Depois da farra vem a ressaca e essa, sim, dá muita dor-de-cabeça

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  • Miro Palma

Publicado em 8 de agosto de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Nós, como bons mortais, sabemos que se gastarmos demais, não importa como, onde ou  por que, uma hora a conta será cobrada. E, muitas vezes, com juros, correção e todo o ônus do capitalismo selvagem. E se pra nós é assim, não seria diferente com as cidades que sediaram grandes eventos esportivos. É fácil não pensar nisso enquanto estamos inebriados pela torcida, pela alegria de medalhas, troféus e vitórias. Mas, depois da farra vem a ressaca e essa, sim, dá muita dor-de-cabeça.   Passados dois anos dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, a cidade deve pelo menos R$ 150 milhões a fornecedores, clientes e ex-funcionários que participaram do evento. Esse número vai ficar ainda mais robusto quando for divulgado publicamente o balanço financeiro de 2017, que passa por uma perícia contábil. Só um credor do evento, a multinacional francesa GL Events, que forneceu estruturas temporárias, está cobrando R$ 52 milhões. Valor que segue sendo reajustado com juros e correção mensal, já que o Comitê Organizador da Rio-2016 não dá nem sinal de que vai quitar a dívida.

E quando a conta não fecha, o dinheiro público entra em cena para amenizar a agonia. Como é o caso do Parque Olímpico do Rio, que custou R$ 2 bilhões – investimento privado e federal – para ser construído e segue sugando verbas públicas, pois não consegue se manter sozinho. O espaço, que gasta R$ 55 milhões com sua manutenção anual, conseguiu arrecadar apenas R$ 1,3 milhão com o aluguel de suas instalações em 2017. O resto, meu caro, veio do bolso de todos os contribuintes.  

O mesmo acontece com os estádios da Copa do Mundo de 2014. Foram gastos cerca de R$ 8 bilhões para construção e reforma das arenas. Desse número, R$ 5 bilhões saíram dos cofres públicos e, ainda hoje, alguns deles ainda dependem do nosso dinheiro para se manter. Tem estádio que virou escola, outro que adaptou repartições públicas nas instalações, tudo pra tentar aliviar o peso da despesa que cai no colo dos governos.

E ontem, meus colegas Mário Bittencourt e Gil Santos trouxeram no CORREIO outro ranking negativo desse tal legado dos eventos esportivos: o de cidades-sede da Copa do Mundo de 2014 com mais hotéis fechados nos últimos quatro anos. E adivinha quem tá em segundo lugar? A nossa Salvador. Foram 21 unidades fechadas depois do Mundial. Só perdemos para Belo Horizonte, com 23. O levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih Nacional) ainda mostrou que o Rio teve 13 hotéis fechados, além de três que pararam de funcionar para reformas que nunca foram concluídas. Em Porto Alegre, foram 16 hotéis e em Curitiba, três. Manaus teve quatro hotéis e Cuiabá, sete. Em Brasília, dois não chegaram nem a iniciar as operações.

Olhando para esse cenário, fica fácil entender por que países e cidades como Roma (Itália), Oslo (Noruega), Estocolmo (Suécia), Lviv (Ucrânia), Cracóvia (Polônia), Budapeste (Hungria), Chicago (Estados Unidos) e Colômbia desistiram de se candidatar para sediar um desses grandes eventos esportivos. E não é porque não vale a pena receber os eventos em si, e, sim, porque o modelo de negócio que as entidades que os  gerenciam – Comitê Olímpico Internacional e Fifa –  é abusivo. 

Basicamente, o que eles pedem é que a cidade ou o país aceite gastar fortunas para produzir um mês de jogos e disputas em troca de um legado de desperdício de dinheiro público e dívidas intermináveis. Enquanto esse for o acordo, mais e mais lugares vão abrir mão de Jogos Olímpicos, Copa do Mundo ou pior, mais e mais países e cidades vão se afundar em débitos como fizemos por aqui.