De volta pra casa

Por Malu Fontes

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Publicado em 9 de julho de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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O roteiro está ficando batido demais, repetitivo demais, previsível demais. Tão repetitivo que ver a Seleção Brasileira, de novo, dando adeus à Copa do Mundo e ver adultos chorando por isso já passou a ter um quê de déjà-vu (eu já vi, mesmo sem ter visto). E como brasileiro não consegue lidar com fracasso nenhum sem achar um culpado para chamar de seu, Neymar é o da vez. Uma vez foi um mal-estar até hoje nunca explicado de Ronaldo. Em outra foi a vaidade de Roberto Carlos, que parou para ajeitar as meias antes de chutar a bola. N’outra, a infantilidade e a falta de inteligência emocional dos meninos brasileiros, esparramados no conforto da sala de estar da própria casa, sem saberem lidar com a clássica frieza germânica, atônitos no 7 a 1.

PATÉTICO – Agora, claro, desta vez, a culpa do nosso fracasso na Rússia  é toda do cabelo de miojo que o namorado de Bruna Marquezine e garoto propaganda de cuecas inventou para exibir na sua estreia na Copa. A culpa da derrota é dos dois cabeleireiros particulares levados a tiracolo por Neymar, de sua ostentação com os privilégios bancados pela CBF para ele e a família na Rússia, com direito a avião e hotéis diferentes para os parentes, pois o clã da estrela precisa de isolamento, claro. Para que, não se sabe, pois tiveram tudo o que pediram e mais um pouco e, mesmo assim, deu no que deu: chabu, de novo.   A coisa para o lado da maior estrela da seleção já não vinha bem antes da volta para casa com a derrota para os belgas. A revista Época, braço semanal impresso do Grupo Globo, que sempre espalhou tapete vermelho para Neymar, perdeu a paciência com o rapaz antes do jogo da derrota. Na sexta-feira levou para as bancas e entregou aos assinantes uma capa em que se estampava uma foto do jogador caído, com uma expressão de urro de dor no rosto, e lançou para os leitores uma pergunta tão sutil quanto um elefante cego solto numa loja de cristais: “Gênio sublime ou farsante patético?”.  LULA TAMBÉM – Como no jogo do fim do dia Neymar esteve longe de ser um gênio sublime e o Brasil perdeu e voltou para casa é fácil deduzir o que o torcedor escolheu como opções e respondeu para os seus botões. Triste, inconformado ou furioso, e tendo só essas duas opções dadas pela revista da Globo, e tendo em vista o nível de rebuliço que o futebol causa na emoção dos brasileiros, provavelmente o leitor da capa da Época até agora deve estar repetindo a proparoxítona sonora: pa-té-ti-co. Por que a publicação dos Marinho estimulou a esse nível a raiva contra o rapaz, um dia se saberá.

Mas, mesmo com o brasileiro sempre apostando todas as suas fichas no futebol e apesar de se estrepar porque a fantasia da vitória vem acabando em frustração, o menino Neymar tem é sorte, quando o marketing não vai bem a seu favor. Com a volta dos pupilos de Tite para a casa contra a vontade deles e do país, adivinha qual seria o assunto mais (mal) falado da imprensa a de ontem para cá?  RODA DO DIQUE - Pois é, mas aí vem um desembargador do Rio Grande do Sul, e, num plantão modorrento de final de semana, chuta o pau da barraca da chamada república de Curitiba, senta em frente ao seu personal computer e redige nada menos que o alvará de soltura de Lula. Se Neymar voltou para casa e um desembargador decidiu que Lula iria voltar também, pronto: mais da metade do fogo e da fumaça contra a seleção de Tite, seja nas ruas, na imprensa ou nas redes sociais, já se dissipou.

O combustível a ser gasto e queimado agora com retóricas, ódios, paixões e dissensos será a decisão do desembargador Rogério Favreto, à volta de Lula para casa ou sua permanência na cadeia. Diante da notícia “Lula está solto versus Lula continua preso’’, quem é mesmo Neymar na roda do Dique da imprensa nas próximas horas?