De volta ao confuso mundo das redes sociais

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  • Kátia Borges

Publicado em 12 de janeiro de 2019 às 07:22

- Atualizado há um ano

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Estudiosos especulam que o diâmetro do Universo gire hoje em torno de uns 10 bilhões de quilômetros. Amanhã não se sabe, pois o Universo não cede ao tempo como o contamos, um dia após o outro. Tudo aquilo que contemplamos é anos-luz inalcançável. Ainda assim fazemos planos sobre ir a Marte (morar por lá, quem sabe?). Não sabemos muita coisa, essa é a verdade. Todos os anos, esperamos asteroides.

Enquanto os asteroides não chegam, delimitamos com ferocidade o espaço que habitamos. Já reparou como a apresentação nos perfis costuma entregar as pessoas? É como uma plaquinha que se coloca na porta de casa: “se for de paz pode entrar”. Nem sempre. Há quem não escreva nada por pura distração. Outros capricham numa citação “do pensador” ou mandam logo algo bem agressivo.

De volta ao confuso mundo das redes sociais, optei por uma frase de Cecília Meireles para me reapresentar. “Tenho fases como a Lua. Fases de andar escondida. Fases de vir para a rua”. Não sei o que pensam ou se leem. Mudo muito. Desde a época dos blogs. Troco fotos de capa e perfil quase diariamente. Fico entediada com o patrulhamento neurótico sobre as pessoas. Por lá, aviso aos bravos resistentes, nada mudou muito.

As discussões continuam monotemáticas e as pessoas divulgam exaustivamente tudo aquilo com que não concordam. As sandices da ministra da goiabeira, por exemplo. De vez em quando, criam grupos ou inventam temas sobre algo que incomoda. Todo mundo adota e sai reproduzindo a mesma sentença em suas fotos. Daí alguém lembra e pergunta: “quando faremos algo real a respeito?”. Logo esquecem.

Acompanho com certo enfado os debates sobre poesia, confesso. Geralmente, não vão além de uma guerra de egos disfarçada em senso crítico. Melhor reduzir o consumo. Há redes nas quais predominam fotos e vídeos. Mesmo já contaminadas por memes e mensagens de texto, estas ainda oferecem a contemplação saudável da vida dos outros. Ao menos estamos a salvo das polêmicas diárias sobre todo e qualquer assunto.

Ando circulando com parcimônia também pelos 140 caracteres. Embora repetitiva pra caramba, essa rede permite acesso direto às fontes de notícias em seus avanços e recuos. Ah, mas por que você voltou então? É que sou como todo mundo, embora siga as minhas próprias regras. Gosto de gente, de saber das coisas, tenho curiosidade. Não sou em nada diferente de quem reclama e segue nas redes apesar do barulho.

Faço o meu também. Frequentemente regulo. Paro um pouco para escutar em torno. Silencio. Meu incomodo não acontece em relação às cores das roupas, mas à discriminação aos gêneros. Não me afeta a zoeira em torno dos temas sérios, mas a impossibilidade de intervir seriamente. Penso em modos, mas apenas penso. Não sei distinguir no céu as várias constelações. É mais que o título de um poema de Cecília Meireles.

“Quando alguém diz que saber alguma coisa, fico perplexa: ou estará enganado ou é um farsante”, diz o poema. Mas a ignorância também tem sido um bom disfarce, inclusive para a alienação diante da dor dos outros. Por muito tempo achei que o certo seria estudar a fundo o Universo, entender a trajetória dos astros no espaço, os buracos negros, a vinda dos asteroides. Hoje entendo a necessidade de olhar para o lado.