estabelecimento lucrou com a propaganda enganosa. O consumidor que presenciar qualquer tipo de irregularidade pode registrar a denúncia através do 156 - Canal Fala Salvador ou pelo aplicativo "Codecon Mobile".

Na Black Friday do ano passado, foram vistoriados 25 estabelecimentos. Nove foram autuados e estão respondendo a processo administrativo.

*Com supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro