Debate na escola e políticas públicas são saídas contra a violência, diz pedagoga

Na última terça-feira (11), estudante foi baleado em quadra de escola na Bonocô

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  • Da Redação

Publicado em 13 de setembro de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO
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A violência da sociedade afeta diretamente a escola e os alunos. Na noite da última terça-feira (11), um estudante de 12 anos foi baleado na quadra de esportes utilizada por uma escola estadual e outra municipal, na Bonocô, em Salvador. De acordo com a professora de Pedagogia da FTC, que também leciona na rede pública, Admari Cajado, o fenômeno não é exclusivo para a violência. “Tudo o que acontece na sociedade, na verdade, afeta a escola”, avalia.

“O professor, às vezes, é o primeiro que percebe quando existe um contexto de violência muito séria na família, de desestruturação familiar, de falta de apoio desse núcleo primário. Os professores ficam no meio desse cenário. Nós procuramos sempre conversar com os adolescentes e crianças sobre isso. É preciso falar para resolver as coisas. A fala tem poder de exteriorizar e resolver conflitos”, defende.

A professora afirma que apenas a conversa e estrutura escolar não são suficientes, nesses casos. De acordo com ela, é preciso que o apoio “extrapole os muros da escola” para alcançar políticas públicas das secretarias municipais e estaduais e da própria Polícia Militar.  Aluno da Escola Municipal João Pedro dos Santos, na Bonocô, foi baleado em quadra de esportes no pátio (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) “A escola se reúne. Chamamos Conselho Tutelar, Organizações Não Governamentais (ONG), mas isso ainda é muito pouco diante do cenário social e econômico que nós vivemos. Nós estamos tentando formar pessoas com capitais sociais melhores. E a gente se depara com aqueles que perdem as esperanças e dizem que querem ter vida de bandido. Só com políticas públicas mais focadas no aspecto multidisciplinar a gente irá melhorar isso”, aposta.

A coordenadora do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB), Marilene Betros, afirma que a entidade cobra maior segurança nas escolas e participação “efetiva” dos órgãos estaduais e municipais. “A gente entende que é preciso criar mecanismo para debater segurança nas escolas”, declara.

“É inadmissível que uma escola não tenha segurança ou porteiro para permitir acesso de pessoas na escola. Sabemos que as dificuldades são muitas. O mundo mudou e isso requer mudanças e atitudes de práticas educacionais”, cobra.

Para ela, é necessário debater a “cultura da paz” dentro das unidades escolares. Ela ainda defendeu que haja uma educação dos policiais dentro das polícias: “É preciso preparar os policiais para o enfrentamento do jovem do século XXI. Nós exigimos esse debate. Estamos exigindo uma maior segurança nas escolas e fazendo com que jovens tratem desse tema como destaque”.

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Outros casos A violência nas escolas não é novidade em Salvador. Estudantes da escola pública - e até de particular - convivem com a insegurança fora e dentro dos muros das instituições. Há duas semanas, no dia 29 de agosto, um homem invadiu o Colégio Estadual Manoel Devoto, na Avenida Oswaldo Cruz, no Rio Vermelho. Durante sua ação, ele quebrou cadeiras da instituição. Em sua ação, ele passou pelos corredores do colégio quebrando diversas cadeiras, além de gritar pelo pátio, assustando alunos.

A Polícia Civil alegou que o homem sofre de distúrbios mentais e comportamentais. Familiares dele afirmaram à delegada Lúcia Jansen, da 7ª Delegacia (Rio Vermelho), onde o acontecimento foi registrado, que ele sofre de transtornos psíquicos. Por ser "inimputável", ou seja, não ter condições mentais de responder pelos próprios atos, o invasor não pôde ser autuado.

Há três semanas, no dia 22 de agosto, três estudantes foram assaltados no Colégio Estadual Thales de Azevedo, no bairro do Costa Azul. O caso aconteceu às 7h10, quando o segurança da escola saiu da portaria da escola para trocar de roupa. Três celulares foram roubados. O autor do crime utilizou uma faca. Na ocasião, a Secretária da Educação do Estado da Bahia (SEC) alegou que "o assalto ocorreu nas proximidades da unidade escolar".

Um mês antes, no dia 20 de julho, os estudantes do Colégio Estadual Professora Georgina Ramos Silva, na Boca do Rio, tiveram suas rotinas interrompidas por quatro homens armados que passaram atirando em frente a escola. O fato aconteceu momentos depois do início das aulas, no dia, às 8h. Era possível ver as marcas dos tiros em parte do muro e da fachada da escola. Professores chegaram a desmaiar no momento. As aulas foram suspensas. 

Em março de 2018, um estudante do 9º ano, de 17 anos, foi baleado na cabeça após sair do Colégio Estadual Getúlio Vargas - antigo Carneiro Ribeiro Filho -, na Ladeira da Soledade, em Salvador. Ele foi internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Geral do Estado (HGE). O adolescente passou por cirurgia para retirar a bala. De acordo com informações da família, o menino deixava a escola em direção à sua casa, no Santo Antônio. 

O crime aconteceu a cerca de 200 metros do portão principal do colégio, um dos maiores da região da Liberdade, segundo a Secretaria da Educação do Estado da Bahia. Mateus era aluno novo na unidade, ainda segundo a secretaria.