Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Comerciante que decora sua rua há anos acredita que momento do país desestimulou torcedores
Nilson Marinho
Publicado em 16 de junho de 2018 às 14:58
- Atualizado há um ano
Quatro anos depois do vexame do 7 a 1, o povo brasileiro demorou para entrar no clima de Copa. Mas aqui estamos de novo, meios chochos, desacreditados ainda, embora o time seja promissor - fé no canarinho pistola. Mas, aos poucos, no comércio, os manequins já estão sendo postos do lado de fora, todos devidamente uniformizados com a camisa da seleção brasileira. As ruas também vão ganhando as cores da nossa bandeira, com meio-fios pintados e as bandeirolas que ornam os céus.
Na Rua Souza Uzel, conhecida como a Rua 13, no bairro da Federação, por exemplo, custou para os moradores se animarem para arrumá-la. A via sempre foi conhecida por, durante o torneio mundial, ostentar uma exuberante decoração. Este ano a coisa foi mais simples, mas fizeram para não passar em branco.
Se na Copa passada foram gastos mais de dois meses e quase R$ e mil para deixar a rua decorada, dessa vez, no entanto, só foram necessários R$ 650 e 14 dias para fixar as bandeirolas na rua. As pinturas neste ano não foram feitas, os organizadores esperam o primeiro jogo da seleção que acontece neste domingo para, quem sabe, ficarem mais um pouco animados.
Para o comerciante Ivo Vieria, 46 anos, é possível explicar as decorações "mornas" até agora. A Copa passada, afinal de contas, foi no Brasil. Mesmo com protestos antes da estreia do Mundial, o país não passava por um momento tão delicado na época, acredita."Este ano houve uma negatividade na política, isso se tornou um fator principal para o desânimo, querendo ou não, uma coisa liga a outra. Depois veio a decepção que tivemos com o Brasil na copa passada. A crise econômica também contribuiu muito", acredita o comerciante. Ivo é um dos moradores mais animados da Rua 13 - foi ele inclusive que bateu o martelo e decidiu que a via não deixaria de ser enfeitada. Em copas passadas, as reuniões para decidir sobre a decoração acontecia logo após o carnaval. Este ano demorou a engrenar, acontecendo só no final de abril.
Para custear toda a ornamentação, cada morador precisa contribuir com uma quantia em dinheiro, mas com tamanha indecisão ninguém tirou um vintém do bolso. Aí foi preciso o comerciante dar um prumo. Foi ele que sozinho bancou todo o material para a confecção das bandeirolas, não se esquecendo, é claro, de rachar a conta depois. Na Rua Direta do Uruguai, também há decoração verde e amarela (Foto: Marina Silva/CORREIO) Para ornamentar a via é preciso fazer uma verdadeira operação que funciona mais ou menos assim: os adultos financiam o projeto e as crianças, em troca de um agrado, um cachorro-quente com refrigente, varam a noite grapeando as bandeirolas nos barbantes.
Esse ano, o Ivo, assim com todos nós brasileiros, espera que a seleção faça bonito, quiça levante a taça em território russo. O que não pode acontecer, em hipotése alguma, é levar outro chocolate, porque aí acontece o que aconteceu na copa passada. "As pessoas ficaram tão decepcionadas que muitos saíram arrancando e acabando com toda a decoração. Eu até tentei salvar alguma coisa para usar esse ano, mas foi difícil, quem não ficou com raiva?", indaga o comerciante.No Boteco da Drica, no Engenho Velho de Brotas, a decoração já está pronta para receber os clientes que, no domingo, devem procurar o espaço para assistir ao jogo da seleção. A decoração modesta custou R$ 70 em malhas e papéis que escondem das paredes a pintura original do comércio.
Adriana Silva e o marido Ricelle Silva acreditam que, este ano, vai ser tudo diferente. Desde o desempenho da equipe às vendas no comércio. "Vamos fazer promoção vendendo o camarão mais barato para atrair os clientes", conta Ricelle.
*Com a supervisão da subeditora Carol Neves