Decisões rápidas

Aprender a pilotar em alta velocidade ajuda na hora de controlar o carro de passeio em situações de risco

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  • Da Redação

Publicado em 28 de agosto de 2019 às 22:23

- Atualizado há um ano

. Crédito: RODRIGO RUIZ/HYUNDAI

O jornalismo automotivo estreita a relação entre o repórter e as máquinas de maneira visceral. Nesta última década à frente do AUTOS vivi experiências incríveis ao volante: guiei um Jeep que participou da Segunda Guerra Mundial, fui para a pista com um caminhão de corridas, atravessei a América do Sul a bordo de uma picape, percorri a Europa dirigindo uma van, acelerei um SUV nas areias do Deserto do Saara e cruzei um rio congelado na Islândia.

Foram inumeros lançamentos, testes em protótipos e milhares de quilômetros em quase todos os continentes em modelos recém-lançados. Tudo isso teve um único objetivo: entender os automóveis e traduzir aqui o comportamento deles para que o consumidor faça a sua melhor escolha.

É aí que entra o aperfeiçoamento da pilotagem. Nos últimos anos, participei de ralis e fiz alguns cursos de condução off-road e pista no Brasil e na Alemanha. Tive a chance de aprender com Ingo Hoffmann, 12 vezes campeão da Stock Car, e com Roberto Manzini, proprietário de um centro de pilotagem que já foi frequentado por pilotos como Cacá Bueno e Felipe Massa. O jornalista do CORREIO correu com o carro 10 (Foto: Rodrigo Ruiz/Hyundai) O aprimoramento da pilotagem não significa que você somente correrá mais. Mas por meio do aprendizado, um motorista irá tomar decisões mais rápidas e aprender a controlar melhor a máquina. Isso vai ser bem útil em uma corrida, mas também pode te ajudar muito quando o carro de passeio perde o contato com o piso em uma curva ou na pista molhada.

Este ano chegou a vez de colocar o aprendizado em prática. Mas não foi mais um teste. Foi uma prova, ou melhor, duas. A convite da Hyundai, aceitei o desafio de participar de uma rodada dupla da Copa HB20, a mais nova categoria do automobilismo nacional. A quarta etapa aconteceu no último final de semana em Santa Cruz do Sul, no interior do RS. Patrick Gonçalves disputou com o número 21 (Foto: William Inacio/Hyundai) Apesar de ter guiado carros de corrida, como um Renault Fluence do Campeonato Brasileiro de Marcas, eu nunca havia disputado uma prova de turismo. Então convidei Patrick Gonçalves para me acompanhar nesta empreitada. Patrick já correu em diversas categorias, como Stock Car e GT4, além de ter sido bicampeão do Mini Challenge no Brasil e campeão na Argentina.

O primeiro contato no autódromo gaúcho foi com a pista. Andamos pelo circuito de 3.531 metros de bicicleta para conhecer o traçado, que depois de uma grande reta, onde o HB20 ultrapassa os 180 km/h, tem setores bem seletivos, formado por curvas em decidas e subidas. Fiquei ansioso para acelerar.

Sem ar e direção Minha preparação prévia com o carro foi mínima. O primeiro contato foi no Salão do Automóvel de São Paulo, onde a nova categoria foi anunciada. Como faço em uma avaliação de um carro convencional, não li sobre o desempenho para não trazer conceitos de outras pessoas.

O mecânico apresentou o modelo, explicando que a única regulagem permitida seria a pressão dos pneus - mesmo assim com limites mínimos e máximos. O motor 1.6 litro original é preparado e ganha 21 cv de potência a mais, passando para 159 cv - na corrida é utilizado somente etanol. A direção perde a assistência hidráulica e o sistema de freios tem o hidrovácuo desligado. Saem os airbags, o ABS e os vidros são substituídos por acrílico. No lugar da placa, um número. Escolhi o 10 em alusão aos 10 anos do AUTOS. Só fica um banco, o do piloto. O cinto de segurança é de seis pontos (Foto: Antônio Meira Jr.) Chegou a hora de colocar o macacão, sapatilhas, luvas, balaclava, capacete e hans, um equipamento que tem como função evitar o efeito chicote no pescoço em caso de acidente. Entrei no carro, que só tem um único banco, e fui preso ao cinto de seis pontos. Esse tipo de cinto não oferece elasticidade, você fica com o tronco fixo. O banco é travado na posição do piloto e o volante pode ser destacado para facilitar o acesso.

A posição de pilotagem é baixa, o que oferece melhor contato do piloto com o automóvel. O freio de mão é desabilitado, para que o piloto não possa interferir no balanço entre os eixos. Para deixar a pilotagem mais complexa, o servofreio não é utilizado, é preciso pisar muito forte no pedal para reduzir a velocidade - é a mesma situação que um motorista encontra ao tentar parar um carro de passeio desligado. Os tempos de voltas são mostrados na tela digital (Guilherme Rosa/Hyndai) Sai para as primeiras voltas e a maior dificuldade foi para segurar a traseira do hatch nas curvas. Os pneus são radiais, como em automóveis convencionais. Eles oferecem uma aderência menor que os slicks, utilizados nos carros da Stock Car, por exemplo.

Mas à medida que a traseira escapava, eu aplicava o que aprendi nos cursos. Em alguns momentos, é preciso acelerar mais em vez de frear. Em algumas situações, uma saída de traseira, pisar no freio pode fazer com que o veículo gire. Neste caso, a aceleração é a melhor opção.

