De Sex Pistols a 007, Elizabeth II virou ícone pop mundial

Monarca morreu nesta quinta-feira (8)

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  • Doris Miranda

Publicado em 9 de setembro de 2022 às 06:15

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Depois de ter vivido quase um século, e reinado por 70 anos, não é difícil de entender porque Elizabeth II, que morreu ontem aos 96 anos, virou um ícone do imaginário  popular. Afinal, se o papa é pop por que não a rainha da Inglaterra?

Carisma e apelo - foi a monarca que mais tempo sustentou a coroa - ela tinha de sobra, mesmo sendo representante do maior império colonialista do mundo ocidental. A questão é que, apesar de figurar como símbolo  da  rígida  monarquia, ainda hoje pouco apegada às mudanças, Elizabeth Alexandra Mary, nascida em 21 de abril de 1926, no Castelo de Balmoral, Escócia, o mesmo onde deu o último suspiro, ela andou junto com a indústria cultural. 

Elizabeth II não fez a menor questão de ser vista dessa forma, mas soube se adequar aos tempos vindouros. Abriu os braços para novas tecnologias, como o rádio, num pronunciamento feito quando ainda era criança, e a televisão, da qual se utilizou para transmitir seu casamento com o príncipe Phillip, em 1947, e fazer seu primeiro discurso no Natal de 1952. 

Desde então, e talvez meio sem querer, a rainha se transformou numa figura extremamente midiática, apresentada em diversas linguagens artísticas. Na maioria das vezes, de forma gentil, como nas animações Minions e Corgi: Top Dog, ou na pop art de Andy Warhol, em 1985. Em outras, em versões mais realistas, como no filme A Rainha, com Helen Mirren, e na série The Crown, onde já foi interpretada por Claire Foy, Olivia Colman e Imelda Staunton. 

Início do movimento punk Em casos pontuais, foi retratada de um jeito muito agressivo, como em God Save the Queen, sátira do hino britânico que se transformou no primeiro hino do punk rock pela banda Sex Pistols. Mesmo quem nunca escutou a voz  de Johnny Rotten, berrando impropérios contra a rainha, percebe só de olhar para a capa do single, cujo design é do artista plástico Jamie Reid,  que o jogo ali é pesado. 

O ano era 1977 e os Pistols estavam começando a mudar definitivamente as coisas na cena underground de Londres. O empresário do quarteto, Malcolm McLaren, queria provocar a todo custo uma reação dos conterrâneos. Contratou uma balsa e colocou os caras para tocar ao vivo nas águas do Tâmisa, justamente na ocasião da festa do Jubileu de Prata (25 anos) do reinado de Elizabeth.

Quando Rotten acabou de cantar versos como “Deus salve a rainha / Ela não é um ser humano / Não há futuro nos sonhos da Inglaterra” a polícia já estava à espera na margem do rio. Foram presos, claro. Mas God Save the Queen  partiu a mil para o topo das paradas.

Quase uma década depois, em 1986, outra banda britânica, desta vez The Smiths, usou a música para criticar o conservadorismo da monarquia. Em The Queen is Dead, canção que titula o álbum homônimo, o grupo chama atenção para os escândalos que acontecem nos bastidores do palácio real, mas que são amplamente explorados nos tabloides. “Eu digo, Charles / Você não tem a vontade / De aparecer na capa do Daily Mail /Vestido com o véu de noiva da sua Mãe?”, diz a composição de Morrissey e Johnny Marr na abertura de um dos melhores discos da história do rock.

Ícone no cinema e na tevê Nenhuma outra linguagem artística explorou tanto e tão bem a imagem de Elizabeth II quanto o audiovisual. Inconfundível pelo sofisticado sotaque britânico, roupas de cores vibrantes, gestos comedidos e um sorriso sempre gentil, a rainha se tornou um personagem perfeito para o cinema e para a televisão. 

Foi apresentada à criançada como heroína coadjuvante ao lados dos Minions, pulou poças de lama com Peppa Pig. Desancou Homer Simpson com uma classe invejável por ter batido na carruagem real num dos muitos episódios em que apareceu na série de animação Os Simpsons. Ainda na seara do humor, ela também aparece em comédias como de Austin Powers e Corra que a Polícia vem Aí!.

A imagem de Sua Majestade, porém, nunca fez tanto sucesso como nas obras em que sua vida pessoal é supostamente trazida  à tona.  Embora  raramente tenha dado entrevistas ou liberado as intimidades para qualquer pessoa, a soberana do Reino Unido foi retratada em muitos filmes, peças de teatro e programas de televisão.

