Depois de 69 anos, Seleção vai voltar a vestir camisa branca

Brasil estreia na Copa América diante da Bolívia nesta sexta, com uniforme em homenagem aos 100 anos do primeiro título

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  • Gabriel Rodrigues

Publicado em 14 de junho de 2019 às 08:56

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução Revista O Malho/ ARQUIVO CBF

Quando a Seleção Brasileira entrar em campo nesta sexta-feira (14), contra a Bolívia, na abertura da Copa América, às 21h30, talvez muitos torcedores tomem um susto e estranhem as cores usadas pelo time brasileiro no Morumbi, em São Paulo. 

Depois de 69 anos, a Seleção vai voltar a vestir camisa branca em uma competição oficial. A última vez que isso aconteceu foi na final da Copa do Mundo de 1950, quando o Brasil caiu por 2x1 diante do Uruguai, no Maracanã, no trauma que ficou conhecido como Maracanazo. Por causa da derrota, o uniforme branco foi aposentado e a Seleção adotou o amarelo.

Se você é um dos que só lembram da camisa branca na derrota no Mundial, saiba que ela também tem uma história vitoriosa. Há 100 anos, foi vestindo branco que o Brasil conquistou o seu primeiro título na história. E justamente a Copa América.  Philippe Coutinho posa com o uniforme que a Seleção vai estrear na Copa América (Foto: CBF/Divulgação) O torneio organizado no Rio de Janeiro era a terceira edição do campeonato que começou em 1916 e deveria ter sido disputado um ano antes, em 1918. Mas um surto de gripe espanhola no país provocou o adiamento.

Em 1919, o futebol no Brasil era bem diferente do que é hoje. O esporte ainda era amador e praticado como forma de lazer pelas elites. Realizar uma competição daquele porte era mais uma questão de força política do que esportiva. Mas isso mudaria ao fim daquele torneio. 

Como nos anos anteriores, o terceiro Campeonato Sul-Americano reuniu apenas quatro seleções: Brasil, Argentina, Uruguai e Chile. A fórmula era simples: todos contra todos e o maior pontuador era campeão. O Brasil estava longe de ser potência. Tanto que nas duas edições anteriores, a equipe ficou em terceiro lugar e viu o Uruguai levar o bicampeonato.

No dia 11 de junho, o Rio de Janeiro recebeu uma pomposa abertura. O palco escolhido para todos os jogos foi o estádio das Laranjeiras, então maior da América Latina com capacidade para 25 mil pessoas.

Logo no primeiro jogo, o Brasil mostrou que estava disposto a mudar sua imagem no futebol do continente. Com três gols de Arthur Friedenreich, a primeira grande estrela brasileira, o time que vestia camisas brancas goleou o Chile por 6x0. Apesar da goleada, o triunfo não era uma surpresa, já que nos dois últimos Sul-Americanos o Brasil havia ficado à frente dos rivais. O que chamou a atenção mesmo foi o que aconteceu uma semana depois.

No dia 18 de maio, a Seleção bateu a Argentina por 3x1. O resultado deixou o Brasil na frente dos hermanos na classificação. Além disso, credenciou a disputar o título com o Uruguai na terceira e última rodada.

A iminência de vencer o seu primeiro campeonato animou a torcida, que compareceu em massa ao duelo nas Laranjeiras. A alegria quase foi por água abaixo quando a Celeste abriu 2x0 com apenas 18 minutos, gols de Gradín e Scarone, mas o Brasil empatou com dois gols de Neco, atacante do Corinthians. O resultado deixou os dois times empatados com cinco pontos cada. Como naquela época não havia critérios de desempate, o jeito foi realizar um jogo extra. 

O jogo mais longo da história A nova decisão entre brasileiros e uruguaios foi marcada para o dia 29 de maio. Com boa parte da população interessada na peleja, o governo do Rio de Janeiro decretou ponto facultativo. Comércio e bancos não abriram, permitindo que seus funcionários fossem às Laranjeiras. 

Jornais da época relatam que as pessoas começaram a chegar no estádio às 9h. Detalhe: o duelo estava marcado para as 14h. Apesar de comportar 25 mil pessoas, o público oficial registra 27,5 mil torcedores. E ainda teve gente que não conseguiu entrar e deu um jeitinho de ver o jogo de alguma árvore ou muro.

Assim como no primeiro encontro, a partida foi equilibrada e no tempo normal terminou empatada por 0x0. Veio a prorrogação e novo empate sem gols. A solução foi fazer mais uma prorrogação de 30 minutos. 

Os jogadores estavam exaustos, mas aos 3 minutos da segunda prorrogação, Neco fez jogada na direita, cruzou para Heitor, que bateu forte, e o goleiro Saporiti defendeu. No rebote, a bola sobrou caprichosamente nos pés de Friedenreich, que fuzilou as redes uruguaias e garantiu o triunfo por 1x0.

Sem “Laranjazo”, o gol foi o suficiente para o Brasil segurar a vitória e, de branco e tudo, conquistar o primeiro título da sua história.