Foram muitas voltas para entender qual a melhor calibragem, assimilar as instruções de Patrick e escutar as dicas dos mecânicos e engenheiros, todos experientes em competições. Além disso, a leitura da telemetria foi fundamental. É possível acompanhar diversos parâmetros, como a pressão exercida no acelerador e ver qual a marcha ideal para cada setor do autódromo.

Para a primeira corrida tinha um único objetivo: terminar a prova. O grid da categoria é um dos maiores do automobilismo nacional: 28 carros alinharam no Autódromo Internacional de Santa Cruz do Sul. Depois de dias de treino com temperaturas abaixo dos 20° C, na hora da primeira corrida, a aferição na pista indicava 39° C. O HB20 perde todos os itens de conforto mas ganha proteções extras e equipamentos de competição (Foto: Antônio Meira Jr.) A pista mais quente melhora a aderência dos pneus, mas depois de algumas voltas o suor começava a escorrer do rosto e ir para os olhos. Contrastava com a boca seca de emoção. Foram voltas de respeito ao equipamento, de aprendizado e entendimento da máquina. Relembrei alguns conceitos de física e consegui ir melhorando o tempo.

A segunda corrida, no domingo, foi mais tranquila. A temperatura estava mais amena, mas com novas emoções. As arquibancadas estavam cheias e houve um desfile pela pistas, em conjunto com as outras duas categorias o Mercedes-Benz Challenge e a Copa Truck. 

No carro número 10, o motor foi trocado na noite de sábado depois que um dos mecânicos identificou um problema e o técnico constatou, após checar com o notebook. Com força extra e mais vivência terminei a segunda prova melhorando bastante meu tempo. 

O piloto vai preso ao banco e a única coisa que pode ser removida é o volante (Foto: Guilerme Rosa/Hyundai) ALUGUE E CORRA: quanto custa e como participar desta nova categoria

A gestão da Copa HB20 é feita pela H Racing Garage, que aluga os carros e fornece toda a estrutura, como transporte dos veículos, mecânicos e combustível. O piloto só precisa chegar ao autódromo com seu equipamento pessoal. O custo para correr as oito etapas duplas, ou 16 corridas, é de R$ 180 mil.

Daniel Kelemen, dirigente da categoria, explica que a cada etapa o piloto paga um seguro de R$ 1.800, que cobre danos de até R$ 6 mil. A partir deste valor as peças são repassadas pelo preço de custo, compradas pela H Racing Garage diretamente da Hyundai. Pegando as dicas do experiente Patrick Gonçalves (Foto: Guilherme Rosa/Hyundai) O executivo, que também é presidente da associação dos concessionários da marca coreana, a Abrahy, é um entusiasta do esporte a motor. Piloto amador, criou o conceito da Copa HB20, homologou a categoria com a Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) e aprovou com a Hyundai, que acompanha de perto tudo que acontece e está satisfeita com o resultado. “A Copa HB20 já se consolidou como um grande evento de aproximação do modelo HB20 com o público. As pessoas realmente se empolgam ao ver os carros em sua configuração mecânica muito próxima da original de rua disputando os ‘pegas’ emocionantes das provas e demonstrando a mais alta resistência”, comenta Angel Martinez, vice-presidente comercial da Hyundai Motor Brasil.

Até dois pilotos podem dividir o mesmo carro em um final de semana, o que reduz os custos. O ideal é que tenham o mesmo nível de experiência, pois, apesar de correrem juntos, são divididos em duas classes, Pro e Super. Patrick, por exemplo, que é profissional disputou na Pro enquanto corri na Super, que é para os menos experientes. Na primeira corrida terminei em 11º na Super, na prova de domingo passei para a décima colocação. Patrick ficou em 11º na classe Pro na primeira corrida e pulou para sexto na segunda. A telemetria mostra tudo que foi feito na pista (Foto: Antônio Meira Jr.) Na última etapa, a H Racing Garage contratou como conselheiro o pernambucano Beto Monteiro, bicampeão da Copa Truck. O piloto orienta os pilotos e ainda faz a equalização dos carros juntamente com Fabiano Cardoso, piloto que ajudou no desenvolvimento do carro e disputa o Campeonato Brasileiro de Turismo Nacional. 

A próxima etapa acontece em Cascavel, no Paraná, no primeiro final de semana de outubro. A prova poderá ser acompanhada ao vivo pelo Facebook ou pelo Band Sports. Mas se você gostou e está interessado poderá fazer uma degustação no Autódromo de Interlagos dia 5 de setembro. Por R$ 1 mil poderá andar por 20 minutos e ter as primeiras impressões sobre o carro. Para se inscrever basta acessar hyundai.com.br/copahb20 e preencher um formulário. O motor é o 1.6 aspirado com alguns ajustes (Foto: Antônio Meira Jr.) Se quiser correr o campeonato terá que ter uma habilitação especial, emitida pela CBA depois de ter feito um curso de pilotagem homologado pela entidade, como o dirigido por Roberto Manzini.

A experiência na Copa HB20 foi fantástica. Todo o processo é conduzido por pessoas experientes, preocupadas com o bem-estar dos clientes e focadas em fazer tudo com segurança.

O jornalista competiu a convite da Hyndai.