A interpretação mais digna de nota no cinema foi dada por  uma irretocável Helen Mirren em A Rainha (2006), filme de Stephen Frears, em que Elizabeth II precisa administrar a família diante do caos provocado pela morte de Lady Di, em 1997, e o início do trabalho do  novo primeiro-ministro Tony Blair.

Em 2016, a Netflix lançou a luxuosa série The Crown, que apresenta a rainha em três fases da vida, a jovem, a mãe e a anciã, como a deusa tríplice Hécate. Na primeira etapa, na pele de Claire Foy, é recém-chegada ao trono e precisa aprender a abafar os anseios pessoais em nome do bem comum. Depois, entra em cena Olivia Colman, completamente à vontade no trono, mas ainda caloura nos escândalos  domésticos, como o casamento mal-sucedido de Charles e Diana. Imelda Staunton traz Elizabeth na terceira idade, e deve ser com ela que a trama fará o elo de ligação com momento atual. 

A rainha também se prestou a momentos bem-humorados em que interpreta a si mesma. Um dos mais icônicos se deu em 2012, quando a Inglaterra sediou os Jogos Olímpicos e ela requisitou ninguém menos que o James Bond de Daniel Craig para fazer sua segurança até o Estádio de Wimbledon. Chique em todas as horas.

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Filmes e séries de ficção que tiveram Elizabeth II como personagem

 A Rainha, Stephen  Frears/2006  The Crown, série criada por Peter Morgan, Stephen Daldry/ 2016 – atual Núpcias Reais, Stanley Domen/1951  O Discurso do Rei, Tom Hooper/2010  Spencer, Pablo Larrain/2021  Playhouse Presents,  2012  Corgi: Top Dog,  Ben Stassen e Vincent Kesteloot/2019  Minions, Pierre Coffin, Kyle Balda/2015  Diana: Her True Story, Kevin Connor/1993   Príncipe William, Michael W. Watkins/2002  Charles and Diana: Unhappily Ever After, John Power/1992  O Romance Real de Charles e Diana, Peter Levin/1982 

Atrizes que já interpretaram a rainha

Freya Wilson,  em O Discurso do Rei (2010) Claire Foy, Olivia Colman e Imelda Staunton,  em The CrownMaggie Sullivun,  em Harry e Meghan: Um Amor Real (2018)Emma Thompson,  em Playhouse Presents (2012) Stella Gonet,  em  Spencer (2021)Sarah Gadon, em Uma Noite Fora do Palácio (2015)Jeannette Charles, no programa de TV Saturday Night Live Kristin Scott Thomas, na peça de teatro The Audience Helen Mirren, extraordiária como Elizabeth II no filme A Rainha, de Stephen Frears (divulgação) Músicas sobre Elizabeth II

Her Majesty, The BeatlesThe Queen, Robbie WilliamsGod Save the Queen, Sex PistolsQueen Elizabeth, Cheat CodesThe Queen is Dead, The SmithsDreaming of the Queen,The Pet Shop Boys Elizabeth My Dear, The Stone RosesRepeat, Manic Street PreachersOn Her Silver Jubilee, Leon Rosselson

Famosos que já receberam títulos da realeza

Pelé, Gilberto Freire, David e Victoria Beckham, Benedict Cumberbatch, Angelina Jolie, Tom Hardy, Keira Knightley, Eddie Redmayne, Kate Winslet, Anthony Hopkins, Adele, Liam Neeson, Helena Bonham Carter, Michael Cane, Paul McCartney, Patrick Stewart, Ian Mckellen, Elton John, Mick Jagger, Tom Jones, Sean Connery, Kenneth Branagh, Steven Spielberg, Bill Gates, Helen Mirren, Ben Kingsley, Julie Andrews, Bono, Maggie Smith e David Bowie.

Elizabeth II interpretando a si mesma

Happy and Glorious, de Danny Boyle/2012Ma’amalade Sandwich Your Majesty?,  2022Invictus Games Fighting Talk, 2016

Documentários sobe sobre a rainha

Elizabeth: A Rainha Por Trás da Coroa, GloboplayElizabeth aos 90, YoutubeElizabeth & Philip: Amor Real, GloboplayThe Royal House of Windsor, NetflixOs Windsors: Uma Família Real, Globoplay